Pablo emigrou há quase duas décadas a Euskal Herria, onde pujo o seu compromisso solidário em favor de várias causas, como a comunicaçom e o software livres. Apaixonado das novas tecnologias e do seu uso emancipador, reflecte nesta conversa com o Galiza Livre sobre as possibilidades da soberania digital e a construçom de redes livres de bairro como acompanhamento de outras luitas.

Começamos polo princípio. Como e quando decides ou tens que emigrar a Euskal Herria?

Emigro a EH há 19 anos já que namorei dumha rapariga daqui. Bom, namoramos… Depois de um tempo indo e vindo pois alô me fum!  Dezanove anos depois temos dous pícaros, filhos da terra coma diria o compañeiro Xan. Há mais de um ano e meio que nos separamos a minha ex-parelha e mais eu…Bom, o amor mudou cara a amizade, mas continuamos a viver aqui, no mesmo barrio de Gaztaño.

Desde entom em que projectos te envolves?

Gaztaño e a Zintzilik Irratia som a dia de hoje os projectos que me ocupam, e dentro de Gaztaño já mais concretamente o projecto de redes livres que temos. Participei e participo doutros colectivos de um jeito mais pontual ou para cousas en concreto e segundo as épocas e o tempo disponível que a dia de hoje é-che algo escasso… Por isso mantenho a presença no Fato Cultural Daniel Castelao de Trintxerpe, levo familiares às visitas umha vez ao ano, Zintzilik Irratia e Gaztaño.

Fala-nos entom desses projectos que che ocupam principalmente.

   Gaztaño e a Zintzi som os colectivos onde praticamente comecei a participar desde que cheguei ao Bairro. Na rádio, que o passado ano fizo 35 anos, levamos emitindo desde o 2005 o Likor Kafe, programa em galego que surgiu da mao de Xan Mourinho e mais eu. A dia de hoje também o conformam Ana, Marta, Oihana e Paulo.

   O bairro, Gaztaño, a Republika independente e insubmissa de Gaztaño (Gaztañoko Errepublika independente ta intsumitua) é fundamental para entender como surgiu a iniciativa de fazer uvha rede livre. O bairro funciona de maneira assembleária baixo os princípios de autonomia, indepêndencia e autogestom. É algo que se herdou dxs “velhxs” e que seguimos mantendo os que continuamos. O bom é que ainda que estejamos uns quantos no “frente” sabemos que podemos contar com o resto da gente para levar adiante qualquer ideia ou projecto. Aqui há quinze anos, quando ainda ninguém no povo o fazia, começamos a pôr os nossos pontos de compostagem próprios e autogeriamos o azeite usado dxs vizinhxs do bairro. Conseguimos fazer trocar o plano geral de ordenaçom urbana e mobilizar o bairro. Nós fazemos os nossos própios recebementos aos presos do bairro , gestionamos as nossas próprias festas sem nengum tipo de ajuda mais que a que nos presta a gente, temos o nosso local próprio no que damos palestras, obradoiros e cursos… Fazemos gestons para os pícaros e para os velhxs do bairro…Gestionamos os conflitos que podam surgir com a mocidade, fazemos o Olentzero, a noite dos gamusinos, jornadas de solidariedade com os presos do bairro, o magusto-gaztain erre…e mais cousas ainda. Un bairro activo e independente. Construimos desde o “local” e desde o mais cercano tentando “educar” a gente, ensinando um outro jeito de fazer as cousas e dizer-lhes que é possível…A sorte é que coincidemos neste bairro várias pessoas com os mesmos ideais, anceios e ganhas por fazer por riba de siglas políticas…

De onde vém o teu interesse polo software livre e a soberania digital?

O meu interesse polo software livre surge do mesmo jeito que quando quigem aprender a fazer empada e nom depender de terceiros para dar-me o gosto de tam rico prazer. Alô polo 2006 presenteárom-me um computador com um windows98 que nom funcionava bem e na rádio havia dous companheiros que controlavam o mundo do linux e aconselhárom-me instalar o Ubuntu, que fazia pouco tempo acabava de sair. Instalei-no e ainda que depois me passei a Debian, já nom uso outro software que nom seja livre, ou polo menos tento-o: com a apariçom dos smartphones e o mundo Android é algo que se me escapa e tenho que tragar com aplicaçons preinstaladas que nom podo quitar ou desabilitar. Volvendo ao de antes, poderiamos pensar que o software livre nom é o mesmo que umha empada: tu nom o fas nem o programas, tu instalas algo que já vém feito. Entom quê tipo de “soberania” ou empoderamento che proporciona algo que tu nom “cozinhas”? Bom, tu da empada nom plantas as cebolas, nem os pementos nem o trigo nem vas pescar o peixe…Dam-che os ingredientes e tu cozinha-los com umha receita que a comunidade che proporciona. O software privado é a empada que compras na padaria no melhor dos casos…   A empada que fas na casa com ingredientes (paquetes de software livre ou distros) baixo a receita familiar ou da comunidade (wikis, foros…) é o software livre.

Imagens da posta em marcha da Internet comunitária. Pablo Carral

    E voltamos ao de sempre nesta vida: se ser un sujeito passivo ou activo, se simplesmente consumir ou ser conscientes do que consumimos, se ser un actor passivo ou ser activo na medida do possível…Hai muitas soberanias que conquistar, nem só a tecnológica, nem a alimentária, nem sequer a política. A mais importante talvez seja a nossa propia soberania como indivíduos, mas isto complica-se muito quando os modelos educativos e sociais nos empurram a ser simples espectadores das nossas próprias vidas.

Aqui na Galiza parece que vivemos horas baixas neste eido logo da desapariçom de vários espaços que trabalhavam nessas coordenadas. Como está a situaçom ali?

Nó aqui fomos dos primeiros em EH em ter umha rede livre funcionando. Baseiamo-nos no projecto catalám de gufi.net, ainda que fai anos tomamos o nosso próprio rumo e fizemo-nos autonómos sendo nós próprios operadora. No último ano parece que se anda a mover algo a cousa por aquí, ainda que isso nom quer dizer que nom houvesse já gente trabalhando até o de agora. A minha sensaçom é que estamos todxs escagalhados e nom hai algo que junte a gente que controla do tema para conformar un movimento con força, com jeito para fazer frente ao encarceramento tecnológico que sofremos. Penso que na Galiza acontece o mesmo…hai muita gente que controla ou sabe do tema mas falta um movimento ou vários que fagam converger essa força. Sendo nós os primeiros em montar umha rede onde estávamos umhas 20 famílias tentando ajudar para pôr em marcha o projecto de EHguifi, a nossa força fazia que outros tivéssem medo de nós e do nosso modelo mais comunitário, mais de “auzolan” que de empresa…e havia gente que queria montar empresa. Sabemos e somos conscientes que num projecto assi fam falta “empresas” ou autônomos que instalem quando os potenciais “clientes” dumha rede livre nom se querem subir a um telhado ou configurar os aparelhos. E legítimo ganhar quartos criando rede e construindo soberania, mas nom estamos de acordo.

Umha das antenas do projecto. Pablo Carral.

A dia de hoje do resto está tomando bastante força umha comunidade no âmbito da educaçom que promove o uso do software livre e busca alternativas ao uso do omnipresente de Google e Microsoft nas escolas. Também no âmbito da contrainformaçom estám aparecendo canles e movimentos baseiados nas experiências dos Países Cataláns, mas ainda nom hai essa força.

Conta-nos o vosso projecto para ser autosuficientes para ter internet e navegar? Cres que de extender-se esta ideia seriamos mais livres das dependências que nos atam às grandes tecnologicas?

Chamamos a gente de guifi.net em Catalunha e veu umha rapariga a ensinar-nos a configurar antenas e o jeito de construir umha rede. Depois como sempre, organizamos um “auzolan” (trabalho comunitário) e dividimos os trabalhos em grupos…uns colocavam antenas, outros routeres, outros configurávamos… Participou e participa gente de todas as idades e conhecimentos. O talde de mulheres já maiores que formamos para que fôram medindo coberturas de wifi polo bairro adiante com um portátil e um router foi umha experiência mui interessante…Esta experiência serviu para que a gente se achegasse ao software livre uns cantos vizinhos do Windows para Debian. Também conseguimos formar umha especie de grupo de gente interessada em cacharrear, que é a que a dia de hoje leva o mantenimento da Rede e servidores.

  Pero como funciona? Nós contratamos unha conta de Internet a qualquer companhia comercial e a travês de um sinal “wifi” situado num punto estratégico, o mais alto do lugar, fazemos que este sinal chegue ao resto de usuárias. Como se de um sinal FM se tratasse. E dizer, desde o router da companhia telefónica botamos um cable à umha antena das nossas que é umha das antenas principais e essa antena espalha o sinal num rádio de x kms e os que estejan nesse perímetro e tenham instalada nos telhados das suas casas outra antena poderám receber esse sinal e baixá-lo atravês de um cable a um swicht (repartidor) e de ai aos computadores ou routeres de cada vivenda.

Essa antena pode dar serviço até a umhas 60 vivendas, polo que umha instalaçom tipo en auzolan, pode ter un custo de uns 150€ entre antena, cable e os routers ou swicht necesarios. Esses 150€ estamos a falar que do custo que teria que soportar cada grupo de vizinhos.

E pode este jeito comunitário de gerar conexom a Internet chegar ao rural?

O rural aquí também sofre carências em infraestruturas, nom com a gravidade galega mas nom fai falta ir mui longe para encontrar baserris em Oiartzun sem possibilidades de conexom atravê das companhis comerciais. O rural é um dos pontos onde projectos deste tipo facilitam a chegada de Internet, mas eu nom esqueceria que nom se trata só de fazer chegar “internet” ao rural a um preço asequível. Devemos fazer ver que podemos construir as nossas próprias canles de comunicaçom. E isso é válido tanto para o rural como para as cidades.

  Projectos deste tipo ajudam a avançar na ideia de soberania. Nom penso que isto mude a correlaçom de forças com as grandes tecnológicas e tampouco entro em se seria bom o desaparecimento das empresas tecnológicas, non sei. O que si penso é que estes caminhos de soberania, de empoderamento devem servir para fazer consciente ao individuo, a pessoa, que existem outras maneiras de fazer as cousas. Que nom fai falta ser um Bill Gates para ter um pequeno servidor, nem um hacker para ter umha paxina web, que nom hai que depender de ninguém nem de nada e que a liberdade individual e colectiva ganha-se construindo-a.

Que opiniom che merece o grande avanço da tecnologia nas nossas vidas a raiz do confinamento? Estamos a ganhar ou perder autonomia com o teletrabalho? Desde os movimentos sociais que opçons podemos dar?

Antes do confinamento já tinhamos a mesma tecnologia, só que a raíz desse confinamento essa “tecnologia” para além de a usar no tempo de ócio, começamos a usá-la para o trabalho e o ámbito escolar. Eu penso que o teletrabalho nom deveria significar perda de autonomia mas todo o contrário. Outra cousa é o pouco avançado que estamos na Galiza, EH e no conjunto do estado espanhol nesse sentido comparado com outros paises europeus. Já há uns dez anos, um moço de Berlim comentava-me a flexibilidade horária que tinha no seu trabalho, baseiada na confiança- responsabilidade por ambas partes, empresa e trabalhador. O seu trabalho baseava-se em tarefas e nom tanto num horario, isso si, o limite marcavam-no as 40 horas semanais…

Aqui cumpre ainda rachar muitos tabus e mitos, quer por parte da empresa, quer por parte dos trabalhadores. Por isso muitas empresas desconfiavam dos trabalhadores estarem na morada a trabalhar, falta-nos certa cultura empresarial. Seguimos com horários partidos e umha presença que em muitos casos nom é precisa, pois a tecnologia permite fazê-lo na morada. Mas olho, temos que ver o trabalhador e trabalhadora, senom, nom vaia ser…e nós como assalariadas temos que fazer também autocrítica em muitos aspectos (eu som presidente do comité de empresa no meu centro de trabalho por LAB e bom, há para todos…neste confinamento vim de todo, e nem sempre a empresa é a ‘má’).

Que poderiam oferecer os movimentos sociais. Eu neste ponto acho que a resposta é complexa. Imos ver, há muitas empresas que já tenhem o seu sistema informático e os seus protocolos e programas, os mais deles privativos…nom apenas na parte informática senom em todos os ámbitos. E isto deriva de estándares protocolos. Quer dizer, se eu tenho umha empresa de sabons, para che darem o certificado CE e as ISOS correspondentes, tes que cumprir umha série de parámetros, tais como maquinária que utilizas em funçom de requisitos técnicos, que os programas sejam este ou aquele, que a ferramenta seja…vaia, burocracia, já que tu podes fazer sabom na morada sem tanto requisito.

E se isto o transladarmos a que soluçons poderiam dar os movimentos, a minha resposta é: dependendo da empresa, das ferramentas que tiver, e da obrigatoriedade das mesmas. E volvemos ao de sempre, dos movimentos sociais devemos dar resposta ao que o capital nos pom como obriga ou necessidade. Demonstrar que umha outra forma de fazer as cousas é possível, que se queremos nos podemos organizar. Que o capital nom é a soluçom aos nossos problemas ou necessidades, senom que é umha cousa que nos cria problemas, para os que, casualidade, ele tem soluçom, e por cima gera ‘necessidades’ das que nom éramos cientes. Eu nom pensaria em que poderíamos achegar ao tele-trabalho, senom em educar a gente em que a internet é umha ferramenta que mal utilizamos apenas para o nosso lazer. É umha ferramenta da que se queremos podemos aprender a tirar novos usos, nom apenas lazer, que também. Mas há vida além do ecrá, e nesse mesmo ecrá, se quigermos, podemos rascar um bocado e tirar mais proveito. Para a sociedade e para nós mesmos, com novos modos de fazer, e sendo soberanos e cientes do que temos entre maos.

Posta em marcha e configuraçom. Pablo Carral

Que opiniom tes no que diz respeito da utilizaçom de apps e tecnologia no processo catalám. Parecem estar muito avançados. Pode haver um nexo soberania política-digital?

Acho que na Catalunha se deu umha boa leitura do momento social que vivemos, e rachou-se assim com velhos parámetros de luita. É como o que dizia do confinamento, temos ainda tanto por aprender…tanto empresa como trabalhadoras, já que na luita sindical seguimos com os parámetros de épocas nom tam afastadas, mas que a dia de hoje nom mobilizam a gente como antes. Mas a gente nom se mobiliza só por esses ‘desfasados’ parámetros sindicais, senom porque a sociedade mudou…entom, acho que na Catalunha houvo umha adaptaçom…antes cumpria que a militáncia soubesse colar, manejar imprentas, falar em público…e mais cousas. Agora, além disso, é importante contarmos com pessoas formadas na informática e as redes sociais. Eles e ellas nom descobrírom nem inventárom programas novos, soubérom e sabem utilizar as ferramentas de que se dispom a dia de hoje. Aliás tenhem-che muita imaginaçom, que se precisa em qualquer luita, para lhe dar volta a qualquer problema. É umha ferramenta poderosa.

Os nexos com a soberania som todos os ámbitos da nossa vida, mas a soberania mais importante é a nossa individual, o do nosso corpo. Se nom somos soberanos de nós mesmos, como imos entender e luitar pola soberania dum povo…para que outro me diga o que tenho que fazer porque eu nom sei pensar por mim mesmo? Todas as soberanias som importantes, nom só a tecnológica. Por isso devemos ir para a frente em todas elas. Cultura, fala, ensino, trabalho, tecnologia, alimentar, lazer…mas penso que a primeira de todas é a educativa, ao jeito das escolas da Semente, educar gente livre para pensar por si mesma.