A partir do 1 de julho, e durante umha semana, Semente convoca em Neda o primeiro acampamento Ultreia, umha alternativa de formaçom e lezer para crianças e adolescentes entre os nove e os quinze anos, rumada a afrontar, desde a perspetiva do ensino galego, umha nova visom do tempo livre. Falamos com Paulo Painceiras, um dos membros da comissom que a Semente pujo em andamento para materializar a iniciativa.
Na década de 30, no processo de expansom e maduraçom do movimento galego, dirigentes do PG pugeram em andamento os Ultreia, grupos de formaçom juvenil que pugeram em contacto umha parte qualitativamente importante da mocidade do país com a realidade histórica e cultural da Terra. Noventa anos depois, Semente recupera este nome para lançar os acampamentos Ultreia, que se estreiam em Trasancos na vindoura segunda feira. “Queremos ensaiar umha alternativa de lazer que ligue com o tecido associativo da zona, em contato com a natureza a e a história do lugar”, diz-nos Paulo Painceiras, um dos promotores. “Haverá crianças e adolescentes que poderám entrar em contato diretamente com a realidade social e associativa da zona, do desporto até o sindicalismo, passando pola arte popular”. Entre as atividades agendadas, está previsto que a rapaziada poida treinar futebol gaélico com a equipa Fusquenlha de Pontedeume, que visite os asteleiros de Navantia, introduzidos por sindicalistas, ou que elabore um mural de rua com apoio de Leandro Lamas, artista sempre vencelhado ao movimento popular. “Estamos ainda pendentes de confirmaçom dumha palestra com o presidente da Sociedade Galega de História Natural, e também assistiremos ao Festival do Rio Castro”, acrescenta Painceiras.
A participaçom é aberta, e além de crianças escolarizadas na Semente, já se receberam solicitudes de inscriçom de adolescentes que estudam noutros centros educativos. “Vai vir gente de todo o país, e para alguns rapazes, dada a situaçom sócio-lingüística, é todo um fito partilhar convívio com galegofalantes, pois é habitual que adolescentes instalados no monolingüismo em galego vivam isto em quase completa soidade durante o curso”, diz-nos Paulo.
Das ‘jeiras’ dos Ultreia ao acampamento de verao
Com o nome de ‘jeiras’, os grupos Ultreia organizavam na década de 30 saídas sistemáticas para conhecer a paisagem, o património e o tecido produtivo galego. Perguntamos a Paulo a razom da escolha deste nome quase um século depois: “a Semente considera-se legitimada para fazer-se dona de nomes da história do nacionalismo das que somos herdeiros; assi fixemos com o nome ‘escolas de ensino galego’ de Ângelo Casal; tomando o que nos serve e atualizando o que houver que atualizar; assi como as escolas de Casal eram só de rapazes, e isso superamo-lo, pois o mesmo faremos com os Ultreia originais.” Por que entom “Ultreia”? “Falamos dum coletivo que era realmente massivo, chegou a envolver 3000 rapazes, participando de visitas culturais, assistindo a palestras com o melhor da inteletualidade galega da altura, promovendo viagens em barco nos que foram sancionados por nom levarem a bandeira espanhola; hoje sabemos mesmo que moços dos Ultreia tiveram um papel mui ativo nas mobilizaçons da I República galega em Ourense.”
Pedagogia do tempos livre, umha disciplina pendente
“Há muito tempo que queríamos materializar umha iniciativa como esta”, afirma Paulo, “mas a cárrega de trabalho que implica a Semente é muita, e nom sempre é possível irmos tam rápido como gostaríamos.” O acampamento Ultreia vem completar o leque de iniciativas parciais com as que a Semente completa a sua proposta pedagógica: “temos comissons como os Babás, umha rede de cuidadoras galego-falantes, ou as Sementinhas, para crianças que ainda nom estám em idade de escolarizaçom; agora por fim podemos ampliar as idades por cima, e esse é o sentido de Ultreia, começar a trabalhar a pedagogia do tempo livre.”
A ideia estava presente, mas faltavam ainda capacidades logísticas para a concretizar: “por sorte, agora há trabalhadoras da Semente que venhem do mundo dos monitores sócio-culturais e do lazer, mui qualificadas para levar adiante esta proposta”, acrescenta Paulo. A ideia é que o encontro de Neda sirva como ponto de arranque para um projeto sostido no tempo: “o objectivo, quando possível, é que esta iniciativa de lazer e formaçom se desdobre e tenha vida própria lá onde existe a Semente, e já temos propostas neste sentido; pensamos em lançar acampamentos de inverno e primavera, e encontros de fim de semana, em comarcas como Compostela ou Trasancos o curso vindouro.”