Em 1946, Fuco Gomes, escritor e político independentista publicava no vozeiro Patria Galega, do que ele mesmo foi fundador e director, umha missiva dirigida à ONU, em nome dos independentistas galegos, na que criticava a posiçom da República Espanhola a respeito das naçons sem Estado. Reproduzimos aqui a primeira parte do escrito original em castelhano, traduzida por nós ao galego.

Muito haveria de ganha a causa da paz universal com que o hemisfério americano tenha gram repercussom um denunciatório e impugnativo documento que provavelmente há de fazer história e que, como se verá mais adiante, foi redatado cum juízo sereno, sólidas razons e profundos conhecimentos. Tal histórico documento cujo conteúdo está sendo já comentário reiterado entre os sectores que se desenvolvem arredor das actividades da ONU que tomou responsabilidade da paz total e permanente, é que o director deste Boletim dirigiu, a nome e representaçom dos patriotas galegos à Segunda Assembleia Geral do Conselho de Seguridade da ONU que se iniciou o 25 de março na cidade de Nova Iorque. Confiamos em que a imprensa progressista da América se há de fazer eco desse escrito onde se julga a propaganda que se vem realizando em favor da restauraçom da república espanhola do 31 como parte do programa de falsas manobras premeditadas coidadosamente planeadas contra o direito de autodeterminaçom das naçons ibéricas oprimidas. Aqui o escrito ao que nos referimos:

À Segunda Assembleia do Conselho de Seguridade da ONU, cuja inauguraçom terá efeito o 25 do corrente mês em Nova Iorque

Senhores Representantes a dita Reuniom:

Os independentistas galicianos que temos a honra de dirigir-lhes o presente escrito, rogando-lhes em primeiro termo prestem ao mesmo umha cordial atençom e estudem o que exponhemos para deixar comprazidos aos miles de galegos que somos conscientes cidadans do mundo e que veremos com sumo agrado o exercício de qualquer direito que consagre a les naturais, opinamos que nenhum mal se cura sem atacar o germe que o produce, à par que consideramos de gram conveniência para a nobre e justa causa internacional que os representantes das Naçons Unidas estejam sobre aviso no caso de que em essa Reuniom e em outras Conferencias Internacionais e Interamericanas se trate sobre o vetusto e hoje minúsculo imperio espanhol. Por isso, imos pôr de manifesto a continuaçom um pouco do muitíssimo que sabemos sobre a conduta observada no campo da política pelos chamados republicanos espanhóis, assim como também algumhas das inumeráveis razons que nos assistem para oponher-nos a que sejam eles ou os demais hispanistas doutros bandos quem se constituam de novo em representantes dos povos que foram submetidos ao Estado Espanhol pelo rigor da fame e do castigo e que arelam o momento de poder presentar as suas contas tanto aos dirigentes hispanistas de direitas como aos de esquerdas.

A primeira parte do texto original. Fonte: Galiciana.

               Antes de começar a expor os princípios e razoamentos em que fundamos a nossa luita contra os uns e contra os outros, nom estará de mais formular umhas quantas perguntas às que devessem contestar os retrógrados espanhóis dos diferentes títulos. Som as seguintes:

Deixou algum tempo de existir analogia entre os procedimentos, em política, dos espanhóis de direitas e esses outros hispanistas que se denominam de esquerdas? Em que se diferenciou a “república democrática dos trabalhadores” de algumha das monarquias de Áustrias e Borbons? Contaram os verdadeiros patriotas dos países ibéricos com mais garantias e com maior liberdade de expressom no regime “republicano” que no regime monárquico? Seram, em verdade, os “republicanos” espanhóis mais partidários do progresso e do bem-estar dos povos ibéricos e americanos que o som os monárquicos de velho e novo cunho? Demostraram nalgumha época os primeiros ser menos hispanistas e ter melhores intençons que os segundos? Chegaria a triunfar a república espanhola nas elecçons do 31, se para a celebraçom de estas nom tivera concedido Afonso XIII liberdade absoluta -por imprevisiom do seu fracasso- e se os “republicanos” nom prometeram de antemam conjurar em dita república o gravíssimo problema das nacionalidades?

Contaram os verdadeiros patriotas dos países ibéricos com mais garantias e com maior liberdade de expressom no regime “republicano” que no regime monárquico?