O último inquérito do Instituto Galego de Estatística vem de deitar luz sobre o acelerado processo de substituiçom linguística do galego polo castelhano, ao assinalar que o idioma próprio do País deixa de ser o mais falado depois de mil trezentos anos de evoluçom. Durante este longo período, fomos construindo coletivamente um universo de ideias, afetos e ritos que possibilitárom a nossa adaptaçom ao meio, assim como a constituiçom dumha cultura e identidade diferenciadas, tal e como formulara o recentemente nomeado primeiro presidente da Galiza, Castelo: “se somos galegas é por obra e graça do idioma”. Assim sendo, perder a língua é deixar de ser, habitar a nossa própria extinçom.

Os momentos de crise som, no entanto, períodos onde se abre a possibilidade de mudança. A sociolinguística basca tem denominado este instante como tensom de ruptura. Trata-se do ponto em que um povo abandona a resignaçom e o pessimismo em relaçom ao futuro do seu idioma e começa, no presente, a construir as bases da sua recuperaçom e plena normalizaçom. Um objetivo que, em ocasions, pode demorar décadas e presenta os seguintes indicadores de sucesso: a comunidade linguística discriminada abandona o complexo de inferioridade e ganha autoconfiança e agência, evolui-se dum bilinguismo unilateral (dos galego-falantes) a um monolinguismo territorial, som recuperadas funçons linguísticas graças à implicaçom de numerosos agentes sociais, culturais e institucionais, trabalha-se na compactaçom da comunidade linguística menorizada e avança-se na proteçom legal do idioma relegado para tornar necessário o seu conhecimento e uso.

Umha vez assinalados os fitos para os quais devemos orientar o nosso trabalho coletivo, cumpre refletirmos em três conceitos que, alegoricamente, nos guiem: o coraçom, a cabeça e as mãos. Comecemos polo primeiro: “a língua é o coraçom do nosso país”, dixo-me o ativista pola língua basca Joxe Mari Agirretxe, mais conhecido como o palhaço Porrotx, na viagem organizada pola Semente e o Regueifa Tour. No seu caserio, depois de dar um concerto para centos de crianças onde defendia valores como o ambientalismo, a paz e a solidariedade, contou-nos que o primeiro que deve sentir um povo que deseja recuperar a língua é o desejo fervente de existir. De facto, se um povo nom protege a sua identidade e mostra conformidade a ser assimilada é praticamente impossível reverter o processo.

A sociedade galega demonstrou no passado dia dezassete, em Compostela, que nom está disposta a renunciar ao seu coraçom. Mostra desta atitude vital é a que desenvolve quotidianamente a base social da Semente. Assim, no olhar de cada família, educadora, criança ou colaboradora é doado descobrir o orgulho de quem sabe que está a mudar o presente do galego, superando importantes obstáculos como a precariedade económica, a insuficiente colaboraçom institucional, ou os sacrifícios pessoais necessários para manter em pé o lajeto esperançador da palavra em cada nova geraçom.

Umha vez assinalados os fitos para os quais devemos orientar o nosso trabalho coletivo, cumpre refletirmos em três conceitos que, alegoricamente, nos guiem: o coraçom, a cabeça e as mãos.

A segunda imagem é a representada pola cabeça. Por outras palavras, a estratégia mais eficaz para atingirmos o horizonte ambicionado. Modestamente, a Semente tem aplicado medidas que deveriam ser objeto de genealizaçom no conjunto do sistema educativo: a aplicaçom eficaz da Lei Paz Andrade, umha visom internacional e moderna do nosso idioma, um modelo curricular e multilíngue autocentrado, a aposta pola renovaçom pedagógica com base científica, o desenho de ecossistemas linguísticos que ultrapassam os horários e muros escolares ou a venturosa divulgaçom social do nosso património cultural imaterial, como a do nosso amigo o apalpador, tornando a Semente numha verdadeira comunidade de aprendizagem.

Os resultados desta energia coletiva som esclarecedores: a compactaçom da nossa comunidade linguística tem possibilitado o desenvolvimento de falantes completas, num espaço livre de violências glotofóbicas, fazendo possível um fito inédito na evoluçom sociolinguística urbana das últimas décadas: garantir a manutençom do uso do galego nas novas geraçons assim como promover a formaçom de neofalantes através da atividade educativa formal (nas escolas) e nom formal (nos acampamentos, atividades extra-escolares, etc.).

Tendo as Escolas de Ensino Galego Semente estes resultados tam benéficos para o alunado, como é possível que nom sejam aplicados no conjunto do sistema educativo? Castelao, mais umha vez, dá no alvo ao lembrar-nos que a dominaçom linguística é umha forma de violência política que o espanholismo tem utilizado historicamente para inferiorizar e submeter o nosso povo: “Proibistes o galego nas escolas para produzir no espírito dos nossos rapazes um complexo de inferioridade, fazendo-lhes crer que falar galego era falar mal e que falar castelám era falar bem”. Deste modo, quando o governo atual teima em reduzir a presença do galego no ensino, sabendo que 32% das crianças de 5 a 14 anos sabem pouco ou nada de galego, fai-no com umha finalidade inequívoca de amputar-nos o sentido da fala, para que já nom podamos pronunciar a palavra liberdade.

Os resultados desta energia coletiva som esclarecedores: a compactaçom da nossa comunidade linguística tem possibilitado o desenvolvimento de falantes completas, num espaço livre de violências glotofóbicas, fazendo possível um fito inédito na evoluçom sociolinguística urbana das últimas décadas: garantir a manutençom do uso do galego nas novas geraçons.

Chegamos ao último dos elementos simbólicos que pode cooperar na defesa do nosso idioma: as mãos. Como é sabido, podemos sentir a dor de perder a nossa língua e mesmo ter um pensamento esclarecido em relaçom ao caminho que haveria que tomar, porém todo isto nom serviria de nada se baixássemos as mãos, se renunciássemos ao poder da açom, da transformaçom. Perante a autarquia política e judicial espanhola, que sanciona e legitima umha co-oficialidade assimétrica para o galego, incumprindo os tratados internacionais em matéria de direitos linguísticos e culturais, a iniciativa social deve ser a protagonista. Deste modo, devemos reativar o movimento de defesa da língua em cada localidade, estabelecendo assembleias estáveis com objetivos a curto e meio prazo e contando com umha coordenaçom a nível nacional. Neste processo, é fundamental promover a unidade, integrando as legítimas e plurais perspetivas que os diferentes sectores tiverem. Sermos cadeia humana, dizia Séchu Sende, para transformar a energia nas palavras da nossas crianças.

Em última análise, precisamos virar num único aturujo coletivo que trascenda a surdez governamental, construíndo umha política linguística emancipadora de abaixo para cima com a colaboraçom e participaçom dos diversos agentes sociais, políticos e institucionais galeguistas. Nom permitamos, pois, que nenhuma minoria incompetente silencie a nossa voz ancestral porque, como dizia Manuel Maria, se perdemos a fala nom seremos ninguém!