Viguês do Calvário, nascido em 1999, Moisés Pombo estudou Comunicaçom Audiovisual estimulado polo mundo dos youtubers, e ele mesmo abriu o seu próprio canal na rede. Conhecedor por acaso da existência de presos e presas independentistas, realizou um Trabalho de Fim de Grau em formato podcast, no que narrou o seu descobrimento da realidade penitenciária através das cartas com Miguel Garcia. Com ele falamos de Cartasacadea.gal, umha pesquisa que nos achega a umha percepçom distinta à habitual, a do conhecimento da repressom desde círculos alheios ao independentismo.

O teu trabalho, além da motivaçom académica ou humanitária, tem umha elaboraçom técnica importante, liga isto com a tua formaçom?

Si, fai-no. Formei-me em comunicaçom audiovisual e além do ciclismo, a minha outra grande afeiçom, sempre estivem interessado nos novos sorportes tecnológicos. De facto, escolhim esta carreira porque de muito novinho queria ser youtuber; abrim um canal que hoje tenho um pouco parado, mas ao que dediquei horas. Logo, como me especializei no formato podcast, escolhim este formato para levar adiante Cartas à cadea.

Como chega um moço coma ti à realidade dos presos e presas independentistas?

Nom parto, à verdade, de nenhuma experiência militante. Si que me considero umha pessoa com consciência, no idiomático, por exemplo, aos dezassete anos vou passando devagar à língua galega, e essa evoluçom vê-se no meu canal de youtube (graças a esta mudança de língua, ganhei audiência aliás, porque existe umha certa comunidade vinculada à língua). Logo, em Madrid, na universidade, tenho relaçom com colectivos de esquerdas, mas nada muito profundo. Quando conheço a existência de independentistas galegos presos, achego-me a isso, a dizer verdade, por humanitarismo, mas também com certos prejuízos.

Como conheceche exactamente a sua existência?

Um dia, no twitter, vim que se pediam fundos contra pessoas solidárias retaliadas, os chamados “doze da Jaro”; pareceu-me mal que se penasse a solidariedade, e decidim comprar um bono. A partir daí chego a colectivos como Que voltem para casa!, logo Ceivar…e descubro que há presos e presas galegas, e que agora já estám a cumprir condena na Terra. Decidim-me a escrever-lhe a todos eles, a todos eles e a um moço de Madrid encarcerado em solidariedade com o 1 de Outubro catalám. Aí vam as minhas primeiras cartas, com umha mestura de desconfiança, prejuízo, e também medo, por me meter na vida de alguém que nom me chamou.

Quando conheço a existência de independentistas galegos presos, achego-me a isso, a dizer verdade, por humanitarismo, mas também com certos prejuízos. Aí vam as minhas primeiras cartas, com umha mestura de desconfiança, prejuízo, e também medo, por me meter na vida de alguém que nom me chamou.

Que descobriche a partir de entom?

Estabelece-se umha correspondência regular com o Miguel, especialmente. E surprendêrom-me muita cousas, por volta da sua humanidade. Todas as minhas perguntas iam para a questom penitenciária, mas dei quase com um filósofo, com respostas muito fundas sobre muitos temas…fum deixando logo de parte os medos a perguntar, e chamou-me a atençom a sua sinceridade: dixo-me que com efeito ele ajudara a militantes fugidos, nom sentia arrependimento, e falava dum certo orgulho de estar na cadeia, pois recordo que escrevia algo assim como que ao longo da história muitas pessoas dignas tinham passado polo cárcere.

Que foi o que mais che chamou a atençom do mundo penitenciário?

Penso que, sem o conhecer directamente, todos estamos muito condicionados polo que temos visto nos filmes, nomeadamente norteamericanos. Mas fora das questons mais superficiais, a medida que um profundiza vê que se trata de umha questom muito política: qual é o modelo penitenciário ideal, se este existir? Que passa com modelos como o nórdico? Por que nom se cumpre o objectivo apregoado da reinserçom?

E logo, no caso que conheço através do Miguel, impactam-me muitas cousas: que se este tipo de presos e presas em regime especial tenhem as cartas limitadas, que se som lidas por outros…que se nom se cumpre o direito à cela individual na maioria das presas e presos…

Vou conhecendo também algo mais polo miúdo o estigma social que há arredor dos cárceres: vejo que deixam de estar no centro das cidades e passam a deslocar-se a lugares quase invisíveis no médio do monte, vejo os prejuízos que há socialmente na hora de falar deles…e claro, vou entendendo que a militáncia anticarcerária, por estes prejuízos que cito, é muito mais complexa de levar adiante que outro tipo de activismo, como pode ser o antirracista, ou o relacionado com as migraçons.

No caso que conheço através do Miguel, impactam-me muitas cousas: que se este tipo de presos e presas em regime especial tenhem as cartas limitadas, que se som lidas por outros…

Como foi acolhido o teu trabalho académico?

Na universidade muito bem, a verdade. Foi o meu titor o que me animou a levá-lo adiante, quando eu lhe comentei que me escrevia com um “terrorista”, pois considerava que era dar voz a quem nom o tinha. Logo, tinha bastante medo, porque o apresentei em galego (ainda que traduzim o web para apresentá-lo), e isto era numha universidade madrilena. Mas ao cabo gostou, e ao combinar-se um tema original com áudio e imagens de web, pareceu um trabalho sólido.

No entorno cercano, familiar, ao princípio houvo surpresa, por eu escolher um tema assim. Mas conhecendo os seus conteúdos, por exemplo minha mae, que estivo perto da realizaçom, e que para nada coincide politicamente, entende que si, que esta gente algumha cousa faria, mas que nom se merecem este castigo, vim umha grande empatia no aspecto pessoal. Obviamente, estamos ante um trabalho pouco político, nom me posiciono demasiado sobre Miguel ou resistência galega, eu limito-me a contar que há presos e presas independentistas. Fum bem comedido.

Como pessoa vinculada com o mundo dos meios convencionais, pensas que é possível abrir neles um espaço minimamente rigoroso sobre os e as presas independentistas?

Parece-me muito, muito complicado. Antes de encetar o trabalho, preocupei-me com saber se estas pessoas tinham delitos de sangue, logo vim que nom. Procurei e procurei, informei-me, e decatei-me de que os jornais convencionais davam por feito muitas cousas mesmo antes de se celebrarem os juízos. Para ter umha visom global tivem que dar com muito trabalho ciscado pola rede, no Galiza Livre, no Galiza Contrainfo, em publicaçons anarquistas do Estado espanhol…a verdadade é que pesa tanto o termo “terrorismo”, conleva umha barreira tam grande, que um tem que andar sempre a dar explicaçons. Certamente que em meios de esquerdas como Diario.es havia mais prevençom, falava-se em “pessoas acusadas de”, mas nem estes meios vam tam longe como para esclarecer que é terrorismo ou nom é, para denunciar o abuso da prisom preventiva ou dos regimes especiais…porque se dá por feito que se há terrorismo, a receita contra ele é o estado de excepçom. Entom aí entramos em terrenos delicados. Eu, ao fazer o meu trabalho, tivem que repetir muitas vezes que estava contra o terrorismo, mas claro, temos que ser rigorosos. Que é terrorismo? O que fai Futuro Vegetal é terrorismo? E penso sempre naquele famoso poema de Martin Niemöller que dizia que eu nom protestei porque nom perseguiam aos nossos, mas ao final vam ir por nós todos.

Eu, ao fazer o meu trabalho, tivem que repetir muitas vezes que estava contra o terrorismo, mas claro, temos que ser rigorosos. Que é terrorismo? O que fai Futuro Vegetal é terrorismo?

Miguel Garcia, com quem te carteache, sai na segunda feira com medidas extremas de liberdade vigiada que suponhem umha morte civil em toda regra. Como as valoras?

Estou abraiado. A primeira reflexom que figem é que todas as cartas que cruzamos, agora mesmo, que tem mais liberdade, nom poderíamos cruzá-las. E pensei também em que nom poderá nem receber o afecto dos seus numhas boas vindas; nem tam sequer aceder a páginas web “que radicalizem”, entom entendo que nesses webs se inclui o meu trabalho? Nom pode ser visto? Estou surprendido. Nom me podo pôr tampouco no que se pode viver na própria pele ao sair do cárcere e viver umha situaçom assi, eu nom sei como o geriria, como ia manifestar as minhas ideias. Mas ao cabo nom me podo comparar, porque eu nom creo nem em herois nem em mártires, e eu som muito mais covarde.

Obrigado pola tua atençom. Para acabar, quererias dizer mais algo da tua pesquisa?

Diria que esta pesquisa pode dar muito medo, a gente pode relacioná-la com resistência galega e parece que atemoriza; mas por trás há muito mais que isso: há aspectos pessoais, há reflexom sobre aonde chegam as nossas liberdades, aonde chega a política, porque temos cárceres, porque os cárceres estám ocultos longe das cidades…muita gente nom se achega a isto porque o envoltório é muito feo. Eu animo a superar o envoltório e ir ao cerne, a escrever aos presos e presas também, os direitos humanos nom se debatem.