*Artigo publicado originalmente na Revirada Revista Feminista.

Os motivos que levam a migrar som diversos, mas as naturais dum paÍs tendem a pensar que as que migram e escolhem viver no seu país gostam dele. Caso contrário, nom o fariam. Pessoalmente a minha ligaçom com a Galiza é mais política e cerebral, que sensorial. Os cincos sentidos nom conseguírom desenvolver umha conexom física com a Galiza, mas forom os ativismos que conseguírom.

Enquanto pessoa que deixou a terra onde nasceu para ir viver noutro país, quero perguntar à gente da Galiza: gostades do vosso país? Nom pergunto se estades bem, se ganhades bem a vida, se a vossa vida é satisfatória. A minha é umha pergunta muito mais emocional e, para muitas pessoas, de resposta óbvia.

Gostades do vosso país, fai-vos felizes, gostades dos seus perfumes, de reconhecer cores e sabores? Estades orgulhosas de viver aqui?

Enquanto pessoa que deixou a terra onde nasceu para ir viver noutro país, quero perguntar à gente da Galiza: gostades do vosso país? (…) Pergunto-vo-lo porque durante muitos anos me figérom estas mesmas perguntas a mim, dando por descontado que a resposta fosse um sim.

Pergunto-vo-lo porque durante muitos anos me figérom estas mesmas perguntas a mim, dando por descontado que a resposta fosse um sim.

Obviamente, se vim viver aqui, será porque me agradam o ambiente, a gente, a cozinha, etc. Haverá talvez aspectos aos quais “ainda nom me habituei”, mas é interessante constatar que em geral se dá por descontado que se vives num país, é porque gostas, ainda que desde o primeiro momento digas que se emigraste foi por motivos profissionais ou económicos.

Durante muitos anos, o que mais me agradava de viver no estrangeiro era a possibilidade de ter um trabalho remunerado, conhecer outras culturas e outra gente. Gostava de que houvesse possibilidade de trabalho, que existisse o subsídio de desemprego e que os buses chegassem pontuais. Sabia que ao ser umha migrante europeia – portanto privilegiada – as burocratices eram bastante rápidas. Um exemplo: a homologaçom dos meus títulos universitários tardou só 4 anos e agora parece que para européias é ainda mais rápida. Para outras nacionalidades continua a ser eternas. Em suma, durante anos apreciei as oportunidades deste país, ainda sem gostar em modo particular dele. Nom era o meu lugar no mundo e com muita probabilidade nunca será. Se falamos de terra, pele, água – elementos físicos, corporais, emocionais – há muitos outros lugares no mundo que provocam o meu total envolvimento. Mas quando migras, a prioridade é chegar ao final do mês, construir umha certa estabilidade, plantar raízes ou tentar fazê-lo.

Neste ponto intervém como sempre o tema dos afetos.

“Já encontraste namorado aqui?” era a segunda pergunta depois de “gostas de viver aqui, nom é?”. Sendo umha rapariga, ter umha relaçom sentimental era considerada a razom prioritária, mesmo antes do emprego. A resposta é sim. Se nom fosse por umha relaçom afetiva, quase com certeza, nom teria ficado na Galiza.

Portanto, “se estás aqui é porque namoras” continha umha parte de verdade. Mas isso levou-me a gostar do país? Fijo-me criar um laço sensorial, feito de cores, odores, reconhecimentos tácitos, sorrisos internos? Que desejasse voltar com saudade? Nom estou certa.

Continuando a falar de afetos, estam as amizades, a famosa “tribo” de que tanto desejei fazer parte. Isso considero que é um dos meus fracassos, na migraçom, nom ter conseguido tecer umha rede de amizade, mas só um número diverso de conhecidas esparsas.

Entom, que é o que mais aprecio do país onde vivo?

Sinto-me orgulhosa de viver na Galiza pola rede ativista, pola energia de mudança social que a percorre. O ativismo feminista, ecologista, anti-racista, anti-capacitista, anti-homofobia e transfobia. Mas também ativismo nacional e linguístico.

Tantos coletivos, tantos movimentos sociais organizados na procura da justiça social.

O esforço quotidiano das companheiras que trabalham juntas em prol de objetivos comuns. Leio, escuto e admiro tantas experiências de ativismo e orgulho-me de viver aqui. É fonte de admiraçom, de respeito e, talvez, o único sentimento de pertença que conseguim desenvolver.

Quanto ao resto, quero perguntar às companheiras migradas aqui, se gostam mesmo deste país. Se nom dam chegado ao final do mês ou vivem umha situaçom emotiva penosa, esta pergunta será estúpida e frívola. Peço desculpa.

De qualquer modo, viver num país nom significa necessariamente amá-lo e convém admiti-lo para se reconciliar com ele.

De qualquer modo, viver num país nom significa necessariamente amá-lo e convém admiti-lo para se reconciliar com ele.