Apesar de que a agenda dos partidos políticos maioritários tenciona situar a emergência climática na que nos achamos num segundo ou terceiro plano, a realidade é testuda e, por boca de cada vez mais estudos científicos, situa o perigo global da desfeita do meio como tema central da actualidade. Um termo próprio de especialistas, “Circulaçom de Revolvimento Meridional do Atlántico” (polas suas siglas em inglês, AMOC) começa a ser conhecido polo grande público; a sua alteraçom poderia confirmar que nos adentramos de cheio, como espécie humana, em zona de perigo.

Que é a AMOC?

Para a compreensom do cidadao ou cidadá média sem grandes conhecimentos científicos, pesquisadores de alto nível venhem de difundir umha versom mais simplificada –mas nom por isso menos rigorosa– do que é a AMOC. Tal circulaçom oceánica é um movimento regular de águas que funciona a modo de tapete rolante, estabelecendo alternáncias periódicas de temperatura e densidade (relacionadas com a salinidade). A AMOC estabelece que a água quente dos trópicos vaia em direcçom norte, virando fria e salgada e fluindo assim para os fundos oceánicos; de novo volta para a superfície, onde aquece de novo e retorna à zona tropical.

A AMOC é, em resumidas contas, um regulador da distribuiçom global do calor e da energia, o equivalente, para fazermos gráfica a imagem, do mecanismo que pode estabelecer que o calor do corpo humano mantenha baixo o limiar óptimo para a vida. Esta circulaçom das águas está por trás de realidades climatológicas que nos som familiares aos galegos e galegas, nomeadamente o temperado do nosso tempo atmosférico; e explica, por exemplo, que as Rias Baixas e Nova Iorque tenham umha diferença de temperaturas invernais tam marcada, apesar de estarem na mesma latitude. A Corrente do Golfo, um dos factores centrais que explica o benigno do clima galego, apenas se pode entender como um subfenómeno da AMOC. Aliás, fenómenos tam senlheiros do nosso País, como o afloramento de águas, chave para a riqueza das nossas rias, dependem directamente dessa mega-circulaçom de correntes oceánicas.

Alteraçons e alerta vermelha

As notícias que chegam da pesquisa científica destes últimos meses intensificárom a preocupaçom global pola realidade do Antropoceno, isto é, da jeira biofísica em que grandes acontecimentos naturais som directamente influenciados pola voracidade humana sobre o meio.

Neste ano 2023 que andamos, ainda no seu equador, tenhem-se registado fenómenos que fam impossível olhar apenas de esguelho os tempos que estamos a viver: na Antártida, as fotos satelitais venhem de recolher que falta umha extensom de gelo equivalente ao tamanho dum país como a Argentina, anomalia que os e as cientistas reconhecem só ter passado umha vez cada 7,5 milhons de anos; o Mar Mediterráneo, saturado de turistas e blindado polas potências occidentais contra a entrada de imigrantes, aqueceu num ano 3ºC por cima da média; e numha vaga de calor mundial causada pola oscilaçom da corrente em jato entre os hemisférios norte e sul, certos pontos do planeta superárom os 50º.

As novas descobertas sobre a AMOC fôrom a duríssima confirmaçom de que umha mudança violenta de magnitude imensa está a cozinhar-se no meio ambiente.

Artigo de “Nature Communications” rebate o IPCC

A parelha investigadora formada por Susanne e Peter Ditlevsen, da Universidade de Copenhaga, vem de revelar nas páginas de “Nature Communications” que a fase climática na que a humanidade caminha nom é a que pensam tranquilizadoramente os mais. No seu artigo científico, que analisa as temperaturas oceánicas na etapa que vai de 1870 a 2020, os pesquisadores concluem que a circulaçom da AMOC “é a mais fraca do último milénio”. As mediçons, mais intensas e precisas a partir de 2004, quando se começárom a utilizar para as redes submarinhas de internet e através da utilizaçom massiva de satélites, viriam a demonstrar, para ambas as cientistas, que “o total colapso da AMOC poderia produzir-se num ponto indefinido entre o ano 2025 e o 2095”.

A parálise ou actual enfreamento da AMOC tem a sua raiz directa no aquecimento global, dado que o desgelo dos polos está a enfraquecer os níveis de salinidade, e a fazer mais lenta a circulaçom marinha. Nom é, porém, a primeira vez que isto acontece, se bem no passado a acçom humana nom tivo nada a ver. O último período glacial, relacionado com os Eventos de Dasgaard-Oescher, há 11.0000 anos, e que estendeu a sua influência até o 10.000 a.C., viu o enfreamento da AMOC. A consequência foi um clima entre 10º e 15º mais frio nas latitudes médias, com mudanças abruptas que se dérom num prazo muito rápido, e que fixérom de parte do continente europeu umha terra inabitável. De vivermos de novo num cenário assim, aliás da mudança de temperatura, enfrentaríamos umha alteraçom global dos patrons de precipitaçom que atingiria directamente aos monçons e aos ciclos subtropicais.

O Grupo Intergovernamental de Expertos sobre a Mudança Climática (IPCC), dependente da ONU, nom contempla tal alteraçom nas suas prediçons de curto prazo, apesar do demolidor das suas advertências sobre os ritmos que segue o aquecimento global. No seu informe mais recente, maquilhado diante do público polas elites políticas occidentais e boa parte da mídia, reconhecia que de dar-se tal ruptura, esta teria lugar no século XXII.

Controvérsia científica

Mas precisamente por ser ciência, o estudo dos Ditlevsen está aberto ao contraste e à crítica da comunidade científica. Nom é apenas o IPCC que pom em causa a ideia força do informe –o colapso cercano da AMOC–, também o fam reputados climatólogos europeus. Existem os matizes. Nalguns casos, topamos declaraçons menos categóricas. Segundo recolheu a revista “Science Media Center”, Stefan Rahnstfort, Professor de Física dos Océanos na Universidade de Postdame declarou que nom se pode afirmar exactamente quando este colapso se ia produzir, mas si dixo que “embora há incertidume, o novo estudo soma-se às provas que afirmam que está muito mais perto do que pensávamos.”

Mais comedido é Niklas Boers, catedrático de Modelizaçom do Sistema Terrestre na Universidade Técnica de Munich (Alemanha). Nas suas declaraçons à imprensa comercial, declarou que “as incertidumes som elevadas demais para estimar com fiabilidade o momento da inflexom”. De facto, toda a comunidade científica reconhece que monitorizar a AMOC é muito complexo, pois precisa-se umha imensa quantidade de bóias e um volume de dados que, para certas investigadoras, nom se acha no estudo que publicárom os professores de Copenhaga.

Ficçom e realidade

Seja como for, e independentemente da proximidade ou veracidade da ameaça, a consciência crescentemente assumida dumha desfeita ambiental global leva décadas a alimentar as especulaçons da humanidade, e, junto a um movimento pola justiça climática nascente, proliferam as ficçons sobre o que pode acontecer no futuro imediato.

De facto, a hipótese do colapso das correntes marítimas do Atlántico Norte foi aproveitada já polo cinema comercial há quase 20 anos: em 2004, chegava aos ecrás do cinema de todo o mundo o filme “O Dia Depois de Amanhá”, dirigido por Roland Emmerich, e criticado por “catastrofista” e “pouco científico” por parte de alguns cientistas. A obra baseia-se num livro editado em 1999, “The Coming Global Superstorm”, de Art Bell e Whitley Strieber. A peça relata a estória dum climatologista que, estudando os efeitos do aquecimento global, descobre a interrupçom da corrente do Atlántico Norte, num processo acelerado que conduz para umha segunda Idade do Gelo, com efeitos apocalípticos para a humanidade.