Ourensao do 1980, Iago Vilar tem um longo percurso nos movimentos sociais desde que começara a sua militáncia na AMI a primeiros deste século. Membro na atualidade do SLG e gadeiro na comarca de Arnóia, é dos centos de galegos e galegas que apostou por viver no rural e participar ativamente na sua defesa. Com ele falamos das razons que o levárom a abandonar as promessas dumha formaçom altamente qualificada e das perspetivas de futuro do nosso campo

Inicialmente, a tua qualificaçom nom te levava ao mundo agrário, verdade?

Pois nom. Estudei engenharia informática, e na minha juventude acabei fazendo um doutoramento em Granada em Inteligência Artificial. Já na altura desconfiei daquilo e pensei que podia acabar no engano tam grande que com efeito estamos a ver hoje…polo que procurei outras vias e outros caminhos. Assi dou com a agroecologia.

Imagem: gando agroecologia

Como se produz este encontro?

Um pouco por acaso. A partir dos movimentos sociais, entro em contato com o mundo agroecológico, de partida compaginando o meu trabalho de informático com o trabalho na horta numha cooperativa de distribuiçom e consumo. Eu o campo sempre o tivem presente, pois tinha primos e tios no setor do vinho, meus avôs foram labregos…som dessa geraçom de galegos criado um pouco a cavalo entre o rural e a cidade, polo que o campo me era familiar e sempre gostara dele. Que acontece? Que nós também nos criamos nesse estigma, que se o campo nom serve, que se nom tem futuro, que se nom tem saída…eu racho com essa ideia e boto 5 anos de formaçom em Granada, ao voltar tentei aplicar os conhecimentos que adquirira.

“Que nós também nos criamos nesse estigma, que se o campo nom serve, que se nom tem futuro, que se nom tem saída…eu racho com essa ideia e boto 5 anos de formaçom em Granada, ao voltar tentei aplicar os conhecimentos que adquirira”

Como se inicia a tua etapa de gadeiro?

Tivem umha pequena experiência em Vedra num projeto agroecológico, logo desloco-me à minha terra, a Ourense, e conheço gente dedicada ao gado que precisa ajuda no manejo. Esse é o meu primeiro contato. Depois dumha primeira fase, entro no vacum de carne.

Quais som as dificuldades com as que bate um galego ou galega que quer começar umha vida no rural?

As primeiras som o acesso à terra e à vivenda…partir de zero sempre é complicado, e as ajudas da administraçom estám pensadas para pessoas que herdam a exploraçom. Logo, o grau de dificuldade depende do contexto, do lugar no que um estiver e quiger começar. Há umha tendência que é a começar com a horta, que nom precisa nem grande investimento nem grandes terrenos; há dificuldades, é claro, mas acaba por dar…no caso do gado é distinto, pois precisas extensom, e precisas reunir. Em zonas de alta pressom gadeira é difícil ter espaço. Onde estamos nós, a cousa foi distinta. Era umha zona mui abandonada desde os 60 e 70, com a emigraçom massiva ao País Basco; isto baleirou-se, e aqui a gente está mais disposta a ceder terrenos. Nesse ponto é mais doado. Em contraposiçom, ao estar abandonado todo, dá-se menos qualidade produtiva.

Fala-se muito dos atrancos objectivos e subjectivos na hora de retomar a vida rural. Concordas com esta visom?

É umha pergunta mui ampla, assi formulada, depende de tantos factores…no aspecto subjectivo, sempre tivemos boa relaçom com a vizinhança, possivelmente isto foi devido a que havia umha família que se dedicava à horta, que nós já conhecíamos. Logo, como comentava, ao vivermos num área rodeada de bosque, pouco trabalhada, isto facilitou cessons. E no caso particular de Meire, a nossa paróquia, em Alhariz, pois nom somos realmente umha zona isolada, nom somos Chandreja de Queixa…entom, ao estarmos perto de Ourense, de Ginzo e do próprio Alhariz, a carência de serviços de outras zonas nom se nota tanto.

Para as pessoas pouco familiarizadas com o setor primário, e mais concretamente com a gadaria: poderias resumir os principais atrancos políticos e económicos que sofredes?

Mui sinteticamente diria que o nosso problema é o das pequenas exploraçons, que subsistem num quadro legislativo e económico pensado para fazer-nos desaparecer. Temos que procurar vias de comercializaçom alternativas às maioritárias, produzir com custes baixos mantendo a qualidade, aproveitar terrenos que outros nom querem…vaia, o oposto ao modelo convencional, que ocupa muito território, pom os preços abaixo, nom se preocupa pola qualidade. O mundo das ajudas está pensado para os grandes, dá-te de conta que nós se calhar manejamos 80 hectares, contando cessons, mas 60 delas som de chamada superfície marginal, que nem contam para o sistema, as ajudas nom as contemplam. Quando um gadeiro começa, a subvençom que recebe é em funçom da superfície que um tem, e aí temos a problemática da gente que se dedica a comprar direitos para cobrar mais ajudas, todo um mundo especulativo…

Enfim, que os atrancos há-os, mas gostaria de questionar essa ideia de que a vida do campo é mais apretada, como se na cidade nom houvesse dificuldades. Diria que as nossas dificuldades som específicas, isso si, mas acompanham-se de outras avantagens.

Estám-se a incrementar os atrancos com a mudança climática?

Eu o que noto e que cada vez é mais complexo fazer prediçons. O tempo está descontrolado, e os refráns dos velhos parecem valer cada vez menos…este ano levamos umha primavera e um verao mui bons, choveu muito, mas nom podemos dizer que nom venham secas que nos fagam padecer em outubro, por exemplo, como nos tem acontecido. A nota dominante é a incerteza, dentro dumha tónica que, segundo observo eu pessoalmente, nom é científico, que se carateriza por invernos mais suaves e veraos frescos. Acho que temos que estar ao dia para gerir essa situaçom, pôr o foco na formaçom e em trabalhar com poucos recursos.

Levas muitos anos no associativismo, primeiro urbano e agora rural. Como é participar no ativismo na tua zona?

O problema é que nom há muita gente com a que associar-se, porque somos mui poucos. Nom se concebe por exemplo umha assembleia de paróquia, porque somos tam poucos…as vilas jogam esse papel de aglutinante, de lugar no que nos atopamos, dam certa margem e podem coordinar esforços. Logo está-se a dar umha situaçom curiosa, que é que o rural em certa medida se repovoa, mas por pessoas que vivemos mundos paralelos: os chamados nómadas digitais a trabalharem na morada, e outra imigraçom que é classe obreira, fundamentalmente latina. Há um repto tremendo para organizar todo isto, porque o associativismo é irrenunciável.

Gostarias de deixar umha última mensagem para quem nos está a ler?

Gostaria de dizer que o rural é umha aposta central: a Galiza tem que produzir alimentos. Um país que nom é quem de produzir alimentos é presa dos especuladores e acaparadores; existe um interesse político de que nom haja labregos e labregas no território para instalar indústrias do enclave. Só se há gente no rural estes planos podem ser parados.