Certo é: pouco nos beneficia o cámbio horário imposto por Espanha. Pouco nos beneficia ser o primeiro país de entrada de cocaína em Europa. Que pouco nos beneficia nom manter aqueles montes mancomunais que eram espaço de decisom coletiva. E assi, um longo etecetera.
Entre as realidades opressivas que nos atanhem, que se podem analisar com lupa cada umha delas, e a energia necessária para fazer fronte a elas, há toda umha listagem inumerável de bloqueios que impedem, ao menos, vencer medos irracionais ou parálises arredor da acçom. Outra cousa é nom saber o que fazer, mas isso é outro assunto.
Há um dito muito sábio que vem a dizer algo assi como que “se sabes o que deves fazer e nom o fas, entom estas pior ca antes, entom é que nom aprendiches nada”.
Umha observaçom por acima do contexto sociopolítico dá a sensaçom de que as situaçons de parálise nom provenhem do “nom saber o que fazer” se nom mais bem dum “como fazer o que queremos fazer”. Nom vai ser este artigo quase literário a forma de resolver isto último, mas sim quer ser um pequeno empurrom para carregar-nos de ilusom e vontade.
Fai dez anos circulava muito polos entornos alternativos “O prazer armado”, um livrinho que pouca gente sabia em que ano fora publicado (1977), proibido polo estado italiano no seu momento e o autor condenado a 18 meses de prisom por tê-lo escrito. Esse texto (nom livre de críticas também desde todos os ámbitos da esquerda) chegava à Galiza distribuído em forma de fanzine e fotocópias, e era e foi para muitas militantes um livrinho referencial, nom tanto porque dixera nada novo se nom pola força que invocavam as suas letras. Esse livrinho fora escrito polo anarquista Alfredo M. Bonanno. Estes extractos definem bem o espírito do livro:
“(…) Vamos pôr um ponto final na espera, nas dúvidas, nos sonhos de paz social, nos pequenos compromissos e na ingenuidade. Todo o lixo metafórico que nos é fornecido nas lojas do capitalismo. Vamos pôr de lado as grandes análises que explicam tudo até ao mais ínfimo pormenor. Enormes volumes carregados de senso comum e medo. Vamos pôr de lado ilusões democráticas e burguesas de discussão e diálogo, de debate e assembleia, e as iluminadas capacidades dos chefes mafiosos. Vamos pôr de lado a sabedoria que a burguesa ética do trabalho escavou nos nossos coraçons. Vamos pôr de lado os séculos de Cristandade que nos ensinaram o sacrifício e a obediência. Vamos pôr de lado padres, patrons, líderes revolucionários, líderes menos revolucionários e os que não são revolucionários de todo. Vamos pôr de lado números, ilusões de quantidade, as leis do mercado. Vamo-nos sentar por momentos nas ruínas da história dos perseguidos, e reflectir. (…)”
“(…)” O capital devora tudo, até a revoluçom. Se esta nom rompe com o modelo da produçom, se meramente reclama impor formas alternativas, o capitalismo engoli-la-á dentro do espectáculo mercantil. Apenas a luta não pode ser engolida. Algumas das suas formas, cristalizando-se em entidades organizacionais específicas, podem acabar sendo arrastadas para o espectáculo. Mas quando elas rompem e saem da significância profunda que o capital dá à produçom, isso torna-se extremamente difícil. (…)”
O livro inteiro podes atopa-lo aqui.