Fôrom muitas as tentativas de procurar equivalentes históricos à manifestaçom que decorreu hoje polas ruas da nossa capital para dizer nom ao extrativismo: as memoráveis marchas em defesa da Terra dos 70, a manifestaçom que blocou os planos mineiros a meados da década passada e, como nom, o histórico dia de dezembro de 2002 em que a Galiza pronunciou o Nunca Mais. O Altri nom deste domingo 15 dá continuidade à longa linha de movimentaçom em defesa da Terra na que o nosso país é já referente.

Dado que na marcha de hoje praticamente toda a Galiza organizada estava representada, com a excepçom dos setores mais aditos e os núcleos duros dos dous grandes partidos-Estado, PP e PSOE, resulta literalmente impossível fazer umha escolma representativa de todas as famílias políticas e ideológicas que estavam representadas nas dúzias de milhares de pessoas que se manifestárom em favor da Ulhoa, da Ria de Arousa, e da saúde e do futuro do país inteiro. A modo de pequena escolma -em absoluto representativa – este digital falou com vizinhos da Ulhoa enquadrados no sindicalismo labrego, com pedagogas das Escolas Semente, com militantes de centros sociais, e com ativistas de base do arredismo. Eis as suas palavras num dia que qualificam de “memorável” e “fundamental para a nossa estima coletiva.”

Um problema da Ulhoa assumiu-se como problema do país inteiro”

Lois Varela Carreira é gadeiro da Ulhoa e ativo militante no Sindicato Labrego Galego; tem-se envolvido na luita anti-Altri na plataforma Ulhoa Viva e hoje era um dos que portava a faixa de cabeça na multitudinária manifestaçom. “Do alto do palco, no Obradoiro, era emocionante ver a multidom que ateigava a praça, e polos telefones chegavam notícias de que ainda estava a gente a sair da Alameda. Nom quero dar cifras, nom as tenho exatas, mas realmente é preciso?”, pergunta-se Lois, para quem se viveu umha “demonstraçom de força impressionante.”

Imagem: @brais_lorenzo

Para o gadeiro e sindicalista, confirma-se umha tendência que se vinha vivendo nos últimos tempos: “eu acho que vivemos um efeito bola de neve, começou como umha cousa pequeninha na Ulhoa e foi medrando, medrando, até ter arraste na comarca, e finalmente assumir-se como um problema da Galiza inteira.” Lois reconhece que de partida houvo certa vacilaçom na bisbarra, “mas a gente nom demorou em ver como os apoios se alargavam e alargavam, e sentiu-se tal arroupo, que mesmo base social do PP na Ulhoa está contra Altri; se nom se atrevem a manifestá-lo publicamente é polas dinámicas que já conhecemos no rural, controlo social e caciquismo”. O mais meritório do vivido até o de agora, acrescenta o membro da SLG, “é que falamos dumha dinámica construída inequivocamente pola base, umha dinámica cooperativa; demonstrou-se hoje até onde pode chegar isto.

Ante a pergunta de se o poder tomará nota do acontecido hoje, Lois é inequívoco: “tomarám nota, nom o duvido, nom tenhem outro remédio; ora, eu som cauto, porque som interesses capitalistas poderosíssimos os que se acham por trás.” O que mais inquieta ao militante nom é o já conhecido “desprezo do PP pola vontade dos mais”, senom “a ambiguidade calculada do PSOE. Eu cavilo e cavilo, por vezes penso que como partido governante que som nom se atreverám a dar luz verde ao projeto, a dar fundos públicos; mas por outra parte, como as pressons som tam imensas, penso que quiçá o fagam, e entom teremos que conduzir esta luita aos tribunais. Seja como for, temos que seguir organizados e alerta.”

A mobilizaçom de hoje é umha verdadeira pílula de otimismo”

Natália Cea é coordenadora pedagógica e linguística das Escolas Semente, projeto educativo que, mais umha vez, se envolve nas dinámicas sociais cruciais, e hoje estivo presente na Alameda com um bloco próprio, em que as crianças se somavam às exigências ambientalistas. “O certo é que isto vinha trabalhado previamente, por dar um exemplo, umha educadora da Semente Compostela comentava-me o surprendida que estava com como vinha madurada a questom de Altri desde as casas.” As estudantes de infantil elaborárom cartazes para levar a manifestaçom de hoje, e esta tarefa foi aproveitada para estudar polo miúdo a problemática das agressons ao meio. “Algumha criança mesmo poderia dar umha aula mestra sobre o que está a acontecer”, comenta-nos Natália. Sobre o bloco que partia da Alameda, o gigantesco da mobilizaçom virou difícil plasmar o plano inicial, o que nom deixa de ser umha boa nova: “realmente o bloco acabou por ser mini-bloco, dado que havia tanta gente no ponto de saída que a mim, por exemplo, levou-me média hora atravessar a Alameda e até chegar ao lugar onde estava a nossa faixa.”

Imagem: Semente

Que efeitos podem ter jornadas como esta nos movimentos e no país no seu conjunto? “Para nós, como Semente, explica Natália, foi um dia que tivo o seu efeito. Chegárom crianças e famílias das escolas ao longo do país, foi umha oportunidade para o encontro e o convívio, e nesse sentido eventos assim, aliás tam fortes, ajudam a fortalecer a comunidade Semente.” Quanto às consequências que pode ter umha manifestaçom como esta numha dimensom mais ampla, Natália é clara: “foi tremendo, porque a magnitude do de hoje tem pouca comparaçom. Eu quando o Nunca Mais era muito novinha, tinha apenas seis anos, mas si que lembro aquela consciência tam grande de povo unido; num momento como este, de tal polarizaçom social, onde resulta esgotador, impossível, fazer frente a tantas luitas e tantas necessidades como aparecem, é muito esperançador que consigamos um nível de unidade assim; que coincidam setores tam distintos, que nem simpatizam por vezes entre eles, para irem juntos por algo vital. Para mim a jornada foi umha autêntica pílula de otimismo.”

A propaganda que editamos contra Altri socializou-se e a gente achega-se a pedir-no-la”

Joám Bagaria é veterano militante do centro social Mádia leva, entidade lucense que tem associados da Ulhoa, e que por cercania geográfica está especialmente atingido pola ameaça da papeleira. “Na cidade de Lugo funciona umha seçom de apoio a Ulhoa Viva formada por pessoas a título individual, e nós temos colaborado ativamente. Já na manifestaçom de Palas de Rei em Maio estivemos presentes com propaganda própria”. O Mádia leva popularizou o logótipo dum peixe de três olhos, inspirado na série dos Simpson, e que chama a atençom sobre a poluiçom que iria destroçar o Ulha de se impor a planta. Na manifestaçom de onte continuou com esta linha gráfica: “hoje levamos figuras dos principais valedores políticos e gerentes empresariais de Altri inspirados nas figuras dos Simpson, e um disfraz do peixe gigante que chamava a atençom da gente. Muito pessoal achega-se a pedir os nossos colantes. Parece-nos importante dar com umha linha de intervençom muito clara e contundente que sintetize aquilo ao que nos enfrentamos, o risco que correm a Ulhoa e a Galiza.”

Imagem: Mádia leva

Joám chama também a atençom sobre o vivido hoje: “isto vai ter consequências, nom há dúvida, a magnitude foi impressionante a por isso abundam as comparaçons com o Nunca Mais. Também me recorda àquelas mobilizaçons massivas contra os planos mineiros há umha década, esperemos que tiver o mesmo efeito e poida parar-se este projeto depredador.”

“Isto demonstra o arraste que tem na Galiza a defesa da Terra”

Davide é um assíduo das mobilizaçons populares e particularmente dos atos independentistas, mas prefire nom dar nome real nem apelidos: “isso nom importa nada, eu som apenas mais um do povo”. Ainda que nom milita em nenhum partido, nas grandes mobilizaçons secunda sempre os blocos arredistas. “Neste caso nom foi possível, porque a manifestaçom foi tam imensa que nem blocos reconhecíveis, isto era o povo galego, sem mais”, comenta-nos. Davide mostra-se feliz, mas nom surprendido: “é outra mostra do que é capaz este país a nível mobilizador, diz, a pesar de tanta lenda negra de que somos servis, de que somos submissos…onde se vê este potencial na rua? Penso que em poucos lugares.”

Imagem: Assembleias Abertas Independentistas

Sobre os demandas do ato de hoje, de paralisar a papeleira e dar ao rural possibilidades de desenvolvimento diverso, acrescenta: “a história, em realidade, é a de sempre: a de Espanha e empresas amigas do poder político aproveitando as imensas riquezas naturais galegas, e nós pagando, emigrando ou dedicados à monocultura, do eucalipto ou do turismo.” Davide nom é em absoluto pessimista, porém: “o nosso nacionalismo curtiu-se nas luitas sociais e ambientais dos anos 70, o independentismo estivo sempre presente para combater os planos “desarrolhistas” nas décadas seguintes, tanto com luita legal como ilegal, e no século XXI, a consciência nacional galega vai avançar nestas batalhas”, conclui.