Desde o telhado, a vida vê-se doutro jeito. Aquilo de usar arnés, pouco se tem visto. A maior proteçom foi sempre umha viseira e umhas luvas, para pôr as telhas ou o que mandara o alvanel.

O único bom do trabalho de peom nesses casos, poida que for o feito de ver a vida desde as alturas; certa sensaçom de liberdade e de tranquilidade se é no rural, e a possibilidade de olhar os espaços desde um outro prisma, as casas, a gente, a vida…

Nom é um mito aquilo do obreiro berrando/agredindo verbalmente às moças desde a obra, fazendo cúmplices a outros com as suas supostas bromas, como nom é um mito tampouco aquilo dos acidentes laborais por beber muita cerveja. Como é bem sabido, mitificar, para o bom e para o malo, pouca utilidade tem na praxe.

Aquelas obras de imobiliárias mafiosas, que som as últimas em quebrar sempre, aqueles edifícios a meio construir com clientelismo político, de empresas com nulo interesse polo entorno natural e direitos dos trabalhadores “adornam” a parte mais habitada do nosso país.

Nom era de estranhar que para umha parte da juventude, esses lugares constituíssem em muitas ocasons templos de iniciaçom à expropriaçom, à desobediência ou ao prazer de habitar, por umhas horas ou umhas noites, um lugar que lhes seria negado no futuro. Mais de umhe chavale botou ali os seus primeiros polvos, gastou os seus primeiros sprays, roubou o seu primeiro diesel das máquinas ou experimentou o orgasmo de forçar portas. Essas edificaçons, de maior ou menor luxo, sempre levarám por dentro a marca desse desassossego.

Muites daqueles rapazes som a dia de hoje guardas de seguridade das construtoras, ou simplemente habitam umha divissom daquelas instáncias que tinham percorrido, sendo peons ainda noutras obras, ou trabalhando com maior ou menor precariedade em empresas vinculadas à construçom. Outres simplesmente olharemos este ou aquele chalet como um lugar que nos viu medrar, onde sonhos e realidade jogavam como jogam a luz a obscuridade nas paredes a segundo o tamanho da lua ou dos candis.