MANIFESTO GALEGO DO DIA MUNDIAL DO TEATRO 2024
Vero Rilo
“Cada vida é umha novela que se perde”. Assi escrevia Castelao, no limiar de Retrincos, e razom nom lhe faltava… poderia ser o teatro as vidas que ficam, que nom se perdem, as possíveis ou imaginadas, as que fôrom, som e serám?
O teatro, se quadra único deus verdadeiro, cria vida à par que deixamos a vida nele.
E quanto dura umha vida? Quem o sabe! O que sabemos é que quando fazemos teatro detemos o tempo e nom há poder maior que o aqui e o agora. Que importa quanto dura se sabemos como parar um mundo que nom descansa, que chega às carreiras e asfixiado, sobre(des)informado, indecentemente desumanizado, onde todo é para já, já, já. Aqui sentas e todo se detém. Fai-se o silêncio. Silêncio para compartir um espetáculo irrepetível num presente constante. Quem nom quer viver assi umha vida enteira? Se formos quem de poder decidir como vivi-la, claro! Acaso nom esige o teatro dedicar-lhe toda umha vida? Nom é umha carreira de fundo na que permanecer apaixonadas e comprometidas dure o que dure? Quantas vidas enteiras numha só!
Pode ser este, regressando a isso de que o teatro é vida e deixamos a vida nele, um manifesto reivindicativo, sem quentar de mais, para falar às apuradas da precariedade laboral, dos variáveis apoios institucionais, da política das ajudas que só alentam a dependência, do abafo administrativo, da censura, da toma de decisons surda e alheia às demandas do setor, dos tratos de corredoiro, do conforto duns poucos frente o risco das muitas? Pode ser?
Se quadra ainda é cedo mas vai a ideia sementada até a colheita, que chegará sem dúvida: se de algo sabe o teatro é de resistência e insistência, também de rebeldia. Que lho digam a quem fizo um entrudo permanente, às que continuárom coa palavra viva no corpo e na boca, às que falárom mais polo que calarom em segundos de silêncio; que no silêncio também se conta quando é sostido e voluntário sobre um cenário. Continuemos neste exercício contra a desmemória, imprescindível para derrubar a norma injusta e demoledora. É cedo de mais para falar de Palestina?
Lembremos o compromisso coletivo, o engenho para fugir da pena e do penalizado, o poder matar o rei e sair impunes (mais ou menos). O teatro, companheiras, é transgressom e hoje festejamo-lo juntas.
Quigera ser este o manifesto da alegria. Ainda estamos a tempo? Será que si. Será que sempre é momento para o riso, a mais potente das armas, ferramenta para mudar o mundo. Que ousadia! Mas aqui todo é possível.
Amosemos hoje todos os dentes que entram numha boca, sejam mais ou menos -isso agora nom importa- para passeá-los como bandeira, sem medo e rir num ato de inteligência, de desobediência, de alegria imparável.
Gargalhadas a mancheias, que si, ou surrisos tímidos, tanto tem! O importante é nom deixar de fazê-lo. De verdade, que o dos dentes nom importa, era um falar. Rir juntas do ridículo, do ódio, do frívolo, do sagrado, da covardia. Que o teatro e o riso fossen, alá onde chegassen, antídoto e cura de havê-la. E hai-na.
O teatro é vida, é rebeldia, alegria e também salvavidas; e quem pujo os pés nas táboas, ou arredor delas, sabe-o. E neste día de festa estaria bem dançar a vida num instante efémero.
Docentes, actrizes, actores, equipas técnicas, quem dirige, quem escreve, quem pensa, quem nom cala, quem programa, amadisimo público, grandes, pequenas, bailem! Bailem todos, que diria Luísa Villalta. Agora começa o verdadeiro espetáculo! Vivam as vidas e que nom morra o teatro!
*Manifesto Galego do Dia Mundial do Teatro, que cada ano encarrega a “Asociación de Actores e Actrices de Galicia”. Compostela, Março de 2024. Adaptaçom ortográfica do Galiza Livre.