Sofia Taboada nasce em Ourense, em 1997. Gradua-se em Geografia e História, interessada especialmente na história contemporánea, e depois da pandemia decide formar-se em Fotografia para poder dedicar-se laboralmente a este campo. Neste inverno, dedica-se a retratar o Entruido de Maceda e as suas figuras, os felos, tentando espalhar a riqueza comunitária que perviviu de maneira milenária no rural ourensao. Galiza Livre fala com ele nos dias grandes do carnaval galego.
Como chegaches à fotografia após graduar-te em História?
Tras a pandemia, dei-me conta de que nom queria dedicar-me laboralmente ao que estudara, se nom que queria fazer fotografia, cousa que já levava tempo fazendo pola minha conta. Já com 19 anos comecei a fazer analógico e estivem sempre vinculada ao mundo das artes dalgum jeito, já que a minha família estava, por umha parte, mui relacionada com a pintura, e logo, também minha mãe era professora de Geografia e História e apaixonada pola arte, polo que passei muitos veraos visitando museus na minha infáncia.
Por que che interessa fotografar o Entruido?
A verdade é que, em primeiro lugar, é algo que me fascina; mas tenho que admitir um grande desconhecimento, polo menos até agora, já que a minha aproximaçom ao Entruido foi mui paulatina, e sim que é verdade que nom tivera a experiência de viver Entruidos como o que estou vivendo agora, já que eu vivera um Entruido mais urbano, que nom tem nada a ver com isto. Mas também nunca lhe dera a importáncia que tem tanto no cultural como no identitário a esta festa; agora, quanto mais sei, mais me fascina, sobretodo por este carácter irreverente da própria festa, por estas relaçons sociais que se dam, por ver como se fai comunidade, por exemplo… e também porque venho recentemente de ter umha formaçom em fotografia de moda e este tipo de temas, pois tenhem muito de onde tirar daí. Interessava-me fotografar cumha nova linguagem aquilo que está mais vencelhado à tradiçom; nom é nada novo, mas tampouco se figera antes aqui, ou polo menos deste jeito. Escolher Maceda foi algo casual e seguim documentando-me depois da primeira vez que fum porque me dei conta de que si que hai algo especial nestas pessoas que fotografei, na forma que tenhem de relacionar-se, de como criam laços, existe também muito amor à tradiçom, muito respeito pola festa, mas sem deixar de ser isso, umha festa.
Achas que alguns valores das tradiçons galegas poderiam servir para criar umha sociedade mais justa?
Nom sei se me atreveria a dizer que mais justo, desde logo sim que mais coesa ou mais empática, mais crítica… isso sim, seguro. E a verdade é que me interesa muito como, nesta época do Entruido, e refiro-me ao que estou a viver em Maceda neste ano, as relaçons sociais digamos que se fam, por dizê-lo dalgum jeito, exponenciais; para mim, que fum umha nena de aldeia na que quase nom quedavam vizinhos, salvo no verao, ver que ainda hai sítios nos que umha festa tem tanta potência, está tam cheia de vida e que resiste, serve para dar-me conta deste papel chave que tem à hora de fomentar os laços de comunidade e obviamente fai-me sentir mui orgulhosa.
Como interessada no mundo da moda, pensas que existe algum jeito de entendê-la que poda transformar o mundo a melhor? Que cres que é o melhor e o pior do mundo da moda?
Si, claramente. Eu creio firmemente no poder transformador da moda e nom só é moda aquilo que vemos nas passarelas ou aquilo que está relacionado com luxo, com o efémero e com o consumismo… Outra cousa é que o mundo da moda seja um mundo complexo, claro. Dentro desse mundo há cousas que nom tenhem justificaçom, que todas conhecemos, como a exploraçom laboral, a contaminaçom, o body-shaming… O que sim que penso é que a moda tem umha certa permeabilidade na sociedade e vice-versa; é dizer, creio que tem umha olhada certeira sobre a incomodidade de assinalar certos temas por serem tabus; por exemplo, estou pensando numha exposiçom que se presentou em 2017, a cargo de Vogue Italia, que se chamava Fashion and Politics, na que se presentavam imagens que ao longo das décadas foram imagens escandalosas e tratavam temas controvertidos como eram o racismo sistémico, a pressom sobre o corpo das mulheres, desordens alimentárias que propicia o mundo da moda ou em geral, a cultura e o mundo capitalista no que vivemos, também abuso de substáncias, brutalidade policial ou temas como o Me too. Esses temas, nesse momento, eram mui polémicos, ainda que isto ocorreu há só 7 anos, creio que se avançou muito na percepçom destes aspectos.Sim que me parece mui relevante que o mundo da moda se faga eco destas cousas, ainda que nom vaia solucionar todos os problemas, sim que é importante que se mostre. Creio que quando as campanhas se fam desde esta ótica crítica, é realmente quando funcionam. A provocaçom de por sim, que é algo mui comum no mundo da moda para vender mais, nom fai sentido e em moitas ocasions nom há ningum poder transformador aí, só uns senhores nas elites que tenhem ganas de provocar e, sobre tudo, vender mais. Fam falta muitas respostas do sector a muitas problemáticas sociais e culturais e creio que é bom que cheguem por umha via mainstream, para que chegue à maioria da sociedade, porque doutra forma estas questons podem ficar perdidas como debates abertos e nom ter umha resposta clara, nem plural.