Incêndios gigantescos no norte global, vagas de calor oceánica ou anegamentos no sul. A anormalidade vira normal, e especialmente cada verao, a cidadania atende com mais atençom às notícias climáticas, que dam conta das cada vez mais frequentes realidades extremas. Em passados dias, o jornalista Juan Bordera, especialista na questom climática, e activista no colectivo Extinction Rebelion, vem de publicar um completo artigo que recapitula algumhas das anomalias térmicas mais salientáveis deste verao que começa, e que desenha um panorama que, para a parte da comunidade científica menos atada aos guions do poder económico mundial, aparece como “totalmente imprevisível”.
O factor que mais suscita a atençom da comunidade científica neste verao é a crescente aceleraçom do desequilíbrio térmico nos océanos, com valores de aquecimento da água que os especialistas nom registaram, nem aguardavam registar. Bordera analisa no seu artigo que, embora estas tendências alcistas se deterám nalgum momento, “o facto de se ter produzido semelhante cámbio exponencial é algo que cumpre pesquisar, dado que estamos ante a ruptura de algo muito perigoso. Um cúmulo de causas diferentes interagem à vez para estas anomalias se deam deste modo tam abrupto.”
Novo verao de record
Para além da vaga de calor que golpea a Península Ibérica, e da que na Galiza apenas tivemos notícia nas comarcas mais ao sul, nestes meses estivais som as vagas de calor oceánicas as que acaparam a atençom de cientistas e, em menor medida, de políticos, em países tam afastados como Irlanda e Mauritánia, Equador e Japom.
No que diz respeito às temperaturas, este verao volveu a trazer notícias de 40ºC na Sibéria, ou 50ºC em México; nos nossos países vizinhos, como Espanha ou Portugal, sem adentrarmo-nos no mês de julho, o mercúrio já superou folgadamente os 40º. Estes altíssimos índices, registados em muitos pontos do mundo, estám por trás de incêndios como os produzidos em Nova Iorque ou no Canadá, cujos efeitos atmosféricos fôrom tam potentes que chegárom às costas da Galiza. No extremo contrário dos fenómenos climáticos extremos, o Japom era golpeado por duros anegamentos após chuvas torrenciais.
Múltiplos factores por trás da aceleraçom
Num contexto geral, aceite pola comunidade científica, de mudança climática acelerada, vários factores específicos poderiam estar a agir de maneira muito importante nestes meses: por umha banda, a confluência dos fenómenos chamados El-Niño e La-Niña (oscilaçom de águas quentes e frias no Pacífico) está a voltar com muita força, e os seus efeitos notarám-se na suba de temperaturas nos anos 2023 e 2024, atingindo também as costas atlánticas da Europa, segundo reconheciam recentemente meios lusófonos.
Para além deste fenómeno natural e estacional, a comunidade científica regista já a interrupçom de algumhas correntes oceánicas imprescindíveis para o equilíbrio homeostático do planeta, e nomeadamente assinalam o ralentizamento do Corrente do Golfo, consequência directa do derretimento do Ártico, e da entrada de grandes correntes de água doce nos océanos. Estas velhas correntes hoje ralentizadas, que aliás dam pé a umha superfície marítima muito mais cálida, tenhem efeitos, quer na vida sumarinha, quer nas temperaturas globais do mundo, e os efeitos da mudança podem ser tam colossais que ainda nenhum cientista se atreve a fazer pública umha conclusom rigorosa sobre o que pode acontecer.
Pau e cenoura
Se bem os grandes blocos mediáticos e políticos preferem ser cautos na hora de informar, proscrevendo praticamente qualquer opiniom que vincule o caos em andamento com o domínio mundial do capitalismo, certas autoridades tencionam já mentalizar à populaçom sobre duros cenários possíveis, quiçá pedindo confiança nas autoridades actuais como as únicas possíveis gestoras da crise. Na França, o ministro de meio ambiente declarou talhantemente que “nom podemos fugir da realidade”, e o governo prepara a populaçom para um cenário climático de mais de 4º C de aquecimento para finais deste século.
Mas ao mesmo tempo, os poderes estatais vigilam para que o combate à crise climática nom derive em formas de crítica radical do actual modelo de vida e consumo: na França, o executivo decidiu-se a suspender (ilegalizar de facto) o colectivo ecologista Soulevement per la Terre, acusado de resistir com violência a construçom dumha nova linha de caminhos de ferro. Antes da ilegalizaçom, umha rusga policial detinha parte dos seus militantes; e recentemente soubemos da condena à prisom do cientista Mike Lynch-White por um protesto climático, ou multas a professores como Nikolaus Froitzheim.
*O grosso da informaçom deste artigo está tirado do artigo de Juan Bordera “El Niño y su mar (en llamas)”, cuja versom completa podes ler aqui.