Na longa lista de visitantes foráneos que se assombrárom e valorizárom a identidade galega acha-se Gustav Henningsen, o antropólogo dinamarquês que finou na passada semana, e que várias instituiçons culturais do País recordárom, reconhecendo a sua achega. Henningsen, incialmente devotado ao estudo da bruxaria em Euskal Herria, reencaminhou os seus passos cara a Galiza; nos anos 60 do passado século, descobriu entre nós umha das heranças patrimoniais mais importantes da Europa.

Hennigsen nascera na cidade dinamarquesa de Slagelseem 1934, e finou na semana passada em Lingby, também no seu país natal. Após sentir como acordava nele o seu interesse pola bruxaria realizando trabalho de campo no mundo escandinavo, encaminhou-se cara o sul da Europa. A virulência com que a Inquisiçom espanhola atacou a bruxaria basca guiou a sua atençom a Euskal Herria. Do seu estudo deste país peninsular nasceu a obra “Salazar y Frías, el abogado de las brujas”, que veu a lume a inícios da década de 80, onde se expunha umha visom alternativa à que justificou a repressom contra a meigaria. Por acaso, o seu contacto com o especialista basco Caro Baroja levou-no à nossa terra; o estudioso de Euskal Herria animou-no a visitar a Galiza, pois este era, polas suas palavras, o país onde a bruxaria e as crenças no além se mantinham mais vigorosas.

Chegada à Galiza

Com pouco mais de 30 anos, Henningsen chegou à nossa terra. Um país sangrado pola emigraçom, eminentemente rural, que vivera apenas duas décadas atrás um genocídio, e que começava a viver os planos extractivistas da ditadura, quer em forma de repovoaçons massivas, quer em forma de grandes barragens.

Em companhia de Marisa Rey, logo a sua companheira, becado pola Universidade de Copenhague, e com os únicos recursos dumha cámara e umha gravadora, começou a percorrer os caminhos, documentando festas e romarias, observando a vida quotidiana, as tarefas do campo e os momentos de lazer. A estranheza deste labor naquela altura, em que o património oral e cultural galego era mormente desprezado, provocou mesmo que a guarda civil o interrogasse, desconcertada pola sua pesquisa. Entre os anos 1965 e 1968 Henningsen documentou umha Galiza tradicional, fundamentalmente baseada na cultura de transiçom oral e em certa auto-suficiência, quando esta começava a morrer.

Imagem: Fundo Rey-Henningsen, Museu do Povo Galego

Ardemil

Como ele mesmo confessou, parte da riqueza do seu trabalho deveu-se a “umha sorte extraordinária”, pois azarosamente, certos guias o levárom ao lugar certo. Ao visitar o Corpinho, e por indicaçom dum padeiro, foi convidado a conhecer a paróquia de Ardemil, em Ordes. Ali, a apenas 33 kilómetros da Corunha e 42 de Compostela, descobriu um núcleo que conservava com enorme vitalidade umha cosmovisom apoiada no além e no diálogo com mundos invisíveis. Se bem o clássico olhar académico e urbano desconsiderou este mundo como apenas irracional e supersticioso, antropólogos como Marcial Gondar apontam, precisamente comentando os trabalhos de Henningsen: “por baixo dessa aparente falta de rigor, há toda umha lógica (por vezes assombrosamente sutil) mediante a que os galegos nom urbanos reflectem sobre os problemas que a vida lhe apresenta, e ao tempo elaboram estratégias para livrarse deles.”

Em todo o seu trabalho de campo, nomeadamente em Ardemil, Henningsen tratou com comunidades arredadas e desconfiadas com o Estado, ainda nom influenciadas pola transmisom académica do conhecimento, e muito cautas no seu trato com o exterior. Com agudeza, detectou que as perguntas invasivas do antropólogo pouco revelavam, e adoptou umha estratégia mais discreta: “compreendim que o meu principal objectivo como pesquisador das crenças populares tinha que ser o que gente fai e pensa, e nom o que diz”.

Um tesouro conservado

Com generosidade para a nossa terra, Henningsen e Rey cedêrom um arquivo de 2000 documentos gráficos ao Museu do Povo Galego, hoje denominado “Fundo Rey-Henningsen” e por volta de 250 gravaçons ao Instituto da Língua Galega. Parte destes materiais servírom como base à exposiçom “Galicia máxica: reportaxe dun mundo desaparecido. Fotografías etnográficas 1965-1968”. organizada polo MPG no ano 2015. Foi a primeira dumha série de exposiçons que decorrêrom no nosso País. No que diz respeito à sua obra, um dos comissários, David Conde, declarava aos meios que o dinamarquês “foi um fotógrafo do quotidiano, porque ele fotograva no que ninguém reparava, porque era o de todos os dias”.

Imagem: Fundo Rey-Henningsen

Influências actuais

O trabalho de Henningsen ficou registado em livros, como “O danés curioso em Ordes”, editado por Ouvirmos em 2018, ou “Galicia máxica. Romarías e santuarios. Gustav Henningsen. Fotografías Etnográficas. 1964-1970”, editado polo MPG. A sua influência chegou ao teatro, pois as andainas de Henningsen inspirárom a obra de teatro “Relato para un incendio”, de Ernesto Is, estreado na Mostra Internacional de Ribadávia no passado ano 2022.