Algumhas palavras, velhas e pouco sofisticadas, ainda som como foguinhos. Abrem refúgios na noite e, en vez de iluminar-nos –como fai a luz soberba e cegadora de Deus, a Ilustraçom e outras palavras com maiúsculas- alumam-nos. O justo para encontrar-nos e reconhecer-nos, o mínimo indispensável para un fogar (focolaris) onde cuidar-se e tirar o frio. Palavras, ou foguinhos, como dignidade, terra, a casa da nai, independência…. Para dar-nos as maos e encher as maos de maos, privilégio dos que levamos as maos vazias. Para sermos.

Carlos Calvo Varela. Topas, 6 de Fevereiro 2013

Aquele homem baila durante horas baixo os efeitos da cocaína e do álcol no bar dumha vila-fantasma que começa encher-se de turistas. Conduz depois até a casa ponhendo-se em perigo a si mesme e às demais pessoas. No fundo, há umha pulsom autodestrutiva.

Quando o entorno que nos arrodeia é descuidado, farragoso, virtualizado também, hostil, a tendência do ser humano é a do isolamento e da loucura. Quando o sistema empurra cara ai, cara a destruiçom e a hecatombe, é porque há poderosos interesses atrás, tam poderosos que militantes históricas tenhem-se enfrontado a ele desde umha perspetiva de mera sobrevivência e resistência em diversos contextos, sem perder o seu humanismo mas si renunciando a umha “vitória total” ou a algum tipo de pretensom de glorificaçom dos feitos. Simplesmente, nom havia mais caminho que a luita.

Houve autores/militantes históricos galegues que assinalaram nos seus artigos pessoais ou através de manifestos coletivos (elaborados alguns deles na tortura do isolamento penitenciário) a importáncia das resistências populares mais quotidianas, também mais anónimas e invisíveis, ilegalismos, tendências de reaçom efeitiva contra os poderosos…sendo a própria elaboraçom teórica em duras condiçons carcerárias umha boa mostra de ditas resistências. Algumhes ainda ficamos perplexes com a capacidade de analise em situaçons tam complicadas coma essa, na que a pessoa está submetida dum jeito quase total à maquinária do Estado.

Por necessidade ou conviçom, agora que a luta pola vida e a luta pola vida digna som já a mesma. Porque nom se pode conseguir a liberdade sem começar já a viver livremente; e para isso necessitamos bases materiais: maos e Terra” (Carlos Calvo, 2013)

Seria, num humilde artigo, pouco epopeico afirmar umha humilde hipótese, dado os tempos que correm de precário enfrontamento antiestatal. Penso que a atitude do anticonsumo total de drogas, legais e ilegais, pode ser considerado umha forma de desobediência individual ante todo um entramado, opressor a todos os níveis, de narcopartidos e narcoempresas, narcopolícias e narcoinstituiçons que nos governam com afás imperialistas, militaristas e espanholizadores.