O desporto foi muitas vezes empregado polo poder para os seus próprios fins: propaganda, alienaçom, catarse das emoçons reprimidas polo sistema… mas nom por isso imos renunciar a ele. É necessário resgatar os seus aspectos positivos no nosso beneficio, mesmo durante esta crise sanitária que nos obrigou a todas a ficar na casa e estar mais tempo do desejado entre quatro paredes.

Motivos para fazer desporto

As pessoas que gostamos de praticar desporto ao ar livre tivemos que renunciar temporariamente à nossa afeiçom/paixom, e aqueles que também competimos e o praticamos de jeito mais especializado, embora nom cobremos por isso, tivemos que reestruturar os nossos adestramentos para nom tirar por terra todo o trabalho feito durante o inverno.

Há uns meses escrevia um artigo onde intentava explicar o motivo polo qual alguns de nós fazemos desporto, e nele concluía que, no meu caso particular, o motivo principal era o sentimento de pertença a um grupo: pois acredito que apenas os vínculos e os vencelhos dumha comunidade e o compromisso dum projeto comum som os que constroem a nossa identidade. E nesta situaçom, quando cada membro da equipa está só na sua casa, o compromisso com o grupo é o que nos dá aços para manter a disciplina de adestrar cada dia.

Para mim o sentimento de pertença é o motivo que mais pesa, mas é evidente que também há outros motivos para praticar desporto. Pode ser também por ócio ou criaçom. Sim, criaçom. Para esclarecê-lo vou tomar parafrasear as palavras de Santiago Alba Rico: O homem distingue-se dos animais por duas características fundamentais: porque tem a inteligência nas suas mãos e pés, e nom nos seus dentes, e porque se move no espaço exterior e nom no interior de sua espécie. O prazer elementar do desporto e do jogo em geral tem a ver com o desenho de figuras -com o desenho do próprio ar- através da mobilidade de corpos e do intercâmbio de enlaces redondos entre eles. A bola, ou o remo, revela a destreza (e esquerdeza) das nossas extremidades. A bola, como a voz, como os sinais escritos, como a trainheira e os remos, une e separa dous corpos, mas nom diz nada; apenas fala precisamente desta uniom e desta separaçom; traça e afirma o milagre da distância. Antes das rivalidades, as filiaçons e as marcas, existe a beleza inútil que as torna possíveis: a delimitaçom do campo, a felicidade euclidiana dos triângulos, o erotismo objectivo das parábolas, a comparecência dum segmento líquido entre dous corpos. O remo, é um lápis; e as cia-vogas, som a revelaçom cromática da perspectiva. Que produz umha regata de trainheiras? Nem trigo nem ferro nem lã. Produz –largura, altura, profundidade– imagens de espaço.

É mui prazenteiro vogar mas é-o mais quando há mar de fundo, quando a proa salta, quando empopas algumha onda ou quando o sol-pôr nos colhe no médio do mar.

Agora estamos privados, inda que seja temporalmente, de produzir imagens. Mas contudo ainda existem outros motivos para fazer desporto: a saúde.

Mens sana in corpore sano

Este é, ou deveria ser, outro motivo importante para praticar desporto, porquanto é difícil estar saudável sem praticar algumha atividade física. Há que ser conscientes da importância de desenvolver a competência motora, e assumir que a atividade física é umha ferramenta para a liberdade integral das pessoas.

Umha pessoa que aperfeiçoa as capacidades de movimento, a coordenaçom, a orientaçom espaço-temporal, o equilíbrio, umha pessoa que conhece e controla o próprio corpo, que treina a força e resistência muscular, a capacidade cardio-respiratória, a velocidade, a flexibilidade e a agilidade, umha pessoa que é ciente da estruturaçom do esquema do corpo é umha pessoa mais suficiente.

Além de mais, está demostrado que o desporto também tem benefícios para a saúde mental pois alivia os sintomas da depressom, reduze a ansiedade e o estres, melhora a autoestima, prevem o deterioro cognitivo e mesmo incrementa a atividade cerebral porquanto favorece a neurogénese.

Umha questom de classe e género

Mas se conheço as bondades do desporto, também som consciente de que as condiçons materiais som um fator determinante. Do mesmo jeito que acontece noutros aspetos das nossas vidas, na saúde e no desporto também estamos afetados polas condiçons materiais e abrolham as inércias sociais que descreve o materialismo histórico.

O materialismo é umha ferramenta imprescindível em conjunturas ideológicas como a nossa, onde se sobrestimam sistematicamente a autonomia e a liberdade individual. De pouco vale que se nos incite a termos umha alimentaçom equilibrada e uns hábitos saudáveis se tenho um emprego com horários intermináveis e um salário mísero. Quando saia do trabalho nom vou ter tempo, ou energia, para exercitar-me. E à hora de preparar o jantar mercarei pratos pre-cozinhados porque preparar umha comida saudável requere tempo e dinheiro, algo do que muita gente nom dispom.

Fica patente que existe umha relaçom direta entre saúde e nível econômico.

Além da questom de classe, também existe umha questom de género. É óbvio que as mulheres praticam menos desporto e na procura da causa encontramos um fio do que tirar: o prazer. Como analisava Matilde Fontecha, o prazer é umha das chaves para entender a relaçom entre mulheres e desportos. As mulheres, em geral, nom praticam desportos que som umha fonte de diversom, como desportos de equipa ou praticados no médio natural. Casualmente, estes som desportos que exigem longos deslocamentos e pernoitar fora da casa. As mulheres fazem atividades físicas no centro desportivo do bairro, por razons de estética ou saúde, atividades tediosas, sem prazer. Polo contrário, na prática desportiva dos homens prevalece o aspecto lúdico, praticam em equipa e o objetivo é o entretenimento.

Para finalizar

Ao contrário do que poderia parecer inicialmente polo título, nom vou recomendar nem descrever nenhum exercício nem atividade para fazer durante o confinamento, pois além de nom ter a formaçom necessária, existe umha extensíssima quantidade de vídeos na rede que se podem ajeitar às necessidades e gostos de cada quem. Só animar a que tentedes fazer exercício.