Sempre pensei que falar do tempo era algo evitativo, quase próprio de pessoas que nom querem enfrentar-se a um diálogo. Mas, pensando nos ocos livres ou no tempo de trabalho, podo concluir que nem sempre “falar do tempo” é desviar a atençom quando conversamos.
“Hóstia, como está o céu eh, parece que vai chover”. “Nom sei eu, tá a cousa assi assi”. Realmente, nom é que estamos a trazer o tempo (também o climático) ao lugar que corresponde? O tempo presente, a consciência do tempo presente, é necessária e imprescindível para a nom-alienaçom: assumir que estamos aqui e agora, e que nesse aqui e agora respiramos e que é a realidade da que partimos.
Trazer o presente para o instante da conversa semelha algo valioso: porque nos situa, e à vez nos fai reparar na pessoa que temos diante, mas também na situaçom que estamos a viver, e, sobretudo, na natureza que nos rodeia.
Foi a Assembleia da Mocidade Independentista, fai mais dumha década, que nos seus vídeos sarcásticos apresentava as militantes num cenário simulando serem homens e mulheres do tempo: com animados desenhos, plasmados sobre o mapa do país, iam apresentando as diversas atividades e situaçons de conflito que se desenvolviam no território: em Compostela, Ourense e Vigo, vários sachos representavam os boicotes aos campos de golf; em Cangas do Morraço, apresentava-se trevoada popular pola defesa da Terra, em outros pontos, dava-se conta das sabotagens com artefatos explosivos contra de entidades especuladoras.
Falar do tempo é, ou pode ser, umha forma sana de relacionar-se entre a gente. Pensadores ensinantes como Paulo Freire dirám que o diálogo é umha experiência existencial mediante a que se gera reflexom sobre umhe mesme e sobre o mundo. As pessoas labregas, ou as obreiras manuais, acostumavam sempre falar desde a própria acçom, ou no caminho cara ela. Olhar cara as nuvens que há ou as raiolas do sol, relaxar destes tempos de pseudo-acçom ou de acçom alienante, permite umha perspetiva maior cara nós mesmes e cara o entorno-território. Sempre o nosso amigo e companheiro preso Roberto Rodrigues Fialhega “Teto”, que leva mais dumha década em prisom por defender a Terra, aparece nas nossas lembranças com a sua mítica camisola dizendo que “nunca choveu que nom escampara”, muito, muito antes de que a roupa com caralhadas dessas se pugeram de moda entre a nossa mocidade.