Desde que há séculos começou a dominaçom da Galiza, um conglomerado de elites autóctones, aliadas com as que desde Castela-Espanha impunham a sua vontade, incrustou-se nos postos de comando da nossa sociedade, manejando os principais resortes económicos, político-militares, académicos e territoriais. O aparente monolitismo com o que Estado nos aferrolha nom pode ser entendido sem a existência dumha quinta coluna autóctone que, empoleirada fundamentalmente em vilas e cidades, atrincheirada nas patronais e na criaçom de opiniom, desnacionalizados e com os seus apelidos castelhanizados, tem aproveitado a plataforma galega para a sua posterior promoçom mesetária.

Na contemporaneidade, a direita caciquil encarnou esta velha forma de domínio que, com a brevíssima excepçom da jeira republicana, arraizou capilarmente em todo o território no regime ditatorial. Os traumas irresoltos causados polo genocídio de 36, junto com a contínua tradiçom de êxodo do mais jovem, vivo e qualificado da populaçom galega, fixérom com que essa mesma elite se reproduzisse em tempos ditos democráticos com relativa facilidade, oferecendo umha imagem da Galiza institucional que em nada se corresponde com a vitalidade, energia e rebeldia da Galiza de base que se organiza nacionalmente desde a década de 60.

Existe um vasto consenso no pensamento galeguista, algo assi como um sentido comum da nossa comunidade nacional, na hora de apontar que um salto qualitativo no nosso processo de afirmaçom como povo se produzirá quando esta elite, agrupada hoje baixo as siglas do PP, for deslocada do poder autonómico; mesmo se esse deslocamento o protagoniza um nacionalismo ainda, em pleno século XXI, de independentismo apenas tatejante, e em companhia da família liberal da direita espanhola, hoje agrupada no PSOE.

É por isso que no domingo vindouro, umha imensa maioria do independentismo votará no BNG, se bem existirám contingentes leais à tradiçom de indiferença eleitoral que inaugurara o velho arredismo de Fuco Gómez e A Fouce há um século, com interesse noutras coordenadas. Para além dos cálculos eleitorais que nestes dias ocupam toda a imprensa galega, ao movimento que constrói o nosso país pola base cumprem-lhe certas reflexons de calado.

De se produzir umha mudança de governo liderado por nacionalistas, o estado de dessídia e fatalismo que domina amplas capas de populaçom descontentes com o statu quo ficará enfraquecido, o que de seu é umha grande nova para um país no que o factor subjectivo tem lastrado tantos projectos, ou funcionado como excusa para a inacçom. Nesse hipotético cenário, também o enorme conglomerado institucional e para-institucional com o que se reproduz a direita espanhola na Galiza, incluídos uns meios públicos sequestrados, poderia viver umha reconversom profunda que alteraria o histórico desequilíbrio de forças entre galeguismo e espanholismo, abrindo um horizonte inédito. Mas tampouco ignoremos que, se bem os poderes fácticos engordam com as instituiçons galegas, mantenhem as suas constantes vitais mesmo sem elas: existe todo um grande conglomerado empresarial e mediático, apoiado na passividade e na desorganizaçom social, que se encarregará de pôr os limites estritos a qualquer acçom governamental num sentido nitidamente nacional galego, chegando se o considerar preciso ao bloqueio e o boicote. Apenas um movimento popular vigilante, honesto e de grandes dimensons, nitidamente independentista, poderia dar espaço de manobra a um governo supeditado a Espanha, cercado pola reacçom e aliás co-participado por um partido chave na engrenagem do Estado, o PSOE.

De manter o PP a sua hegemonia eleitoral, um estado de resignaçom, calmaria e derrotismo iria causar efeitos no movimento popular; se estes factores tenhem umha explicaçom compreensível (pois as longas dominaçons tenhem efeitos erosivos na moral), também é certo que a concessom dum papel exagerado à luita eleitoral fai o povo mais delicado e vulnerável a ciclos como estes. É confundindo prioridades como nos fazemos vítimas de estados de ánimo maníaco-depressivos regidos por ciclos eleitorais de apenas quatro anos.

O neoliberalismo familiarizou-nos com umha política eleitoral que devora as outras formas de intervençom social: vertiginosa e impactante, ruidosa e sempre pública, regida por e para profissionais da gestom e mediatizada por empresas de mercadotécnia. É, com efeito, umha parte das sociedades do século XXI e resulta impossível de ignorar, também na Galiza, mas tem escurecido perigosamente o terreno fértil onde a emancipaçom galega leva a desenhar-se desde há 170 anos: no trabalho voluntário e mancomunado, muitas vezes silencioso, na luita das ideias, na relaçom cara a cara, na criaçom de outras legitimidades que nom som as que plasma um quadro político-jurídico e o seu pessoal burocrático de serviço. Independentemente do que acontecer o 18 de fevereiro, eis o centro de gravidade no que cumpre afincar o dia depois da cita eleitoral. Neste terreno, o dos rebeldes de 46 e as Irmandades, o de Fuco Gómez, o do independentismo do último médio século, continuará a trabalhar este meio, com todo o tecido mediático, sindical, juvenil, cultural e político que pensa no norte estratégico da República galega.