José João Rodrigues (Corunha, 1998) estudou Língua e Literatura em Compostela. É parte dumha nova fornada de pesquisadores preocupados com a normalizaçom do idioma, e compagina a sua investigaçom académica com o seu contributo a projetos como Espaço Clara Corbelhe, Novas da Galiza ou Mocidade pola Independência. Com ele falamos do seu primeiro livro “Assim nasceu uma norma. Pequena história da corrida lingüística na Galiza entre 1970 e 1983”, que vem de sair do prelo graças a Através.

Como te inicias na carreira investigadora?

Comecei realmente há três anos, e todo o trabalho que levo feito é sobre este tema, o galego e a norma. A questom começou um pouco por acaso, se bem eu fum reintegracionista desde começos da carreira. Durante o confinamento, comecei a ler o livro “Unha ducia de galegos”, de Víctor Freixanes, e na entrevista que mantém com Ramón Piñeiro, reparo em que, ao descrever a sua morada, esta é vizinha da minha, está justo diante do pátio do andar no que vivo em Compostela. Sentim umha conexom a partir desta anedota, e ajudado por umha cançom de Leo sobre o pinheirismo, “Son piñeiral”, vou estudando como esta corrente vai colonizando as instituiçons autonómicas. Logo, a raiz dum artigo que publico no Novas da Galiza sobre Carvalho Calero, Valentim Fagim pede-me que trabalhe num livro sobre a minha visom sobre o processo da construçom da norma, e pugem-me a isso.

Qual é a tese que defendes no livro?

Defendo, basicamente, que a norma hoje vigorante do galego foi umha imposiçom, mas ao cabo umha boa imposiçom; eu falo dumha imposiçom necessária. Porque? Falamos dum país que recupera a autonomia, e o galeguismo, no seu conjunto, descobre que nom se trata apenas de ser galeguista, de produzir cultura, mas de gerir um país, e para isso cumpre umha norma ortográfica. Claro, eu som reintegracionista, e como tal, a escolha dessa norma nom me satisfai; mas sem dúvida que cumpria decidir-se por umha. E se calhar, na altura, nom havia mais alternativa que esta, e o que fica claro é que sem norma nom poderia haver umha indústria cultural, nem hipótese dumha cultura galega oficial.

Capa do livro “Assim nasceu uma norma. Pequena história da corrida lingüística na Galiza entre 1970 e 1983”, que vem de sair do prelo graças a Através.

Estudas também as redes sociais e grupos de poder que existiam por trás dessa decisom.

Com efeito, e isso é o mais importante. Porque ao falarmos de língua, falamos das redes sociais do galeguismo; acho que o chamado Decreto Filgueira nom o explica todo, nem tampouco a aprovaçom da Lei de Normalizaçom Lingüística. Trata-se dum processo de décadas, na que essa corrente que chamamos pinheirismo vai tecendo as suas redes para estar no lugar adequado, chegando mesmo a estarem perto do presidente da Junta.

Que opinas dessa estratégia do galeguismo oficial?

O seu projecto, obviamente, nom era o meu, mas nom tenho dúvida que Piñeiro era um génio que soubo levar a cabo o seu programa.

Como valoras a actuaçom do reintegracionismo na altura?

Estrategicamente, pouco útil; as cousas, na altura, acontecêrom de determinada maneira, e penso que dificilmente poderiam ter acontecido de outra. Tinha-se que aprovar umha norma oficial, e pola correlaçom de forças, nom ia ser outra. Que deveria ter feito o reintegracionismo na década de 80? Eu, sinceramente, nom o sei, nem tenho a soluçom.

Após anos e anos de tensom larvada e manifesta, pensas que podemos seguir a falar dum conflito normativo na Galiza?

Se entendemos conflito normativo aquilo que vivíamos nos 80 e 90, nom, este nom existe mais. Existe umha estratégia reintegracionista muito visível, a binormativista, e esta nom leva ao confronto, de feito vemos como a institucionalidade muitas vezes chama a esta posiçom aos seus encontros, em certa medida reconhece a sua voz, porque nom é conflituoso. Aquela tensom que víamos antes, nomeadamente arredor da USC, nom existe mais.

Este novo clima supom um avanço para a língua ou umha certa paralísia?

Eu, em geral, e isto aprendim-no de Isaac Lourido, acho que o conflito e a dialéctica som bons, a pesar do tópico e da ladainha que diz “somos poucos, e ainda assi, estamos enfrentados”. Nom suspenderia o debate; nós, se defendemos umha norma alternativa, e cremos que temos a razom, temos que defendê-la com contundência, e penso que a defesa genérica do binormativismo poida por legitimar a oficialidade sem obtermos nada em troca. Dito isto, também é certo que o reintegracionismo nom é um movimento de resistência política, senom cultural, e é radical apenas em certa medida, e nesse sentido podemos entender que queira incidir na situaçom sem mudar as regras de jogo.

Para além das controvérsias lingüísticas, participas de espaços jornalísticos como o Novas da Galiza, e de projetos formativos como Clara Corbelhe, e compaginas isto com a participaçom em Mocidade pola Independência. Qual é o interesse e a dedicaçom da juventude organizada hoje pola formaçom e o debate?

Tenho participado em foros militantes e tenho colocado esta questom: nom sei se existe menos formaçom que no passado, mas si existe umha diferença qualitativa na formaçom. Hoje existem outros formatos de leitura, existem as redes sociais, telemóveis, e a atençom dedicada a isto é muito diferente. Temos muitas distracçons, e somos mui diferentes das geraçons anteriores, mesmo as imediatamente anteriores; e eu mesmo noto a diferença com as pessoas que estám a entrar a militar, com dezoito ou vinte anos. A pergunta, logo, deve ser esta, ao meu ver: estamos a aproveitar bem os meios que temos? Muita gente por exemplo nom entende que o Galiza Livre é um espaço formativo, que o Novas da Galiza é um espaço formativo, que nom sabe como aceder a certos textos ou certas tradiçons teóricas…que estám aí, que estám mais aí do que nunca. Para responder sinteticamente a pergunta, diria que existe umha diferença em relaçom a tempos anteriores, mas nom é algo insalvável; trata-se de reivindicarmos os nossos meios formativos. Os melhores textos que tenho lido eu nom som de meios académicos, mas militantes, aí há um conhecimento profundíssimo, nomeadamente no independentismo galego. Há um vergel de conhecimento inexplorado para as geraçons novas, incluída a minha.