No vindouro domingo, na paróquia de Torés, nas Nogais, às portas dos Ancares, a memória da guerrilha antifranquista volverá a tomar corpo num exercício de figuraçom histórica artelhado pola base, e ponhendo em causa umha amnesia decretada polo poder em décadas de silêncio. Um dos responsáveis do evento é Hugo Fernández, um moço de 16 anos que pujo a andar “Torés escapado”, projeto que complementa ao vivo o importante trabalho historiográfico dedicado aos resistentes nas nossas montanhas. Com ele conversamos sobre recriaçom histórica, memória e antifascismo.

Como nasce umha iniciativa como esta?

A verdade é que eu som umha pessoa mui interessada na História, vou começar o curso que vem o Bacharelato, mas a minha paixom é esta disciplina, e quero ser historiador. No ano passado, um grupinho de amigos fixemos umha curta sobre uns escapados; era umha curta precário, com poucos recursos, ao que logo seguírom mais dous. O primeiro fora para uso académico, os outros por gosto. O certo é que tanto me fascinou o tema dos fugidos que nom o dim tirado da cabeça. Um dos meus amigos, Fernando Espiña, dixo: “e se fazemos recriaçom histórica sobre isto?”. Dixo-o depois de vermos um documentário sobre a guerrilha em Astúrias. A mim ao primeiro pareceu-me umha tolada…mas logo mudei da ideia, e dixem, por quê nom?

Tínhades algumha noçom da guerrilha graças ao sistema educativo?

Nengumha, absolutmente nengumha. Víramos um documentário sobre o maquis por conta própria o ano anterior, mas isto nem de longe se toca no sistema educativo.

Umha das provas para a figuraçom. Imagem: Hugo Fernández

Existe um interesse especial na adolescência ou mocidade sobre este fenómeno?

Tristemente, tenho que dizer que nom existe interesse; nom por iso, senom pola história, e pola cultura em geral. Umha ignoráncia absoluta, o que por vezes me leva a certa frustraçom…por nom dizer que este desinteresse pola cultura, junto com os comportamentos gregários, já sabemos ao que leva na história, como aconteceu noutras etapas, ao totalitarismo…por isso, a atividade que fazemos, se bem nom é um ato político, si que é um ato que quer reivindicar a memória e os valores democráticos.

Que foi o que mais chamou a tua atençom do movimento guerrilheiro?

Por riba de todo, o fenómeno dos enlaces. Claro que a figura do guerrilheiro me impatou, umha pessoa à que nom lhe importa morrer pola causa, umha pessoa que se considera umha peça da revoluçom e que, a diferença dos escapados, que fogem porque perigam, por pressom, se incorporam por lealdade política. Mas ainda me impata mais o que está na casa, o que aguanta com o filho ou o homem no monte, todo o dia acosado pola guarda civil…impatara-me muito o testemunho dum homem asturiano que contava como chegaram a fazer o paripé de fusilar a umha avoa de 91 anos, tirando-a espida a fora da casa, porque um familiar era dos do monte. Logo, esses códigos que tinham que saber os enlaces, como agir, nom assobiar no monte por se significava algo, ir com tanta cautela…o dos enlaces é um tema que vai mui bem para umha curta, mas menos para a recriaçom histórica.

Como fostes concretando a atividade?

Umha vez que tivemos a ideia inicial, descobrimos, graças ao blogue da associaçom Património dos Ancares, que se dera um importante enfrentamento na zona entre guerrilheiros e regulares da ditadura na zona de Fonfria e as Cruzes, nas Nogais. Pensamos de partida que isto daria para umha interessante figuraçom…mas indo ao concreto, por razons técnicas, vimos mui difícil trazer grupos de recriaçom que incluissem os regulares, o mais perto estava em Aragom…assi que pensamos em algo mais humilde, e em recriar a cena do assalto a umha igreja, onde os guerrilheiros vam polo cura, e logo mantém-se um enfrentamento arredor do castelo com os falangistas.

Hugo Fernández, em Torés. Imagem: Hugo Fernández

Em que cenário se vai desenvolver?

Para quem nom conhecer a zona, direi que Torés é umha paróquia das Nogais com umha torre do século XIV, e é um núcleo que sabemos estava já habitado na Idade do Ferro. Meu pai é de aqui, e eu botei longas temporadas, vinha os fins de semana, conheço isto mui bem, e dói-me ver o estado da torre, num deterioramento total, que se pretende deixar cair para construir aqui um parque eólico. Esta atividade, entre outros fins, tem o de reivindicar o lugar e defender que siga vivo, com o seu património.

Podes comentar-nos os recursos técnicos que precisa um evento assi?

O primeiro que quero esclarecer é que nom se trata de recriaçom histórica, mais exatamente trata-se de figuraçom histórica. Há algumhas cousas que me dam raiva, como quando se diz que o Arde Lucus é umha festa de recriaçom histórica, quando o que é umha festa de disfraces que procura a participaçom massiva, e sem preocupaçom polo rigor. Na recriaçom histórica nom conta o número nem o público, o que mais conta é o rigor e a implicaçom total dos participantes no evento, como se vivissem isso. Precisam-se estudos e um conhecimento brutal. Nós, por falta de meios, ainda nom podemos chegar a isso. Mas seremos 14 pessoas que representam 14 guerrilheiros, com os seus oficiais, e com o máximo cuidado possível dentro das nossas possibilidades, sendo respeitosos com a ambientaçom de época.

Qual foi o esforço organizativo?

Foi grande. Aqui quero citar Sergio Fernández, vizinho meu, que achegou praticamente todo, roupa, as armas para a representaçom…logo, muita outra vizinhança que se implicou, eu contribuim também com a minha experiência no Arde Lucus, do que tenho participado, com esses matizes que comentei antes, mas é umha festa da que se aprendem cousas.

Que continuidade terá a iniciativa?

Em anos sucessivos queremos introduzir mais e mais rigor, converter isto num evento de recriaçom histórica real, com roupa exatamente de aqueles anos, com marchas nocturnas, com mais duraçom; vaia, algo realmente rigoroso. Isto só é um primeiro passo.