Ela está a escrever um relato sobre os anos nos que descobreu e conheceu um centro social autogerido de tendência independentista.
Passaram quase 20 anos desde aquela êpoca que ela descreve tam bem. Muitos daqueles centros sociais desapareceram, muitos nasceram depois deles, e muitos se consolidárom.
Diz ela que há que olhar para o futuro, e nom para o passado, e por isso parou de escrever. É umha mágoa, realmente, porque descrevia muito bem o ambiente dum centro social dumha vila do extra-rádio, nos tempos previos ao relacionamento via washapp. No borrador do seu relato, podiamos apreciar o esforço e organizaçom dum pequeno grupo de pessoas, mas também a ingenuidade, o voluntarismo ou os pequenos desencontros.
Nom puido obviar, logicamente, a ilusom implícita ao projeto. Mas, por que ela parou de escrever?
Suponho eu que narrar ou poetizar as andanças dum povo tem as suas taras. A vida é curta de mais e a diversom de escrever nom sempre enche quanto quigeramos. A escrita pode ser um arma, mas tampouco nom sempre é tam afiada como quigeramos. Também, quando entre a realidade que nos arrodeia e a escrita há um espaço amplo de mais, os ocos enchem-se com fantasmas.
Estes fantasmas puderam ser umha espécie de droga, como o alcol que tomavamos algumhes para tapar ou solventar as nossas incapacidades comunicativas e emocionais? E que dificil é descrever a atividade de qualquer grupo mais ou menos juvenil sem falar a fundo do papel que as drogas jogaram nesse contexto…
Por fortuna, casualidade ou formaçom política, e salvo contadas exceiçons, as drogas nom eram nem umha personagem secundária no ambiente que descreve a minha amiga. Precisamente, por ter-se tratado aquele centro social dum projeto no extra-rádio, o hiperlúdico-festeiro tinha-se botado a um lado e, se bem isto formava parte da vida das protagonistas da história, apenas entre as atividades organizadas e a vida associativa teriam agromado essas questons. Isto nom quer dizer que o local nom fora visitado por pessoas aditas a drogas legais e ilegais, sendo o alcol umha grande contradiçom permanente no dia a dia organizativo. (Por fortuna, casualidade ou formaçom política, a entrada economica principal nom era o alcol se nom aportaçons individuais de dinheiro, que chegavam aos 40 euros mensais de jovens sem apenas recursos…)
Havia que animar a esta pessoa que iniciou a narraçom do relato a continuar. Porque se (como bem diz ela) o importante é olhar para o futuro, necessitamos imaginar outras realidades possíveis que transgredam o presente e para as quais em experiências anteriores podemos resgatar ideias e dinámicas diversas. E quem fala dum centro social, fala também de qualquer coletivo ou grupo de afinidade que tenha desafiado o existente.