Acontecem cousas bem chocantes (mais no sentido português de ferintes que no galego- RAG de surpreendentes). Veredes, após sete anos da aprobaçom da lei Paz-Andrade para o achegamento ao mundo da lusofonia abraia que figesse mais polo desenvolvimento dessa lei a marca branca dalgum supermercado do que o Parlamento galego, concelhos, sindicatos e outras instituiçons. E nom precisamente esse supermercado que fachendeia de viver como galegos. A marca branca daqueloutro supermercado aforrará custos identificando as mercadorias em duas línguas, o castelhano e o português. De resultas, por umha cambadela do mercado, muitos galegos recuperárom a palavra luva frente ao castelhanismo guante que ainda assim vai ganhando com espaço. O supermercado sabe que aos galegos vai-nos vender o mesminho ainda que nom nos fale na nossa lingua, nom assim aos portugueses. E, de resultas, nós percatamo-nos do mal que falamos a nossa própria língua. Som cousas!.

Porém, nom devemos desbotar esta cojuntura para melhorar o nosso nível lingüístico. Assim descobrím eu que borracha é a ficus elastica, o que nós chamamos goma por interferencia do castelhano e nom tem nada a ver com bébeda nem com aquelas laranjas borrachas polas que rifávamos quando nenos. Também aprendim que flocos som os do milho além das folerpas de neve e os farrapos de gaita.

E falando de gaitas, a minha primeira lembrança de algo galego foi umha pequena gaita feitío souvenir que meus pais penduraram no zaguám da velha casa de Xoane sendo eu mui nena. Eu nom sabía que tínhamos língua própria pois quando nascim onde ia que nos fora expropriada. Meus pais só a empregavam de jeito emocional, quando contavam certas cousas ou quando berravam. Daquela eu nom sabía que era um idioma, o que teria de ser meu, mais sentia que as cousas que mais amavam meus pais tinham essoutra pronuncia. Quando dizia umha parvada meu pai chamava-me panocha ou pinocha. Cando fazíamos umha trasnada, minha nai dicía, por ex., que cativos, no hago obra de ellos. Porque minha nai era vilega, da Real Villa de Neda no entanto meu pai era aldeám, de Paços.

Eu conhecím o galego falado por lho escuitar aos velhos e a alguns nenos que vinham a Ferrol desde as aldeias e aos que ainda nos meus tempos alcumava-nos de pailáns. O galego escrito conhecim-no através da poesia do Rexurdimento. Curros foi o primeiro pois meu pai adoitava recitar de memoria bocados de poemas mormente do anticlerical celanovês. De súbito, vindo a conto ou nom, declamava Leis hai, din os ricos, que os probes protexen. Que leis nim que raios, Deus dixo entre dentes. Se che outra vim nunca, que o demo me leve!. Eu devecía por essas expressons. Na adolescência foi meu irmao maior quem mercara livros galegos. Así conhecim a Rosalía, Pondal, Castelao, Pedrayo e tantos outros. Ensaios e novelas que me figérom reparar em que o galego era umha lingua de seu nom umha deturpaçom do castelám. Umha língua perseguida e aldrajada polos próprios galegos. Nom havía internet mais tínhamos aquela livraria pequecha, quase clandestina, das duas irmás, Delta, se a memoria nom marra. Aquelas livreiras ferrolás figérom mais polo galego do que qualquer equipa de normalizaçom lingüística.

Hoje aprender galego é bem doado. Isso si, um galego pobre, castelhanizado. Nunca tam capacitados estivérom os estudantes mais nunca tam pouco se falou. E como se pode ter competência numha língua esmorecente?. Pode que só viajando a certas aldeias relictos ou a Portugal, Brasil, Cabo Verde… mais para isso há que ter algum elo cos devanceiros, coa nossa história, um pouco de dignidade. O esforço por aprender quem somos, por descobrir a nossa identidade tem mais vencelho co manhá que co passado, contra o que acreditam tantos progressistas desleigados.

Porque entrementres lhe demos as costas à nossa lingua, e mália ter galegos morrinhentos em Londres, poderemos fachendear de plurilíngües, de dominar o castelhano, inglés, chinés ou esperanto sem nos dar conta de sermos dominados, como inermes kodokushis, esses mortos no isolamento que só se encontram, após longo tempo, porque nom pagam os seus tributos, tenhem as caixas dos correios atoadas de publicidade ou ficam coas luzes acesas a pleno sol sem se amolar polo calote do oligopólio elétrico. Uns ninguém que vam para nengures.