Esta segunda feira, 18 de Outubro, começou na Audiência Nacional espanhola, Sam Fernando de Henares (Madrid), um novo juízo contra parte do movimento social e independentista galego em que as 12 pessoas detidas, no que dérom em chamar a “Operaçom Jaro”, enfrentam-se até a 102 anos de cadeia por mor da sua solidariedade.

Polo que nesta entrevista teremos o prazer de falarmos coa investigadora Helena Domínguez; mulher arousá que obtivo umha “cum laude” pola sua tese de doutoramento sobre o tratamento do caso de Resistência Galega na prensa (https://minerva.usc.es/xmlui/handle/10347/13982) adverte: “Quem vai querer escuitar as demandas dum grupo terrorista? Ninguém! Por isso é mui importante a utilizaçom da linguagem e a forma em que se nomeiam nos meios de comunicaçom os movimentos sociais ativistas porque a maioria da populaçom construirá a sua opinióm desse movimento coas informaçons que difundem os meios dominantes.”. 

Que papel jogam os meios massivos nos conflitos políticos?

Quando retransmitem e difundem um conflito político, os meios de comunicaçom nom som meros observadores passivos do que está acontecendo. Os meios, coa sua atividade, interferem no conflito e dam-lhe forma: enquadra-no num determinado marco ideológico e temático, dam-lhe voz a umhas fontes e silenciam outras e proponhem umha interpretaçom e valoraçom do conflito. Assim que nom devemos perder de vista que o relato mediático dum conflito sempre é interessado e, ademais, está sometido a múltiplas pressons.

Quando num conflito intervém algum grupo ou movimento social etiquetado como “terrorista” ou mesmo “independentista radical”, os meios de comunicaçom dominantes adoitam alinhar-se co governo e coa versom oficial e institucional dos feitos. O labor jornalístico de contrastar as fontes relaxa-se e impom-se umha única versom do conflito, a que proporciona o próprio governo, a través dos seus representantes políticos, das forças de seguridade ou das agências de noticias. Num cenário de “luita anti-terrorista” produz-se umha polarizaçom entre bons e maus, democratas e violentos, num processo em que o movimento radical, impossibilitado para oferecer os seus argumentos, encarna todos os males frente ao aparelho do Estado que se apresenta como garante da paz e da ordem. Neste contexto simplificado e polarizado, os meios de comunicaçom som um instrumento mais das políticas antiterroristas.

Dis que estes meios atuam coma alto-falantes do Estado, sem apenas contrastar a informaçom, embora muitas destas operaçons venhem feitas desde o que agora chamam as “cloacas do Estado”. Quais som as estratégias de comunicaçom que empregam estes meios?

Umha das estratégias mais efetivas às que recorre o estado para desacreditar e desativar os seus inimigos é precisamente apresenta-los como “terroristas”. Quem vai querer escuitar as demandas dum grupo terrorista? Ninguém! Por isso é mui importante a utilizaçom da linguagem e a forma na que se nomeiam nos meios de comunicaçom os movimentos sociais ativistas porque a maioria da populaçom construirá a sua opinióm desse movimento coas informaçons que difundam os meios dominantes.

Outra estratégia, que já mencionei, é a polarizaçom, a reduçom da complexidade a um cenário de bons e maus em que o Estado se apresenta como o único contendente legítimo. E depois há muitas outras estratégias a nível discursivo, como a exageraçom da perigosidade para criar um clima de medo, a criaçom de analogias perversas, a desumanizaçom dos ativistas e mesmo a criaçom de noticias falsas.

Existe algumha dica pra detectar-mos este tipo de novas? Ou, há algumha maneira de combatermos essas estratégias sem meios massivos?

Eu, pessoalmente, desconfio de qualquer notícia que nos apresenta algum grupo ou movimento como “terrorista”. É um termo tam conotado e tam submetido a manipulaçons, que qualquer informaçom que venha “empaquetada” numha estratégia de luita antiterrorista deixa de resultar fiável.

Combater a maquinária de propaganda oficial é complicado sem meios de comunicaçom alternativos fortes, mas nom é impossível. Há que utilizar todas as canles de comunicaçom ao nosso dispor para refletir as versons de todas as partes implicadas no conflito e mesmo se podem utilizar as fendas dos meios dominantes, que também as há, para questionar os relatos oficiais desde os próprios meios oficialistas.

Acreditas que com esta forma de operar o que procuram é criminalizar umha ideia ou umha forma de militância associando-a ao imaginário da violência ou do terrorismo?

Está estudado que é assim. Quando estivo em auge mediático Resistência Galega, o fenómeno foi aproveitado polas forças políticas da direita para tentar desacreditar o movimento nacionalista galego. O que figerom os políticos do Partido Popular e os seus meios afins foi deitar umha sombra de suspeita sobre os partidos nacionalistas, como se o feito de que nom se posicionassem nos termos que eles queriam os convertesse em criminais.

O movimento independentista, em particular, foi historicamente menosprezado polos meios de comunicaçom dominantes e umha forma de desativa-lo foi construir umha caricatura violenta que nom representa a criatividade e o ativismo cultural e político que tem despregado o movimento.

Que ideia tes sobre a Operaçom Jaro? Poderia enquadrar-se dentro desse marco repressivo?

A Operaçom Jaro representa a última arquejada do ciclo repressivo inaugurado com Resistência Galega. Estamos perante umha típica estratégia de extenssom do terrorismo, que pretende varrer as dissidências políticas apresentando-as como terroristas. É mui prejudicial para as pessoas implicadas porque seram julgadas coa legislaçom antiterrorista, que permite que os seus direitos se vejam seriamente minguados.

Quem tenha interesse em afundar na apariçom de Resistência Galega e no tratamento que figerom os meios de comunicaçom, recomendo-lhe que consulte o meu libro A construción do conflito mediático, que publicará Axóuxere Editora nas vindouras semanas.

Achas que existiu algum intre no que o independentismo tivo maior presença nos meios, cum discurso normalizado e nom vinculado ao terrorismo? De nom ser assim, por que nom se lhe deu esse espaço para difundir as suas ideias na opiniom pública galega?

Nem na prensa galega dominante nem na canle de radio-televisom pública existiu nunca um discurso normalizado vinculado ao independentismo. No melhor dos casos, existe um silenciamento da atividade do movimento.

No caso da prensa diária galega é facilmente explicável pola súa estrutura. A indústria dos meios impressos assentou-se sobre um modelo de empresa familiar, com cabeceiras centenárias que atingírom umha forte implantaçom no seu âmbito geográfico próximo e que se alinhárom co centralismo espanhol. Historicamente, a imprensa de Galiza combateu o galeguismo, o nacionalismo e também o independentismo. É que nem sequer utilizam a língua própria da Galiza!

E a rádio e a televisom pública de Galiza estivérom em quase toda a sua existência controladas polo Partido Popular, umha força que repúdia o independentismo.

O que está a acontecer na Galiza é umha estratégia nova ou, pola contra, é umha constante na construçom do discurso espanholista?

Todo é velho, todo é máis do mesmo. O que está a acontecer em Galiza co movimento independentista, e coa Operaçom Jaro em particular, é umha herança de 40 anos de conflito Vasco e luita anti-terrorista do Estado.

Criando estes bodes expiatórios, o que se tenta é agitar o medo interno para, como dí Josep Alfons Arnau, fusionar à populaçom frente a um “inimigo” e amais desviarem a possível reaçom que despertaria o mal-estar social?

Concordo com essa ideia que, ademais, está estendida na literatura académica. A ameaça terrorista é utilizada polos governos estabelecidos para aumentar a coesom da sociedade e a sua legitimidade. Ao contrário do que poda parecer, o terrorismo nom pom em perigo nem a democracia nem os governos, senom que costumam sair fortalecidos do conflito.