Aquele home, na realidade, manejava muito dinheiro. Tinha agasalhado ao seu filho umha moto de água polo aniversário, mas isso seica nom o tinha de todo contento e trouxera outros problemas. Na realidade, o dinheiro daquele home somente significara certo status, nom tinha nem sabia como gastá-lo nom sendo em avanços materiais para a família e ademais levava já dez anos metido em prisom.
Antes de ter vinculaçons com o narcotráfico, fora marinheiro. Pode que o ofício de marinheiro tenha algo que implique bastante toleráncia à frustraçom, por aquilo de ter que resignar-se à natureza (resignar-se no bom sentido da palavra) do que a umhe arrodeia num temporal ou numha situaçom inesperada. Também pode que tenha algo de espírito sonhador, por ser o mar um alicerce tam distinto à terra, pola distáncia e polas noites a céu aberto.
Na prisom, era oleiro, sabia muito de ioga, psicologia e primeiros auxílios, e tinha um humor (se bem parte dele apestoso por ser de grandes connotaçons machistas e racistas) que fazia agradável a estância ao seu lado.
Há que dizer que se eu tomasse muito a peito a vida, este artigo nom sairia à luz. Nom porque nom tenha sentido falar desta história, mas porque politicamente aquele home era um inimigo objetivamente falando. Ainda preso, conservava fortes contatos na guarda civil e em serviços de informaçom, contatos políticos, contatos entre carcereiros, contatos entre empresariado legal e ilegal. Esses contatos eram verdadeiros antigos laços de interdependência económica com responsáveis da guerra suja em Euskal Herria e outros setores fascistas.
Por razons do destino, eu devo a aquele home certo respeito e interesse. Ainda que provavelmente ele tenha falado de mim (roçando o chivateio) do que pensava ou nom ante responsáveis do cárcere, ou mesmo antigos companheiros seus. Nom representou mais que a contraditória realidade dumha minoria dum povo como o nosso que decide unir-se ao opressor na procura dum bem-estar familiar que nunca chega nem chegará. Há que dizer que ainda guardo certo respeito à sua pessoa igual que seguramente ele a mim, e por isso nom vou citar nome e apelidos. Na realidade, nom quijo nem puido arruinar-me mais a mim nem a ninguém dos que ali estávamos. Ao contrário, observei nele, durante mais dum ano, um grande e forte (expecional) realmente admirável trato humanitário ante pessoas realmente vulneráveis, salvando a vida a pessoas que se queriam suicidar, e pondo o seu corpo e a sua atençom para os cuidados em situaçons desgarradamente trágicas.