Antonio Aretxabala é Geólogo na Universidade de Nafarroa e director técnico do Laboratório de Edificaçom. Especialista em combustíveis fósseis e energias, é umha das vozes autorizadas na Europa sobre a colapso energético-ambiental em que nos adentramos. Na passada semana, desvendava na imprensa basca as falsidades da chamada “transiçom verde” e advertia do “neocolonialismo” que guia a nova proliferaçom eólica. Polo seu interesse para o público galego, traduzimos boa parte da conversa.

Dizer que os combustíveis fósseis se estám a acabar nom é cousa de hoje mesmo. Quanto se consumiu, e quanto tempo resta?

Estes combustíveis sempre vam existir, porque há milheiros de milhons de barris nas reservas. A pergunta é de que tecnologia dispomos para chegar a eles. Há umhas décadas, com umha unidade energética, por exemplo, um barril de petróleo, o seu equivalente em gás ou carvom, devolvia-nos cem barris, porque era facilmente acessível. Metaforicamente: até o de agora estivemos a recolher as maçás mais acessíveis, mais bonitas e mais doces, e de socato decatamo-nos de que apenas restam as mais altas e inacessíveis da maceira, feas, ou com verme.

E o mesmo aconteceu com as matérias primas nom renováveis, nomeadamente os combustíveis fósseis. Isto é muito prejudicial para umha sociedade termo-industrial como a nossa. O sistema actual é cada vez mais caro economicamente e, sobretudo, energeticamente. De feito, vimos de produzir desde aqueles cem barris por barril investido, a produzirmos seis ou sete barris por barril. Certamente que algumhas transformaçons digitais nos ajudárom a ser um bocado mais eficientes, mas sabemos quando vai chegar o momento em que apenas imos ser quem de produzir um barril com um barril: por volta de 2040. Nom podemos gastar toda a energia em conseguir energia.

A década que andamos (2020-2030) está a ser muito crítica, porque a nossa é umha civilizaçom baseada num crescimento constante, e este crescimento apenas se pode conseguir queimando materiais geológicos. Dado que cada vez obtemos menos benefícios (energéticos), nos últimos tempos começamos a explorar no mar profundo, ou a fazer fracking, e nos últimos anos, entramos na dinámica de queimar mais e mais porcalhadas; e assi, agora emitimos mais lixo (e mais dívida) que nunca à atmosfera e à hidrosfera para extrair-mos menos energia.

Até quando a sociedade vai seguir a viver igual que até agora?

A sociedade está a se decatar de que temos umha série de “probleminhas” para seguirmos na mesma, mas o relacionado com a energia quiçá nom for o mais importante. De feito, podemos viver com menos, porque somos socialmente muito ineficientes. A globalizaçom trouxo-nos, por exemplo, amorodos ou cogombros produzidos no Chile ou em Sudáfrica em dezembro. Neste sentido, podemos corrigir bastantes detalhes, vários informes da Uniom Europeia venhem nessa direcçom, tais como o Dictame SC/048 ou os17 ODS.

Por um lado, chegam medidas para a descentralizaçom e a desglobalizaçom, mas ao mesmo tempo, as autoridades falam em crescimento económico. Os cidadaos já o estamos a notar, antes do mais, por afectar os nossos bolsos (…) Muitas cidadás vem como, através dumha tecnologia que nom substitui os combustíveis fósseis, atenta-se contra os seus meios de vida.

O primeiro de tudo, esta acelerada mudança deveria ter partido de esforçar-nos em mudar a economia e as relaçons entre as pessoas; a forma em que se artelha a nossa sociedade, dado que se baseia nesses combustíveis fósseis em devalar e de cada vez pior qualidade, e nom podemos pensar que imos funcionar exactamente do mesmo jeito com umhas energias renováveis que dizem venhem a substituí-los, quando na verdade se engadem ao mix.

Emprestou-se umha atençom especial aos modelos de transiçom energética projectados, polígonos fotovoltaicos e eólicos, para se estabelecerem numerosas infraestruturas na chaira ou na montanha. Que se vai conseguir com eles?

Incorre-se numha contradiçom: o efeito desse desenho é a electrificaçom praticamente completa da economia. Mas nom é certo que esta energias sejam renováveis, porque nom som mais do que umha extensom das fósseis. De feito, nom há nengumha infraestrutura eólica que se pugera em andamento através da energia eólica, nem solar com solar: cumpre construir estradas, mover camions, umha minaria extensiva, fazer corpos e tarabelos de moinhos em altos fornos…

Nom há nenhuma economia circular na implantaçom desta primeira transiçom às tecnologias de captaçom de energia renováveis, nom há planos para aproveitá-la dentro duns 20-25 anos, quando houver que realizar a segunda. Certamente, estas infraestruturas produzirám electricidade, mas o paradoxal é que a procura de electricidade foi diminuindo desde o colapso económico de 2008.

Agora imos electrificar a economia, muito bem, mas a nossa mesma organizaçom social centralizada nom pode fazer-se com a só pretensom de substituir as energias fósseis com estas extensons. De feito, nos últimos anos foi em aumento o consumo de combustíveis fósseis (cada vez com menos rendimento e mais emissons polo que contamos antes), ao tempo que também se consolidou a implantaçom de tecnologias de captaçom renovável. Portanto, até agora as renováveis venhem a se somar a um modelo energético mixto. A miopia institucional tomou um caminho condenado à falência: apoiar os interesses das grandes empresas.

Aliás, estas infraestruturas “renováveis” dependem nomeadamente dos minerais extraídos, refinados e produzidos na sua maioria na China com combustíveis fósseis; nom produzimos matérias primas, mas num só aerogenerador inclui-se praticamente toda a táboa periódica destes elementos desde umha minaria intensiva feita com diesel.

Há matérias primas abondas para fazer realidade essa transiçom energética esperada?

Numha dimensom mundial si, com grandes matizes e levando em conta umha descida notável no consumo. Quase todos os processos industriais se tenhem deslocado à China ou à Índia, mas isto nom é economicamente viável hoje. Também estamos tomando emprestado das geraçons futuras através dos fundos europeus Next Generation. Tem um bonito nome, mas os nosso filhos netos vam pagar os ofensivos e humilhantes lucros económicos actuais destas empresas.

Entom, transportando dum lugar a outro, sem control nenhum, mais que o que procura incrementar os lucros do ecossistema político-empresarial, estabelecem-se zonas (e tempos) de sacrifício para se acometer essa alegada transiçom. No Estado espanhol estám-se a aproveitar as zonas esvaziadas, deliberadamente ou nom, para se instalarem infraestruturas renováveis, nomeadamente para fornecer às grandes cidades, Madrid, por exemplo. Nom há aerogeneradores nessa comunidade, toda a energia que consome provém do exterior; é um modelo de neocolonialismo. Com a água, as matérias primas ou os alimentos acontece o mesmo.

É o decrescimento a soluçom?

O decrescimento nem sequer é umha opçom para umha possível soluçom, tudo o que atinge à descentralizaçom, descomplexizaçom, desglobalizaçom e decrescimento é um vieiro que imos seguir de modo inegociável, gostemos ou nom. Que demónios, já estamos a decrescer: aos poucos, a economia está a refrear-se ou a recuar, e cada vez mais perto. Saiche a fazer a compra? Que remédio nos resta! Isto leva a umha dissonância tremenda, que é tam infame, entre os políticos e a linguagem comum dos meios, que sempre nos dixeram que temos que medrar para afrontar os problemas do paro ou a pobreza. O problema, porém, foi precisamente esse: acreditar no crescimento “sostido e sustentável” ou no engano do crescimento verde.

(…)

A sociedade enfrenta-se a umha mudança de paradigma global?

Nom é o fim do mundo, é o fim dum mundo. Vivemos um momento histórico apaixonante, porque nos achamos ante umha mudança de paradigma ou de direcçom, nom apenas tecnológico: psicológico, histórico, espiritual, afectivo…também é complexo explicar-lho à gente: o peixe nom é ciente da água, porque nom a experimenta, nasceu no seu seio e vive toda a sua vida porque está mergulhado nela. Mas, de socato, quando o tiram da água e está a piques de morrer, dá-se de conta de que existe umha cousa chamada água.

 
*A entrevista completa foi publicada em euscara no web Utzarria.eus. Traduçom do espanhol por Galizalivre a partir do blogue de Antonio Aretxabala.