Nesta ocasiom as nossas questons voam cara o Atlântico africano, até umha das sete estrelas verdes do país Canário, a Achinech. A ilha tinerfenha foi notícia há umhas semanas por mor da grande oposiçom popular que se levantou perante a construçom dum hotel num espaço singular da própria ilha: no areal d’A Tejita. Polo que tentaremos conhecer mais de perto o movimento que lhe fijo fronte assim como as diferentes conjunturas ligadas a esta polémica obra. Para isso, teremos o prazer de falar com um dos membros do grupo de apoio direito que, do cham, deu suporte aos ativistas que subírom e okupárom durante 11 dias um dos guindastres da obra. Ademais, também aproveitaremos a oportunidade para perguntar-lhe em realaçom a algumha das problemáticas que sofrem o povo canário e assim tentarmos conhecer um chisco melhor a realidade deste Arquipélago Macaronésico.

O seu nome é Jose Miguel Martín e, além de participar nesta açom direita do povo canário, também fjo parte doutros espaços alternativos da ilha, como podem ser: Espaço Social “La Casa”, a Assembleia Canária polo Reparto da Riqueza, a rádio “Pimienta” e na coordenadora Baladre onde denunciam a desigualdade, o empobrecimento e exclusom em qualquer das suas formas. Assinalarmos também que leva tempo a envolver-se nos coletivos independentistas das Ilhas Canárias.

Ola Jose! Bom, conta-nos um chisco cal é situaçom atual na praia d’A Tejita.

O que pretendíamos com a açom era a paralisaçom cautelar da obra tal e como dispom a lei. Sob ela recai umha ordem de paralisaçom na terra que fica afetada pola servidom de proteçom de costas umha vez completado a demarcaçom do domínio publico desta zona. O artigo 12.5 da Lei de Costas estabelece que quando se inicia umha revisom do deslinde deve-se suspender o outorgamento de concessons e autorizaçons no domínio publico marítimo-terrestre e na sua área de servidom de proteçom.

Costas baralha a possibilidade de situar a demarcaçom em 20 metros ou nos 100 metros que nós defendemos. No caso de que Costas decidir polos lógicos 100 metros da demarcaçom, as três quartas partes do construído atualmente teria que ser demolido. Entendemos que esta situaçom remataria por completo coa viabilidade do hotel, já que atravessaria a construçom atual. Ademais, na área de servidom e domínio público nom esta permitida a construçom para uso residencial ou de hotéis; com o que a zona que sim ficaria habilitada para tal fim faria que a Viqueira nom lhe compensasse o projeto.

Semelha que o movimento de oposiçom na ilha contou com grande apoio e inclusive chegou a coar-se nos meios de comunicaçom do estado espanhol, os quais nom tivérom mais remédio que fazer-vos um pequeno oco… Como se argalhou e organizou todo o movimento? Como foi todo o processo do protesto e quais fôrom os problemas com os que vos atopastes?

O movimento gerou-se a raiz de que duas companheiras subírom ao guindastre e foi coordenado polo grupo de apoio que resistiu os onze dias a pé da obra. Desde esse momento realizarom-se labores de difusom mediática, quer aos meios de comunicaçom como às redes sociais, quer a todo o relativo à movilizaçom social e política da açom. Consolidou-se um grupo de pessoas pertencentes ao movimento social das ilhas que já nos conhecíamos desde há anos e doutras atividades, com novas incorporaçons de pessoas mui jovens que literalmente pujo o seu corpo perante a açom, às que há que somar as próprias vizinhas do lugar que nos apoiavam. Fôrom onze dias intensos de açons direitas, manifestaçons, concentraçons, roldas de imprensa e comunicados, atividades culturais, açons de apoio e denúncia; assim como a constante vigilância realizada por turnos as vinte e quatro horas com a que velávamos pola saúde das companheiras empoleiradas aos guindastres e que se mantiveram firmes perante os onze dias e sem cujo esforço esta luita nom tivera sido possível.

Em todo intre estivo claro que a açom era coletiva, ressaltando a necessidade de fugirmos dos protagonismos e dos egos pessoais. Coordenou-se um movimento baseado no “todas”, onde cada umha achegava o melhor que sabia através da horizontalidade organizativa. As dos guindastres “eram todas” e as de abaixo também, o que consolidou umha visom popular da luita na qual a povoaçom sentiu-se participe em todo intre e representada pelas decisons que se iam tomando e o que ali acontecia. A rotaçom das faces visíveis e das porta-vozes eram-vos constantes e as pessoas que organizavam o acampamento e as que se encarregavam das distintas necessidades logísticas também. Todo um exemplo de que sozinhas nom somos capazes de incidirmos na realidade, mas juntas podemos atingir o que nos propormos.

A relaçom com as autoridades, promotores e partidos políticos como foi?

Como em toda luita social, a relaçom depende da legitimidade popular e mediática que se vai ganhando. Começamos a açom sem nenhum peso real, mas pronto, possivelmente polo modelo organizativo do que vimos de falar e pola implicaçom da povoaçom das ilhas a nível mediático, que assulagou as redes e a praia, figemo-nos fortes para negociarmos e fomos levando a cabo cada um dos nossos objetivos.

Canárias é um país em que a luita e a defesa do território som, sem dúvida, o maior agente mobilizador a nível histórico, com manifestaçons, como no caso de Vilaflor em Tenerife, onde se juntaram cem mil pessoas na rua numha ilha de oitocentos mil habitantes. A nossa gente sente o território dum jeito apaixonado de pertença, que é agudizado polos maus tratos que sofre por mor das máfias do monopólio turístico e a conivência da classe política que, em ocasions, som a mesma cousa.

Recapitulando um anaco; qual é a história desta obra?

A história desta obra é, por desgraça, umha história mil vezes repetida. É a história colonial da venda do cham canário e da sua costa a interesses estrangeiros e do capital. Som muitos os exemplos de infraestruturas levantadas de maneira ilegal e que continuam com a sua construçom para rematar convertendo-se em fitos consumados.  O que confronta com as demoliçons de zonas populares amparadas na Lei de Costas, como é o caso de “Cho Vito”, que respondem aos mesminhos interesses. No caso do lugar onde se erige o Hotel d’A Tejita trata-se dum enorme complexo urbanístico que quase na sua totalidade pertence ao “Grupo Viqueira” e que se ergue numha paragem natural com umha paisagem de dunas únicas na ilha de Tenerife.

Como lho vendem a vizinhança para que aceite e “nom coloquem um mas”?

Num sistema desigual e baseado na lógica do emprego como no que vivemos, a primeira premissa que empregam é o mantra da criaçom de postos de trabalho que vam gerar as devanditas infraestruturas. Por sorte, ainda tínhamos na memória os vinte mil postos de emprego que segundo os meios de persuasom ia gerar o Porto de Granadilha e que resultárom ser umha grande mentira.

Segundo dados de Exceltur e do Governo de Canárias, em 2007 havia 318 mil empregos no setor turístico para mais de 9 milhons de turistas, enquanto no ano 2017 havia 327 mil empregos para atender aos 16 milhons de visitantes. Enquanto o PIB (Produto Interior Bruto) turístico elevou-se um 32% entre os anos 2008 e 2017, a pesar do que nos contam, o emprego que achega esse setor económico (postos diretos e indiretos de pessoas assalariadas e autónomas) cresceu unicamente um 3.2%. O velho mito de que o turismo em Canárias gera emprego nom se sustem.

Além disso, o emprego que gera é em condiçons laborais precárias e com salários mui baixos, os segundos mais baixos do Estado por cima de Estremadura e onde a fenda salarial subiu já um 13.89%, o que contribui para um aumento notável do pluriemprego precário e que um 44.6% dos residentes em Canárias se encontrem em risco de pobreza, situando-se no terceiro posto pola cola do Estado espanhol.  O turismo é um modelo que gera emprego precário, sazonal em muitos  lares ou temporal, com umhas condiçons laborais de exploraçom; e também gera desigualdade social, aumento da pobreza, deterioro da saúde física e mental e situaçons constantes de vulneraçom de direitos.

O pior de tudo, como acabas de dizer, é que esta nom é a única armadilha deste estilo. Lembro agora a montanha sagrada de Tindaya onde a algum iluminado passou-se-lhe pola cabeça que era umha boa ideia vaziar umha montanha para dar-lhe mais atraçons ao turismo, como se os podomorfos que deixaram os vossos ancestros nom fossem suficientes. Ao fim, semelha que tudo serve para contentar o turismo e encher os petos dos quatro caciques que o controlam; como olhais esta turistificaçom com isto da “nova normalidade”? Esta a piorar a situaçom?

O turismo demonstrou ser umha indústria totalmente insustentável e inestável. A nova normalidade viu a agudizar a dependência total que tenhem as ilhas deste setor, propiciada por umha política colonial do Estado cara Canárias, que vem da época da conquista e na qual se considerou às ilhas umha finca particular na que explorar diferentes monocultivos: vinho, açúcar, cochinilha, banana, tomate… e nas ultimas décadas camas turísticas e demais infraestruturas.

Consolidárom a ideia de que vivemos do turismo, mas a realidade é que o turismo vive de nós. Mantenhem campanhas que ponhem de relevo as supostas bonanças do setor, porem nom fam públicos os dados sob a distribuçom do dinheiro que gera o negocio do turismo. Podemos inferir umha ideia tendo em conta que o salário meio das pessoas empregadas neste setor em Canárias é de 1420 euros mensais, o que nos situa à cola do estado espanhol. Namentres, o que encabeça a lista dos mais ricos de Canárias é Eustasio Antonio López Gonzalez e irmaos de Lopesan Hoteles e IFA Group, com umha fortuna estimada de mil milhons de euros. A sua fortuna repartida daria-nos para pagarmos o salário anual de 58 mil pessoas, o 25% das pessoas que estám no paro segundo a Encuesta de Población Activa (EPA).

Dos mais ricos de Canárias, além dos já citados, segundo a lista Forbes de 2018, atopam-se Juan Miguel Sanjuan y Jover (Grupo Satocán, de construçom y gestom turística) com 320 milhons, Wolfgang Kiessling (Loro Parque) com 260 milhons ou Pedro Agustín Castillo Machado e família (Binter) com 200 milhons. Todas fortunas geradas pola exploraçom turística.

Até nom há muito tempo, na web do governo de Canárias, podias encontrar que entre as bondades das ilhas para as empresas turísticas estavam os nossos baixos salários. Por isso esbanjam-se milhares de euros em desenvolver macro-campanhas publicitárias com as quais tentam convencer-nos, a diário, das maravilhas do turismo. Por isso em Canárias existem mais dumha dúzia de armadilhas fiscais que o próprio sistema lhes permite as empresas adicadas a indústria: o seu estatus de regiom ultra periférica, o IGIC em troca do IVA, o AEIM (Arbítrio sobre Importaçons e Entregas de Mercadorias em Canarias), a Deduçom por inversons em Canárias, o ITPAD (isençom do Imposto sob Transmissons Patrimoniais e Atos jurídicos Documentados), a RIC (Reserva de Inversons de Canarias), a Deduçom por inversons em África Ocidental e por gastos de propaganda e publicidade, a ZEC (Zona Especial Canaria), as Zonas Francas, o REA (Regime Especifica de Abastecimento)… em resumo, o REF (Regime Econômico e Fiscal): Benefícios para as empresas que venhem de fora, benefícios para as que mais tenhem, benefícios para as que empregam Canárias de ponte para explorar o nosso continente africano, benefícios para as importaçons… Ainda por cima, todas estas siglas e privilégios fiscais estám ainda mais legitimadas e aumentadas polo novo Estatuto de Autonomia imposto por parte do governo de Canárias com Coaligaçom Canária a fronte e a conivência do resto de partidos como o PP ou o PSOE, que levam anos a pactarem com eles para manter e fazer possível o seu governo e este tipo de quadro e regime económico.

Ao fim, isto afeta a vizinhança das ilhas, que mira-se forçada a emigrar namentres os europeus endinheirados vam-se de jubilaçom e criam vilas só de Alemans como puidem comprovar em Fuerteventura, onde o primeiro jornal que lim estava escrito em Alemám…

Sim, nalgumhas zonas, como comentas, a povoaçom local vê-se reduzida na pratica a reservas populacionais em territórios onde tudo esta cavilado por e para o turista ou o residente estrangeiro e onde, em muitos casos, nom somos bem recebidas em bares e estabelecimentos geridos polos europeus.

Este contraste de interesses que espertam as ilhas, em que outros aspetos som apercebidos?

Num quadro cavilado integramente para os benefícios turísticos o qual absorve a maioria de inversons, a grande prejudicada é a populaçom local. Um dos casos mais graves é a ausência de hospitais nas ilhas nom capitalinas (cinco das sete) e que obriga aos habitantes das mesmas a viajarem por terra ou ar para serem tratados das suas doenças. Ademais estes hospitais de Tenerife e Gran Canária atopam-se já massificados pola ausência, por sua vez, de hospitais no Norte e no Sul das próprias ilhas, favorecendo assim à privatizaçom da sanidade e beneficiando às empresas deste setor que traficam com a saúde.

Outro caso também conhecido é a ausência de recursos para sufocar os habituais incêndios florestais no Arquipélago, tendo que aguardar a que se desloquem da península, a mais de mil quilómetros de distância, cada vez que vivemos um sucesso desta índole. 

Polo contrário, ante essa falha de serviços públicos sim que olhamos um grande numero de efetivos que o exercito do estado espanhol tem despregado no vosso país. Como vos afeta esta militarizaçom? Creiam-vos muitos problemas?

Canárias é um país ocupado militarmente e politicamente polo estado espanhol, a 90 quilômetros do continente africano e a 1701 quilómetros de Madrid. O dado da militarizaçom das ilhas tem aumento perigosamente nos últimos anos. Os dados achegados por Koldobi Velascos som impactantes: Em Canárias há 1 militar cada 233 habitantes fronte a 1 trabalhador social pra cada 24075 habitantes. É habitual que o exercito espanhol empregue as ilhas coma pátio de manobras, baixo a justificaçom da “fronteira Sul” que com o aumento da chegada de migrantes pola rota atlântica comporta a reabertura dos centros de internamento de estrangeiros e a deportaçom de numerosas pessoas de maneira habitual. Espanha esta em guerra nas fronteiras, e Canárias é para política de defesa espanhola umha fronteira sul a reforçar.

O curioso é que a pesar de todo este despregue quando se trata de defender a soberania das vossas águas nom se lhe presta tanta atençom como aos assuntos dos que vimos falando. Neste interesse seletivo parecerdes-vos muito ao continente africano. Como esta atualmente essa pugna pela soberania marítima? Que é o que se agocha detrás deste conflito?

Canárias nom tem direitos sob a sua Plataforma Continental do leito marinho por nom ser um Estado Arquipélago, se um arquipélago pertencente à umha “naçom continental”, espanha, carecendo assim da soberania própria. Canárias nom tem autoridade para vigiar ao redor das suas costas, nem direitos de pesca ou de proteçom das zonas de alto interesse ecológico marinho. Onde unicamente Canárias –em realidade o Estado espanhol- tem potestade é nas suas águas da ZEE (Zona Económica Exclusiva) é pola parte Este de Lançarote e Fuerteventura, raiz do acordo entre espanha e Marrocos. No caso dos direitos de vigilância, pesca e exploraçom dos recursos que existam sob o seu leito marinho a potestade recai diretamente e exclusivamente nas Naçons Unidas. Som as consequências direitas de seguirmos sendo umha colónia explorada por um país europeu no continente africano.  

A dependência de espanha quanto aos nossos recursos económicos e naturais fai com que nom sejamos donas do nosso destino nem das relaçons com os outros povos. A soluçom nom passa porque nengum exército nos defenda em nengum termino, se nom pola descolonizaçom de Canárias e pola plena auto-gestom do Arquipélago pola povoaçom das ilhas, que torne possível as relaçons direitas com o nosso continente africano e com o mundo. A diferença entre que outro estado ou o que atualmente nos submete gire as nossas águas é nengumha porque os dous consolidam a nossa dependência e tornam impossível o autogoverno.

Nom achais que essa falha de firmeza deve-se a obediência que quer o estado espanhol, quer a sua coroa lhe deve ao rei de Marrocos? Isto pode ir na linha em que se desentendem do povo Saariano e do conflito no Saara?

Sem duvida, o grande aliado histórico do Estado espanhol no nosso continente foi Marrocos e vice-versa. O caso Saariano abofé que é o exemplo mais conhecido e possivelmente mais sanguento dos muitos desta conivência histórica que também afeta as Canárias ou a repressom contra do povo Amazigh. A luita do povo Saariano pela sua independência é certamente umha das luitas mais ligadas ao povo canário, que conta com décadas de cooperaçom e apoio das ilhas sentindo-o coma um conflito próprio a resolvermos. A situaçom de colónias africanas em pleno século vinte e um como as Canárias e o Saara som o exemplo vivo da exploraçom da Espanha em África e da cumplicidade da Comunidade Europeia.     

Bom, pola nossa banda esta tudo. Tam só resta-nos dar-che outra vez as graças por investires um chisco do teu tempo em responder às nossas questons e deixar-che este ultimo espaço por se gostares de acrescentar algo mais.

Agradecer-vos, ao Galiza livre, este espaço para poder dar a conhecer um bocadinho mais a Canárias e as suas luitas fora das nossas ilhas, e irmos combatendo aos poucos o grande desconhecimento do que eiqui acontece que se tem noutros povos em luita no Estado. Pôr de relevo também a grande importância de termar os nossos próprios meios de comunicaçom, livres e comunitários, coma única maneira de combatermos os seus meios de persuasom.

Tanemmirt (Obrigado).

Vivam Galiza e Canárias ceives e igualitárias.

Ahul fellawen (cumprimentos a todas)!

Apertas e um saúdo do nosso país, do Atlântico galaico.