Em 1930, Fuco Gómez, fundador do Comité Revolucionário Arredista Galego, a primeira organizaçom independentista da nossa história, colaborava com o periódico A Fouce com este artigo de opiniom. O becerrense analisa o nefasto efeito que causou no país a extensom das atitudes servis cara o poder espanhol.
“Desde os arribistas e criminosos Reis Católicos até o cruqueiro e troita Afonso XIII, os monarcas casteláns todos, e os que com eles governárom a Hespanha, com as suas sentenças brutais e egoístas, com as suas teorias singelistas e descabeladas, com os seus atentados contra a liberdade de consciência e de pensamento, conseguírom levar no aço de todos os povos que hoje chimpam baixo o domínio da Vila Podre a crença de que criticar o rei ou qualquer funcionário do governo, formular o menor exame, o menor juízo da sua administraçom, mostrar inconformidade, protesto, confronto cara os seus procedimentos e criar-lhe conflito, era ‘delito de lesa pátria’, conquerírom que sostiveram toda parte que para eles existia umha ‘pátria grande’ (Hespanha) à que estavam obrigados a servir, e umha ‘pátria chica’ (a terra onde fórom nados) pola que nom era mister fazer sacrifício algum. Conquerírom que tiveram sempre por norma ser espanhóis ante todo e por riba de todo, e que os emigrados se acolhessem a engelista teoria que cabe no estreito conto do refrám : ‘la ropa sucia no se debe lavar em casa’. (…)
Esta lerda e personalista fórmula esparegida polos governos da Hespanha e polos defensores da ‘unidade nacional’ topou eco em todas as nacionalidades ibéricas e isso custou muitas bágoas, muitas dores, eos infortúnios que sobre elas gravitam. Por Hespanha (que segundo diz Ortega y Gasset é umha concepçom castelhana) e por ‘patriotismo’ hespanhol, trocárom indevidamente o nome de nacionalidades ibéricas polo de ‘regiones españolas’, como em certos anterguíssimos tempos o cambiaram polo de ‘Estados Romanos’. Por Hespanha e por ‘patriotismo’ espanhol, obedecêrom aos viles mandatos e malsaos conselhos da monarquia espanhola, exigindo umha submissom absoluta a esta, e mostrando um ódio feroz para as ideias contrárias às dela ; luitárom contra a marroquina e contra todas as repúblicas que lerdamente se lhes diz ‘hispanoamericanas’ quantas vezes tencionárom independendizar-se do governo central (Madrid). Por Hespanha e por ‘patriotismo’ espanhol deixárom falsear a sua própria história e renunciárom à sua cultura, consentírom que se seguira reconhecendo privilégios à religiom católica-apostólica romana, e dérom a sua aprovaçom, com o seu silêncio, a toda arbitrariedade, a toda prodigalidade, a toda ilegalidade, a todo crime, a todo favor sem medida, a toda injustiça sem recato…
Deste modo sacrificárom todo por um nome, sacrificárom todo por Hespanha, que é a monarquia com a sua organizaçom burocrática. Maldita Hespanha, e maldito esse ‘patriotismo’ hespanhol, que a tais prejuízos e a tais tolarias levou às nacionalidades ibéricas.
Todas estas, e sobretodo Galiza, contribuírom para o sostimento dos parasitos que fixérom o seu sojorno na Vila Podre e para a prosperidade e engrandecimento do que hoje desfruta Madrid. (…) E com o fim de centralizá-lo todo, mais do que está ainda, com o objecto de castelhanizar mais ainda as nacionalidades ibéricas com a larvada intençom de absorver os centros de ensino da Península, pretende-se construir no próprio Madrid, com a ajuda de todas as nacionalidades ibéricas e das repúblicas ‘hispano americanas’ umha ‘Cidade Universitária’ para a qual já muitos galegos e sociedades galegas mandárom a sua achega. Em troca, estes badulaques galegos negam-se a contribuir para a Residência de Estudantes de Santiago de Compostela.
Logo, esses submissos espanhóis, nados na Galiza, como todos os demais servis espanhóis que se topam ausentes da Península e dentro dela, nom querem que se lhes diga a verdade: nom querem conhecer umha verdade que contrarie o seu prejuízo : prefirem (…) que se lhes chufe, enganando-os, que se lhes sirva reiteradamente um exame concienzudo, um exame desapaixonado das cousas, tal como as preparam os governantes espanhóis e tal como a realidade as impom no ambiente e na vida dos nossos povos.
Os espanhóis de aqui, de alô e de toda parte, mal informados, constantemente crédulos a todo relato que se lhes fai em notas oficiosas e a toda opiniom emitida por escritores mercenários e acomodatícios, nom só formam juízos trabucados, senom que querem impô-los à opiniom alheia, detraguendo ferozmente os que nom pensam como eles, e formando um ambiente viçoso e noxento.
Estes homens de sentimentos abjectos, estes espíritos aplebeados, nom tam só som umha rémora para o progresso da sua Terra, senom também para o progresso de todo aquele país que lhes dá hospitalidade.”
*Publicado originalmente em A Fouce, 15 de setembro de 1930. Adaptaçom ortográfica do Galiza Livre.