Nesta nova secçom, “Memória do País”, pretendemos dar voz a protagonistas de experiências associativas do passado nascidas do movimento popular galego em geral e do independentismo em particular; contribuimos assim para memória histórica recente, e ajudamos ao reconhecimento popular de todo um entramado comunitário sem o que nom se poderia entender a Galiza que resiste em pleno século XXI. Começamos a secçom falando com Fóni Diaz, um dos militantes que protagonizou a experiência pontevedresa da Revira.
Como se gestou o Centro Social?
A gestaçom da Revira, que inicialmente se chamou Reviravolta, tem a ver com um contexto de fluxo do movimento de massas, nomeadamente do movimento estudantil em Compostela. Nessa altura xorde a organizaçom Nós-Unidade Popular, que impulsiona a criaçom de Centros Sociais onde um dos sinais de identidade é a utilizaçom da norma AGAL do galego. Existia já em Ferrol a Fundaçom Artábria e uns meses antes do nascimento da Revira criara-se em Vigo A Revolta. Cumpre dizer que em Ponte Vedra, nos começos (ano 2003), o local social tivo no seu núcleo fundacional pessoas de classe trabalhadora mas, como dizia, vencelhadas a Nós-UP e ao fluxo do movimento estudantil de conteúdo independentista que se dava na altura em Compostela, e que de aí irradiou a muitos recunchos da Galiza.
Que achegou ao longo do anos no contexto de umha cidade como Ponte Vedra?
A AC Revira tivo importantes aportaçons na dinamizaçom sociocultural e política da cidade. A Revira foi um lugar de encontro de moços e moças que partilhavam e se relacionavam em galego, mocidade que hoje é ativa em Ponte Vedra formou-se ou conectou com outra gente no local social. Acho que o Centro Social A Pedreira, mui ativo agora na cidade do Leres, tem na Revira a sua génese, quando menos em parte das pessoas mais ativas com as que conta. Na Revira desenvolvêrom-se dúzias e dúzias de atividades com maior ou menor sucesso, desde cursos de pandeireta a palestras, debates, concertos, exposiçons de fotografia e pintura, roteiros, e um longo etc. Desde a Revira socializou-se na cidade a figura do Apalpador, levou-se ao centro da cidade a Festa da Língua, celebrou-se o Samaim e o Magusto, apoiou-se a luita das e dos presos independentistas, figérom-se murais patrióticos, apoiou-se ativamente a luita contra ENCE e contra a guerra. Os locais da Revira cediam-se para serem centro de reuniom de diversas organizaçons do movimento independentista, feminista, juvenil e mesmo foi um local de referência para o grupo Furya Granate, siareiros do Ponte Vedra CF. O Novas da Galiza estava sempre no balcom do centro social.
Umha geraçom de moços e moças da comarca passou pola Revira, conheceu o que é um local social autogerido, praticou a generosidade de fazer turmas e trabalhos comunitários entregando o melhor de si mesmas/os, experimentou o bom e o nom tam bom da militáncia política com as suas grandezas e misérias
Qual foi a relaçom com o Concelho, governado durante todo o percurso da Revira polo nacionalismo?
A relaçom com o Concelho acho que nom foi má mas sim manifestamente melhorável. O Concelho ajudou-nos com megafonia e outros elementos na celebraçom da Festa da Língua na Praça da Verdura (logo deslocaria-se para outra ubicaçom) a celebraçom do Dia de Rosalia, jantares populares como o que figemos com o coletivo marroquino contra a xenofobia, etc. A Revira participou junto com outras entidades e associaçons nas juntas que promovia o Concelho a prol da normalizaçom linguística, etc. Quiçá teria estado bem umha maior implicaçom pessoal das gentes ligadas ao nacionalismo institucional, concelheiras/os, e militáncia destacada do BNG da comarca que em mui escassas ocasions se achegárom polo local, entendo que, em parte, por ter A Revira umha conotaçom política bastante marcada, e naquela altura nom sempre houvo a melhor sintonia entre o chamado MLNG e o BNG. Lembro, aliás, o atentado sofrido polo nosso local, quando lhe prendêrom lume à porta, já antes a tenda de umhas companheiras na acampada contra a guerra fora incendiada, e botou-se em falta algumha intervençom solidária e condena pública por organizaçons de esquerda nacionalista com responsabilidade institucional na altura.
O local social tivo no seu núcleo fundacional pessoas de classe trabalhadora mas, como dizia, vencelhadas a Nós-UP e ao fluxo do movimento estudantil de conteúdo independentista que se dava na altura em Compostela, e que de aí irradiou a muitos recunchos da Galiza.
Como achas que afetárom ao projeto os conflitos políticos no ámbito mais amplo do independentismo?
Afetárom decisivamente… As, chamemos-lhe, duas almas do independentismo, os setores ligados a AMI e os vencelhados a PL e Briga, tinham um convívio por vezes mui dificultoso que gerava tensons que, igual que figérom implosionar o projeto político de Nós-UP, também fôrom causa de umha fratura traumática que conlevou mesmo a expulsom do centro social de umha parte mui importante dos quadros e pessoas mais ativas da Revira. Esta, entendo eu, tragédia autófaga, ou autodestrutiva foi umha constante desde o começo; explica-se por divergências políticas, com certeza, mas eu penso que também polos egos, fílias e fóbias das pessoas. É umha mágoa, mas assim foi… a ver se damos aprendido e cara ao futuro partimos do que nos une, e o respeito e o companheirismo som um facto e nom só palavrada, temos que ter claro que o inimigo está fora e pode haver debate, de facto é bom que o haja, é produtivo, mas sem cairmos no cainismo, os ataques pessoais, etc.
Atendendo à experiência da Revira, que papel consideras que tenhem os centros sociais na normalizaçom do idioma e na criaçom de consciência nacional?
Acho que a criaçom de espaços em galego, como som os locais sociais, ou a experiência das Semente para as crianças som mui necessárias, embora nom suficientes, para a normalizaçom do galego. Também, a sua existência, indicaria, precisam-se muitas mais por todo o território, umha saudável consciência nacional que se retroalimentaria como espaço de normalizaçom da língua, de tomada de conciência nacional. Fica muito por fazer e temos que aprender da experiência acumulada e sermos otimistas da vontade.
Acho que o Centro Social A Pedreira, mui ativo agora na cidade do Leres, tem na Revira a sua génese, quando menos em parte das pessoas mais ativas com as que conta. Na Revira desenvolvêrom-se dúzias e dúzias de atividades com maior ou menor sucesso, desde cursos de pandeireta a palestras, debates, concertos, exposiçons de fotografia e pintura, roteiros, e um longo etc.
Qual é o pouso que deixou a Revira e como avalias em geral aquela experiência?
O pouso, dizia acima, está aí: umha geraçom de moços e moças da comarca passou pola Revira, conheceu o que é um local social autogerido, praticou a generosidade de fazer turmas e trabalhos comunitários entregando o melhor de si mesmas/os, experimentou o bom e o nom tam bom da militáncia política com as suas grandezas e misérias, conheceu a existência da repressom e a existência de presas e presos independentistas e políticos galegos… Esse pouso está aí, nas lembranças e na peripécia vital de muita gente que, logo, seguiu diferentes caminhos, alguns mesmo na diáspora da emigraçom, outros, como comentava, participando da construçom do movimento associativo em chave patriótica, de esquerda e feminista na cidade.