Nestes dias Compostela acolheu umha cimeira dos ministros de finanças e economia da Uniom Europeia. Umha cita, no marco da presidência espanhola da UE, glorificada pola imprensa do regime como “importante para a Galiza” e que deu lugar a umha nova ocupaçom policial da cidade. Mas esta cimeira trae à memória umha outra, decorrida em fevereiro de 2002 e que, ao contrário desta juntança do Ecofin, sim tivo umha importante resposta popular.
Foi nos dias 13, 14 e 15 de fevereiro quando, com o governo espanhol de Aznar a presidir a UE, se reunírom em Compostela os ministros e ministras de justiça e interior. A juntança, decorrida após os ataques do 11-S nos Estados Unidos, ia servir para planejar novas medidas repressivas na Uniom Europeia, tanto internamente como no controlo das fronteiras. Mas o contexto, tanto nacional como internacional, permitiu que daquela houvesse umha resposta popular à reuniom.
Com efeito, no nosso país, e com destaque em Compostela, ainda estava mui recente a luita estudantil contra a LOU, com mobilizaçons, greves e assembleias que deixárom um pouso de rebeldia e rejeitamento ao odiado governo do Partido Popular no Estado e na Xunta. Aliás, fazia-se notar a presença de um independentismo ativo, com organizaçons como Agir, AMI ou Nós-UP, que tivo um importante papel na articulaçom de umha resposta da esquerda galega à cimeira dos representantes do imperialismo e do capital.
A nível internacional, aqueles anos eram os do auge do movimento antiglobalizaçom, que tivo como umha das suas senhas de identidade a organizaçom de mobilizaçons em diferentes cidades do mundo para rejeitar as políticas neoliberais capitalistas coincidindo com cimeiras de organismos como o FMI e o Banco Mundial, mobilizaçons que finalizárom em fortes enfrentamentos com as forças repressivas da burguesia (assim sucedeu em Seattle, Praga, Barcelona ou Génova, onde foi assassinado pola polícia o revolucionário Carlo Giuliani). As mobilizaçons daqueles dias na Galiza fôrom, em boa medida, o eco daquele movimento no nosso país, dessa primeira resposta a um capitalismo eufórico que afirmava ter atingido o alegado “fim da história”.
Plataforma Galega por umha Europa Alternativa
Sob este nome artelhou-se organizativamente a resposta plural da esquerda galega nom domesticada à Europa do capital e dos estados. Numha Compostela tomada policialmente por até 4.000 polícias, 1.000 deles à paisana, a plataforma organizou diferentes atividades. Para exercer o direito do povo a ocupar as ruas apesar do bloqueio policial, convocárom-se naqueles dias duas manifestaçons. Manifestaçons que contárom com o rejeitamento dos meios propagandísticos do regime, com destaque para o El Correo Gallego que, demostrando que o espalhamento social de ideias de extrema-direita nom é umha novidade aportada por Vox, pressionava para reclamar mao dura contra as pessoas que ousassem empanhar a cimeira com protestos. Cousas deste teor podiam-se ler naqueles dias nesse jornal: “Sólo faltaba que Galicia hiciese el ridículo más espantoso ante toda la UE por culpa de los cuatro “mataos” de varios colectivos radicales que, ansiosos como están de imitar a sus admirados guerrilleros de la kale borroka, aprovechan cualquier oportunidad para montar el cirio. Duro y a la cresta, que un buen sopapo no les vendrá mal”.
Por outra parte, a plataforma organizou um Foro Social Alternativo (outro dos elementos característicos do movimento antiglobalizaçom). Nele fôrom abordadas diferentes problemáticas relacionadas com a Uniom Europeia e a globalizaçom capitalista, com debates sobre o neoliberalismo, a construçom repressiva da UE, a crise ecológica, os desafios da classe trabalhadora na Europa, o futuro das línguas e das culturas, a situaçom mundial após o 11-S e os movimentos sociais e a criaçom de redes alternativas. Também fôrom apresentadas as teses contra a globalizaçom da Marcha Mundial das Mulheres. O Foro Social deu voz a umha importante diversidade de vozes de militantes, ativistas e pensadoras/es do nosso país (Laura Bugalho, Marcial Gondar, Rosa Bassave, Carlos Taibo, Xosé Luís Méndez Ferrín, Maurício Castro ou Hermínio Barreiro, entre outros/as) e também vindos e vindas doutros lugares (como Artur Ribeiro Carvalho da CGTP-IN, Iñaki Gil de San Vicente ou Doris Benegas). Um outro exemplo de cultura alternativa foi o concerto organizado pola Plataforma, que contou com a presença de artistas como Meninh@s da Rua, Skacha, Diskatocam e DJ Lord Keison.
As reivindicaçons e os debates propiciados por esta mobilizaçom nom tivêrom eco na imprensa maioritária; para além da difusom do boletim da própria Plataforma, intitulado Contracimeira, só meios alternativos como o nascente Novas da Galiza recolhérom informaçom sobre a iniciativa popular. Tampouco as instituiçons colaborárom senom que pola contra tentárom dificultar o trabalho da Plataforma. Foi o caso do Concelho (governado polo bipartido PSOE-BNG) e também da USC, que denegárom espaços para a realizaçom de atividades.
A cámara municipal também tivo protagonismo na repressom. Segundo denunciava daquela a Plataforma, a polícia municipal foi empregada para identificar e dificultar o trabalho das ativistas que difundiam a propaganda da entidade. A repressom estatal, tal e como recolhia o vozeiro comarcal de Nós-UP, O Pedroso, concretizou-se desde os dias prévios nos seguimentos policiais a ativistas, nas retençons arbitrárias e mesmo nos maus-tratos, insultos e ameaças que dous ativistas sofrêrom após serem conduzidos à esquadra da polícia (onde fôrom obrigados e se espirem e a fazerem flexons). A esquerda independentista também denunciava que o clima repressivo e de impunidade permitira o ataque ao local social arredista A Sereia (sediado na rua dos Jasmins), que o dia 13 de fevereiro era apedrejado por vários indivíduos ao berro de ¡Viva el Partido Popular!
Apesar do clima repressivo, as manifestaçons e atos convocados foram considerados um êxito, com umhas manifestaçons que contaram com umha participaçom de umhas 1.500 pessoas cada um dos dias, superando as espetativas das convocantes. Assim, aquelas jornadas de mobilizaçom contra a cimeira de ministros de justiça e interior da UE, podem-se inscrever numha época de efervescência, luita e organizaçom populares, que só uns meses depois tivo na resposta à catástrofe do Prestige o seu exemplo paradigmático.