No passado 14 de outubro, o Dia da Galiza combatente celebrou-se na Guarda, cumprindo 22 anos de comemoraçom por parte do independentismo. Polo seu interesse histórico e político, reproduzimos na íntegra o discurso final que a vozeira das Assembleias Abertas Independentistas deu no roteiro convocado no Baixo Minho.

Pese ao papel fundamental que desenvolveram as mulheres durante a repressom franquista, a perspetiva patriarcal quijo promover a sua infantilizaçom e inferioridade respeito aos homens desde um ponto de vista político e intelectual, e polo tanto, incapazes de ter umha mínima solvência ideológica. Quiseram vender-nos pessoas indecisas e influenciadas pola sua contorna masculina, que como muito, formavam parte dumha dinâmica reduzida a um segundo plano em movimentos liderados por homens. Embora exercer um rol político determinante entre os anos 1936 e 1939 partindo dumha movilizaçom que também incluía mulheres sem politizaçom prévia, constituiu-se um ponto histórico de rutura que já nom teria marcha atrás, mas o regime apagou o rasto propagandístico da mulher miliciana e a finais do 36 já fora substituído polo icono da mãe combatente.

As mulheres “rojas” forom catalogadas sistematicamente de fáciles e libertinas. Por isso, as formas específicas de violência física e moral às que foram submetidas de jeito singular, constituem um exemplo paradigmático da invisibilidade destas como sujeito histórico, ético e político do que apenas ficam vestígios documentais.

Elas também foram, torturadas, violadas, encarceradas, recluídas e obrigadas a realizar trabalhos forçosos em campos de concentraçom incluso sendo ainda nenas. Fôrom o principal objetivo das coaçoms doutrinadoras da secçom femenina da Falange. Estas chegavam a negar-lhes o aceso à água quente para lavar os panos que usavam durante a menstruaçom se se negavam a participar em atos litúrgicos. Foram fuziladas, soterradas em fosas comuns e supeditadas a múltiplas formas de exclusom social. A violência coa única intençom de exterminar o que o regime denominava o “gen rojo”, a semente e a memoria das mulheres comprometidas com o socialismo foi desmesurada; sem embargo, como consequência do sesgo de género era menos frequente que se lhes aplicara a tipologia de delitos graves como a rebeliom militar, sendo muito mais comum ser acusadas de seduçom ou auxilio aos companheiros republicanos, por berrar ou protestar perante umha detençom, agochar ou ajudar a escapar a um homem chamado a formar parte das filas golpistas ou exercer violência anticlerical durante a República.

Pese a extensom e a continuidade da sua prática, das formas específicas nas que eram torturadas as mulheres polo simples feito de ser mulheres, começou a falar-se há um tempo relativamente recente. As conquistas das mulheres e as memórias da repressom que fixo possível tal involuçom, foram suprimidas de jeito sistemático. Nunca foram destinatárias dumha violência material, política e simbólica de dimensons mínimamente comparáveis às que sufriram a partir do 36 ali onde triunfou o golpe de Estado, e desde o 39 no conjunto do Estado espanhol. É por isso, que entre outras resistências com nome de mulher, consideramos imprescindível recuperar em honra da sua memoria a pouca informaçom que temos dumha mulher galega e combativa cujo corazom latia com a força dumha coragem indómita: María Concepción Álvarez Álvarez, conhecida popularmente na vila da Guarda como Maria das Auroras.

Maria das Auroras era umha mulher independente, autodidata, agrarista, gram leitora e cumha iniciativa própria que a levou a dar aulas de balde a nenos e nenas em horas nas que nom tinham que ajudar às suas famílias

Umha mulher republicana convencida e de corazom. Trabalhava numha sucursal dum negócio familiar junto a sua mãe e a cunhada desta, umha funerária que no ano 36 agasalhava cadaleitos a quem nom podia pagá-los para que todas as pessoas pudessem levar um soterramento digno. Maria das Auroras era umha mulher independente, autodidata, agrarista, gram leitora e cumha iniciativa própria que a levou a dar aulas de balde a nenos e nenas em horas nas que nom tinham que ajudar às suas famílias. Esses nenos e nenas com frequência pertenciam a famílias numerosas que deitavam, no caso das nenas, para ajudar nas tarefas do fogar ou no cuidado dos irmãos pequenos, e no caso dos nenos, para ajudar aos seus pães ou irmãos maiores nas tarefas que requeriam um maior esforço físico desenvolvidas no campo ou na pesca. Por isso, Maria dedicava horas a ler-lhes livros, fazer contas e melhorar a sua caligrafia, prestando-lhes também livros da Biblioteca Circulante da Sociedade Pro-Monte da Guarda. Esta biblioteca desapareceu como tal o 15 de outubro do 1939, já que o novo estado espanhol considerava o contido de muitos dos seus livros incompatíveis coas orientaçoms morais, sociais e tradicionais que deviam reger o seu conceito de pátria.

Fazendo gala da sua solidariedade, compromisso e amor por Galiza, foi atriz dos quadros de declamaçom da Guarda. Nos anos finais da ditadura de Primo de Rivera, participou na fundaçom da Agrupaçom Republicana da Guarda e chegou a ser umha referencia política que encabeçou a manifestaçom do 1° de Maio à chegada da II República. Como sindicalista e nacionalista galega exerceu umha dupla militância na federaçom local operária da CNT, dirigindo o Ateneu de divulgaçom social e formou parte da fundaçom da secçom local do Partido Galeguista.

A sua trajetória tam notória na Guarda ficava longe do carácter submiso e do espaço privado que se suponha que deveria ocupar e isso estivo a piques de custar-lhe a vida cando trá-lo golpe de estado foi detida nos primeiros momentos da entrada das tropas na vila, o 27 de julho do 1936.

Maria foi apressada durante dias e foi vítima dum ritual de humilhaçom cujas características eram determinados polos roles de género e cujo propósito se reduzia a enviar umha clara mensagem sobre cal deveria de ser o modelo de conduta feminina.

Queimaram-lhe todos os livros que possuía num ato público sito na Praza do Reló. Foi obrigada a beber aceite de rícino. Esta era umha prática sustida por umha estrutura na que governadores militares pressionavam às farmácias para que acumulassem tudo o aceite de rícino possível co fim de assegurar a sua continuidade.

Queimaram-lhe todos os livros que possuía num ato público sito na Praza do Reló. Foi obrigada a beber aceite de rícino. Esta era umha prática sustida por umha estrutura na que governadores militares pressionavam às farmácias para que acumulassem tudo o aceite de rícino possível co fim de assegurar a sua continuidade. A finalidade destas purgas, cuja origem se situa na Santa Inquisiçom, nom era outra que a de expulsar a través dos poderosos efeitos laxantes, a toxicidade, o comunismo e as malas ideias que invadiam o seu corpo, levando-as a comportar-se dum jeito inapropriado para umha mulher. A todo isto somou-se umha exibiçom que consistia em ir caminhando ao tempo que defecava a causa da diarreia provocada polo rícino, recebendo todo tipo de insultos e vexaçons, com a intençom de fazer partícipe a toda a comunidade exercendo o papel de verdugo. Segundo várias testemunhas, chegou a ser increpada por umhas mulheres que saíam da igreja ao grito de: Matai-na! Matai-na! Tirai-na ao mar!

O regime queria fazer umha exibiçom dumha suposta deformidade gerada pola República e abundavam sentencias que refletiam a misoginia imperante. Nestas figuravam expresions como “deslinguada” ou “depravada”, qualificativos que raramente se empregavam para referir-se aos homens.

María das Auroras também foi submetida a outra das práticas com poder simbólico mais comuns naquele período e do que apenas ficam 3 fotografias em todo o Estado espanhol. Raparam-lhe a cabeça em contra da sua vontade na Praza do Reló e despois testritamente proibido cobri-la, pretendendo assim umha desposessom da sua “feminidade”. Esta humilhaçom alegórica, ainda que nom foi no caso de Maria, em muitas ocasions ia acompanhada dum guecho que lhes deixavam na cabeça engadindo-lhes laços com as cores da monarquia.

María das Auroras também foi submetida a outra das práticas com poder simbólico mais comuns naquele período e do que apenas ficam 3 fotografias em todo o Estado espanhol. Raparam-lhe a cabeça em contra da sua vontade na Praza do Reló e despois testritamente proibido cobri-la, pretendendo assim umha desposessom da sua “feminidade

Muitas das cabeleiras que eram arrincadas às mulheres eram posteriormente colgadas em árvores sitas em lugares estratégicos de trânsito coma cruzes de caminhos devido ao habitat disperso próprio da Galiza. O regime tinha claro que publicitar os resultados destes castigos provocava mais terror e paralizaçom à vez que gerava lealdades compulsivas.

Finalmente, María das Auroras foi desterrada por uns meses a Salvaterra do Minho e negou-se-lhe o direito a fazer luto polos seus achegados fuzilados. Sem embargo ao seu regresso, longe de render-se e deixar-se engolir polo regime, nom duvidou em abrir as portas da sua casa familiar a outras vítimas da repressom fazendo um exercício exemplar de sororidade com outras mulheres como sucedeu no caso de Josefa García Segret, que após passar 6 anos em diferentes cárceres do Estado espanhol, atopou na casa de María um lugar seguro e os cuidados que precisava para o seu delicado estado de saúde como consequência do cativeiro sofrido. Tampouco duvidou em exercer umha resistência paralela ao objetivo da recuperaçom da memória silenciada, desafiando assim os relatos oficiais que divulgava o regime.

A imagem que davam mulheres como Maria das Auroras foi utilizada para demonizar e reprimir a outras acusadas, e os castigos aos que eram submetidas tinham um gram componente lecionador que funcionava como advertência a futuras dissidências femininas. A ultraje pública como represália exemplarizante foi constante, sem embargo, a dia de hoje podemos comprovar como cando se lhes preguntava polas suas vivências a aquelas mesmas mulheres que foram torturadas, elas optavam por ceder-lhe todo o protagonismo á repressom que sofriram os homens que formavam parte da sua contorna. Estas reaçons adoitam vencelhar-se ao feito de que naquela época a sexualidade da mulher sustinha a honra da família. O seu desfrute era considerado pecaminoso, e com independência de que fosse consentida ou nom, os homens também eram denigridos a través delas. Por isso chegaram a encerrar-se durante anos a mulheres grávidas vítimas de agresssons sexuais por parte dos sublevados, e o roubo de bebés, embora ser umha prática também estendida, estivo oculta até praticamente a chegada da mal chamada Transiçom.

A situaçom política que gerou a pós-guerra pode considerar-se um colofom trágico, mas à vez é a prova irrefutável da aceleraçom do tempo histórico que causou a própria contenda respeito às relaçons de género.