Conversas de bar. Conversas casuais às sete da tarde. Umha birra que cai ao chao, um cigarro que se acende de má maneira.
-Onde botache todos estes anos?
Ele foi peom de obra, camelho, busca-vidas atracador. Ele foi de todo o que se pode ser nascendo nas faixas de populaçom mais empobrecidas e medrando nos anos oitenta. A sua raiva acumulada roça também o cepticismo mais profundo.
Quem maneja a política, para que serve. Quem gere, para quem gere. Qual é o mal menor, quem o pior dos corruptos. Em determinados ambientes, que moto querem vender? Nom é umha questom de confusom, nom, como a das chamadas classes médias. É umha questom de desconfiança profunda com o poder e com todo aquele merchandising político, venha de onde venha. Umha desconfiança também, desde a distáncia dos ghettos “antisistema” (se é que seguem a existir).
“Neno, o primeiro é ser pessoa”. Umha afirmaçom que subliminalmente assinala as necessidades básicas humanas, a segurança e dignidade mínimas, a integridade pessoal que para alguns passa, pensamos, por umha integridade e dignidade coletiva frente as diversas opressons, todas elas derivadas do mesmo sistema e favorecidas polos mesmas elites.
Passa a poli, fai aceno de parar. Olham para nós. Rim. Claro, eles também jogam. Nom é, e bem sabemos, mais que um jogo de espetáculo, que os delinquentes estam bem mais arriba e bem mais adentro do poder. A poucos metros de nós está o ponto de venta de droga mais conhecido da cidade, mas isso é também indiferente, porque a droga circula internacionalmente desde as nossas ribeiras até o centro de Europa, e quem para isso? Que poder necessitamos para isso? É um poder nacional soamente? Pode-se combater, como combateu o E.G.P.G.C. , bastante antes das operaçons anti-droga de lavado de cara policial, mas, ainda assi, será sempre um combate simbólico.
-Todo o que se quiger mudar tem que ser desde um arraigo muito profundo, digera aquele veterano preso político.