Antelo passeia pola beira do mar, olhando os restos do fume dos incêndios no fundo do horizonte. Bem sabe ele a sua ligaçom estreita com o negócio da celulosa, e também com o da turistificaçom.

A lua andava vermelha esses dias, mas nom do lume. Havia marés vivas e quase nom se podia caminhar pola praia.

Antelo apenas lê as portadas dos jornais. Está aburrido de tanto imediatismo, e também ronda nele um sentimento de fastio cada vez que vê um diante. El prefere tomar um café com ghotas a primeira hora da manhá, e logo caminhar e caminhar por vezes acompanhado do seu cadelo.

Nas conversas, si se entera do que acontece no mundo. Por vezes, desde ideologias mui diversas e opinions mui variopintas. Antelo sabe que há múltiplos interesses também na indústria da comunicaçom, tantos como tabuleiros de xadrez há no mundo.

Quando passeia polos caminhos, olha as hortas da vizinhança com certa nostálgia. O seu ofício de recepcionista impede-lhe adicar-se a esse tipo de ofícios, e ademais sinte que tem pouca paciência. Tremeria-lhe o pulso termando do sacho, e nom poderia adicar o tempo a divagar por outros espaços da natureza.

A última vez que Antelo estivo a falar cumha senhora que trabalhava a terra, esta dixo-lhe:

“-Nom há quem entenda o mundo! Por mais voltas que des, nom o vas entender!”

Entom botou a caminhar de novo desconfiado e teimudo. Ficou a pensar em se nom haveria todo um mundo paralelo de informaçons, perspetivas sobre a justiça, formas de sentir os acontecimentos, formas de comunicar as cousas, ferramentas para intervir no quotidiano, olhares… que provinham do mais fundo das mulheres da aldeia, mulheres às que nom tinha visto o rosto mais que em sonhos e que tapavam em muitos casos a cabeça com panos de cores.