Dia 6 de outubro. Faltam treze para o começo doutro ataque contra o independentismo (galego) disfarçado de processo judicial. Galego entre parênteses porque o estado espanhol não bate só em nós. A sua é uma contínua e desesperada luta na defesa do seu projeto de Espanha unida. Povos como o catalão, basco e galego, somos alvo permanente de todo o tipo de métodos para atingir esse objetivo. 


Que não cuidam as aparências é evidente: Até oito vezes foi condenado o estado espanhol por não respeitar os direitos humanos. Sentenças condenatórias por tortura de parte do TEDH de Estrasburgo, erradicação de presidentes eleitos democraticamente na Catalunha, quase sete anos de prisão para Arnaldo Otegui, outros e outras num juízo declarado nulo na Europa são apenas alguns exemplos.


No juízo de 19, 20 e 21 de outubro, a crueldade e ausência de escrúpulos é, se calhar, das maiores que se tenham dado nos últimos tempos. 
A defesa teve de recusar ao magistrado porque a Fiscalia vem de introduzir na causa o sumário, os peritos e as periciais dum outro processo que ampararam a tese de que na Galiza operava uma “organização terrorista”. Esse sumário foi sentenciado pelo mesmo juiz que julgará aos nossos e às nossas compatriotas.


Madrid conta, neste momento, com dez cidades confinadas e entre elas Torrejón de Ardoz que linda com San Fernando de Henares onde se acha a sede da Audiência Nacional que lhes tocou. Viver lá três dias é colocar em risco a saúde não só das 12 pessoas julgadas. É colocar em risco a saúde de familiares e amizades que contactarão com eles à sua volta. Lá terão de se deslocar também Guardas Civis, peritos, agentes do CNI… que suponho estarão também preocupados com a situação e a sua estadia em Madrid.


Estamos ante um julgamento realmente atípico pela combinação destes dois fatores. Um, lamentavelmente habitual: o do “tudo vale” para combater o independentismo. Juízo político no qual procuram castigar e até ilegalizar uma força cuja atividade era pública e exclusivamente política. O outro, uma pandemia que leva a confinar e limitar movimentos mas que, até hoje, não é motivo suficiente para adiar o juízo e coloca a independentistas e a membros de corpos repressivos às portas dum foco de contágios evidente.


Se a gravidade de colocar doze compatriotas ante a possibilidade de entrar em prisão em base a acusações que dariam para sketch humorístico fosse insuficiente, somamos a irresponsabilidade de trazer a perto de cem pessoas para o centro dum dos meirandes focos de contágio do estado espanhol. Se o anterior parecesse pouco, somemos o precedente que sentaria a ilegalização de CAUSA GALIZA e dissolução de CEIVAR de cara à futura constituição de forças independentistas que poderiam ser facilmente acusadas de continuadoras das anteriores.


Por todo o anterior é necessária uma solidariedade ativa e comprometida por parte de toda pessoa que se considere democrata. São de agradecer as linhas escritas que chamam a solidariedade, mas estamos ante uma afrenta de tal calibre que faz necessária uma participação mais ativa, o apelo aos teus companheiros e companheiras de associação a se implicar, procurar apoios, chamar a assistir assembleias abertas informativas, facilitar que tenham lugar.


Há situações como a atual nas quais um povo oprimido ou, no mínimo, a sua parte mais ciente de o ser, deve mostrar o orgulho, erguer a cabeça e os punhos, e converter a raiva derivada deste infame atropelo em solidariedade ativa e real. Para além da verdade ideal de cada pessoa ou grupo está a verdade real e material ante a qual coloca Espanha aos nossos e às nossas doze em 19, 20 e 21 de outubro.


Avante com a solidariedade! 


Abraám Alonso Pinheiro, membro de recente incorporação a Causa Galiza