Laura Ramos Cuba é natural de Burela, jornalista de formaçom em vários meios em galego, e agora docente de Língua e Literatura de secundária no IES Vilalonga do Salnês. Filiada à CIG, participa nestas semanas com milhares de ensinantes nas mobilizaçons que o sector está a soster contra as medidas precarizadoras da Xunta. Falamos com ela das luitas do sector, e também de aquelas dimensons do mundo educativo, como a língua ou os valores colectivos, nas que o nosso país se joga tantas cousas.

Quais som as condiçons concretas que levam às mobilizaçons no ensino público?

Estamos a dar umha resposta ao acordo assinado por CCOO, UGT e ANPE com a Conselharia de Educaçom que, em termos gerais, mantém a perda de direitos do professorado que se consumou nos tempos da crise financeira. Na negociaçom, a Xunta rejeitou rever temas centrais, como a recuperaçom do horário lectivo (temos 20 horas frente as 18 de antes da crise), rechaçou as nossas demandas de baixar a rátio de alunado por aula (agora estamos em 25 pessoas na ESO e 30 em Bacharelato), pois estamos em cifras que nom som manejáveis. Logo, ainda que se contempla umha pequena suba do salário, levando em conta a inflaçom, trata-se dumha medida que atinge especialmente ao professorado com mais anos e é umha cantidade irrisória, que como eu digo, nom dá hoje nem para comprar umha garrafa de azeite. Ora bem, acho que o salarial nom é o problema principal do sector: o principal é de condiçons laborais. Precisamos reduzir horários e rátios, e portanto o sector precisa contratar mais professores e professoras, mas isso é o que a Xunta nom quer.

O salarial nom é o problema principal do sector: o principal é de condiçons laborais. Precisamos reduzir horários e rátios, e portanto o sector precisa contratar mais professores e professoras, mas isso é o que a Xunta nom quer.

Como está a ser a dia de hoje a resposta ao chamado mobilizador dos sindicatos?

Eu considero que bom; no passado 24 de outubro fomos à greve, chamados pola CIG, STEG e CSIF, com um seguimento alto; no meu centro, por exemplo, que inclui também módulos de Formaçom Profissional, no que o professorado nom está tam afectado, paramos o 50%. Levamos adiante também mobilizaçons durante o recreio, subimos fotos às redes com o hashtag #profesoradononsevende, e manifestamo-nos nas cidades no 14 de novembro, actos nom sempre doados, porque alguns professores dam com problemas para irem à cidade de referência do seu centro. A mobilizaçom continua com umha manifestaçom nacional no domingo 19, e teremos outra cita importante com mais umha greve o dia 28.

Mobilizaçom sindical do professorado neste novembro
Imagem: Laura R. Cuba

Tem-se difundido um tópico popular que entende que, como sector que fai parte do funcionariado, o professorado vive condiçons de privilégio. Que opinas desta ideia comum?

Há umha cárrega de prejuízo evidente, parece que somos as grandes privilegiadas do mercado laboral, mas eu nom perderia de vista que, se bem temos certas garantias das que outros sectores nom disponhem, enfrentamos um trabalho exigente: umha responsabilidade essencial, porque ao cabo formamos a cidadania do futuro. E no sector existe um queime grande, desde que temos que fazer frente a umha diversidade de frentes muito ampla. Eu por exemplo, sinto-me abrumada e incapaz de levar adiante o meu trabalho de forma eficiente: tenho por volta de cem pessoas menores ao meu cuidado, e nom apenas temos que educar, temos que acompanhar no desenvolvimento pessoal. Porque eu considero, como na sanidade ou nos serviços sociais, que a parte humana é essencial. E isso é um peso importante.

Um dos motivos de descontentamento é a cárrega burocrática que afrontades. Que poderias dizer disto?

Há umha teima que eu nom partilho por quantificar, registar e dar conta de todo, como se fôssemos gente que fai caixas, parece que passammos mais tempo registando e explicando o que fazemos em informes e em seguimentos, do que fazendo realmente as cousas; essa tendência a especificar todo até o último detalhe, que se vê em muitos campos. Por exemplo em atençom à diversidade, onde eu, por estas condiçons, explico mais do que fago, quando o que deveria é dedicar o meu tempo a atender directamente estas pessoas com necessidades especiais.

No sector existe um queime grande, desde que temos que fazer frente a umha diversidade de frentes muito ampla. Eu por exemplo, sinto-me abrumada e incapaz de levar adiante o meu trabalho de forma eficiente: tenho por volta de cem pessoas menores ao meu cuidado, e nom apenas temos que educar, temos que acompanhar no desenvolvimento pessoal.

Partilhas a ideia de que o professorado perde cada vez mais autoridade, e de que a sua funçom social está a diminuir?

Nom há dúvida de que a autoridade mudou, desde que a mocidade tem muitas mais fontes de estímulo das que tinha quando eu era novinha, nomeadamente polo acesso à internet e às redes sociais, e a multiplicidade das fontes de lazer. Ora, há diferenças por contextos. Por exemplo, a autoridade no rural e no urbano distinguem-se muit, porque no rural as famílias nom questionam tanto o nosso trabalho, e a rapaziada reproduz isso que vê no ámbito familiar. Deixo claro que questionar nom é mau, olho, mas nom gosto desse questionamento com visom de cliente: parece que se pensa que oferecemos um serviço, e se o cliente nom está satisfeito queixa-se, mais do que envolver-se no trabalho do centro, que seria o próprio.

No meu caso, levo pouco tempo no ensino, entom nom podo fazer comparaçons. Pessoalmente nom notei faltas de respeito, e si percebim que, com todas as mudanças, o nosso papel é central. Pensemos que o professor ou professora é a única referência dumha pessoa adulta, de carne e osso, que os acompanha, porque por vezes tenhem muito pouco contacto pessoal na casa. Aliás de que o nosso dever é també tirá-los das suas famílias, dar outras ópticas, e nom reproduzir todo o que se diz no fogar.

Percebes no teu alunado um tipo novo de “rebeldia” ligado à extrema direita e ao espanholismo?

Si, e isto é algo que comentamos muito os e as docentes entre nós. Vim a viragem: recordo como na minha mocidade os valores da esquerda eram os transgressores e rompedores, e o professor encarnava os valores conservadores. Hoje, quiçá polas instituiçons terem assimilado esteticamente valores progressistas (como o feminismo), discursos como o de Vox parecem rompedores e provocam impacto. Vejo-o nos rapazes, no género masculino, que recorrem a isso sentindo-se atacados, como ameaçados polo feito de serem homens. Trata-se dumha atitude mui visceral, emocional, a mim recorda-me ao hooliganismo, e por isso se fai tam difícil dialogar e argumentar com eles. Aliás, cala muito bem em algum dos companheiros, porque causa riso, interrompe as aulas…como por exemplo quando fam o saúdo fascista. As rapazas, pola contra, nom entram nessa dinámica, mas em geral tenhem um papel mais discreto e mais passivo. Tenho observado que quando umha rapaza é assertiva, nom é bem acolhida entre os moços, é considerada como umha sabichona.

A da extrema direita nas aulas é umha atitude mui visceral, emocional, a mim recorda-me ao hooliganismo, e por isso se fai tam difícil dialogar e argumentar com eles. Aliás, cala muito bem em algum dos companheiros, porque causa riso, interrompe as aulas…como por exemplo quando fam o saúdo fascista.

Outra das batalhas permanentes do professorado identificado com o país é a da língua, e nesse terreno predomina a sensaçom de estarmos perdendo a batalha. Tes essa mesma visom?

Eu tendo a ser optimista, porque o pessimismo é desmobilizador e afinal responde sempre aos interesses do statu quo. Que dúvida cabe que a tendência das últimas décadas é má…podemos fazer salvidades comarcais, é certo, mas em termos gerais está-se a perder a condiçom do galego como língua ambiental nos centros de ensino do país. Dá-se o paradoxo de que muitas vezes os centros urbanos e mais espanholizados nom estám tam condicionados polos prejuízos. Isso vim em Compostela, por exemplo, dei aulas no Rosalia de Castro, um centro onde ao alunado lhe custava mesmo falar galego com mínima correcçom, mas aí, abertamente, nom vim hostilidade. Em Sam Genjo, onde estou agora, vila muito espanholizada polo turismo, metade do meu alunado fala galego, e procede do rural, mas ao porem o pé fora da casa passam para o castelhano. Escuito-os falar em espanhol e noto perfeitamente, por prosódia e giros, que som galegofalantes, mas o prejuízo vence-os.

Como pensas que se pode reverter o processo?

Podo falar a partir da minha experiência. Vincular apenas o galego à língua e à literatura activa posiçons à defensiva: por exemplo, tenho um rapaz que fala espanhol apenas na minha aula, como reacçom. Eu criei-me em Burela, e neste ponto quero vindicar o sucesso do chamado “Modelo Burela”, impulsionado por Bernardo Penabade, e vim que quando a língua é transversal, quando funciona ambientalmente nom como bandeira, mas por defeito, a gente utiliza o galego. Claro que isso precisa do envolvimento do professorado, porque muitas vezes responsabilizamos o alunado de perder o idioma, e parte dos e das docentes, ou nom o falam, ou nem o sabem manejar com mínima correcçom.