Necessita o movimento climático feitos, e nom palavras, como figérom estas luitas emancipatórias de antanho? Segundo Malm, sim. A crise climática é causa e consequência da desigualdade, argumenta, com as menos responsáveis sendo as mais vulneráveis aos seus estragos, e as mais cúmplices, saindo praticamente ilesas –todo o qual aponta à necessidade, desde o seu ponto de vista, de acçom violenta–. Mas Malm nom especifica quem resulta mais danado. Deveria este grupo definir-se em termos geográficos (por exemplo, as populaçons das ilhas do Pacífico que estám a inundar-se), os países de menor renda, todo o Sul Global, ou um subconjunto de estes últimos com o maior nível de «vulnerabilidade climática multidimensional»? ¿Deveria entender-se sociologicamente, já for demarcado polo que W.E.B. Du Bois chamou «a linha de cor global» ou polos contornos dos povos indígenas e os seus territórios ancestrais, ou por classe económica –as trabalhadoras do mundo unidas–? Melhor em termos geracionais, com nom só a juventude atual, se nom todos os humanos nom nascidos que vivirám as letais consequências da insensatez dos seus predecessores?
Quem, noutras palavras, é o sujeito revolucionário da crise climática? Quem é o agente do câmbio histórico? Sem umha resposta a estas perguntas, a ideia de organizar protestos massivos e disruptivos que nom evitem destruir a propriedade do capital fóssil semelha desalentadora. Incluso se se puder identificar às antagonistas estruturais do capitalismo fóssil, a existência empírica de tal grupo, ou conjunto de grupos, é umha precondiçom insuficiente para que tomem acçom decidida cara um objetivo compartido. A diferença entre umha classe em si e umha classe para si, por usar os conceitos marxianos, é a diferença entre a inacçom coletiva e a acçom colectiva, e Malm nom identifica as condiçons baixo as quais as massas das mais prejudicadas polo aquecimento global poderiam reconhecer as suas reivindicaçons compartidas e o seu potencial combinado para cavar a tumba do capital fóssil (ou, melhor, manter os combustíveis fósseis enterrados onde estám). De feito, se acaso, Malm sugere que os grupos mais prejudicados som insuficientemente militantes. Especialmente no Sul Global, aponta, a sabotagem contra a infraestrutura fóssil «brilha pola sua ausência», tendo em conta que ali se atopam a maioria dos objetivos de protesto e o desproporcionado impacto do aquecimento global. A gente do Sul Global, argumenta «poderia agonizar por ela (a crise climática); raramente vê um meio para contra-atacar».
Mas a estreita definiçom que fai Malm de «contra-atacar» corre o risco de minimizar o que é sem dúvida o ativismo anti-extrativista mais efetivo do mundo. Pode estar no certo ao dizer que estes ativistas na sua maior parte renunciam à sabotagem. Mas si ponhem os seus corpos e erigem bloqueios e outras barreiras físicas –e fam-no frente a repressom estatal e corporativa–. E, ao contrário do que diz Malm, este ativismo de alto risco é de feito mais provável que tenha lugar em países das capas mais baixas da jerarquia global. Um recente megaestudo dos movimentos anti-extrativistas do mundo conclui que entre 1997 e 2019, pouco menos de um quarto dos 371 casos de protestos contra a extraçom de combustíveis fósseis, oleodutos ou prantas de refinamento tivérom lugar em países de rendas altas, enquanto que quase a metade se dérom em países de rendas baixas ou meio-baixas. É certo que a grande maioria do protesto do Sul Global é «pacifista» segundo a definiçom de Malm –embora isso nom necessariamente implica ausência de força por ambas partes–. O 40% dos casos de protesto contra oleodutos resultárom en criminalizaçom estatal ou violência clara, e incluso assassinatos. Dado o respeito que Malm mostra pola valentia, deveria quitar-se o sombreiro ante as defensoras latino-americanas da terra e a água, cuias cifras de assassinadas som superiores às ativistas de qualquer parte do mundo.
Se isto nom conta como «contra-atacar», tampouco o fai a longa história de voaduras de oleodutos no Sul Global, principalmente em África e Oriente Próximo. Malm sim dedica várias páginas a estes atos de sabotagem. Mas nenhuma de estas acçons satisfai os seus estritos critérios: «Os aparelhos que emitem CO2 fôrom fisicamente alterados durante dous séculos por grupos subalternos contrários às políticas para as que servírom –automatizaçom, apartheid, ocupaçom–, mas ainda nom como as forças destrutivas que som por si mesmas». Esta é umha afirmaçom curiosa. No estudo citado anteriormente, entre os motivos que levam às comunidades de primeira linha a resistir frente os combustíveis fósseis (de novo, acçons concentradas de forma desproporcionada no Sul Global) som a «perda de biodiversidade», a «contaminaçom do ar», a «contaminaçom do solo e a água» e a «perda de terra»; para os oleodutos e o fracking em particular, outro motivo é o «aquecimento global». Estes movimentos claramente vem a infraestrutura do capitalismo fóssil tal como a vê Malm: destrutiva em si e por si mesma. Simplesmente nom sempre vem a mudança climática como o único ou o principal dano, senom que se centram nos impactos meio ambientais e sociais localizados –impactos que também tenhem implicaçons atmosféricas–. (Trás da indústria fóssil, a deflorestaçom tropical é o segundo maior contribuinte ao aquecimento global).
A ideia de que a sabotagem e outras formas de acçom direta contra o capitalismo fóssil contam como tais só se as pancartas e os cánticos das manifestantes fam referência a partes de carbono por milhom ou denunciam a executivos petroleiros nom só minimiza artificialmente a extensom da resistência; também vai em contra de todo o que temos aprendido sobre o que inspira o ativismo climático e meio ambiental real. Mais aló dos estreitos confins de quem já estám implicados, ou de quem tem suficiente seguridade material para proteger-se dos estragos imediatos, palpáveis e, por tanto, locais do capitalismo fóssil, umha estratégia que dependa dumha promessa abstrata de mitigar a mudança climática esta destinada a fracassar à hora de organizar as próprias massas que Malm diz priorizar.
Em todo o livro de “Como dinamitar um oleoduto”, Malm mostra-se explicitamente preocupado pola necessidade dum movimento de base amplo que involucre a milhons de pessoas. Longe de impulsar umha teoria da vanguarda, tem cuidado de enfiar a agulha da militáncia e a mobilizaçom massiva, afirmando que ambas estám dialeticamente inter-relacionadas, mais que mutuamente enfrentadas. Até este momento, critica a ecosabotagem dos 80, 90 e começos dos 2000 polo seu niilismo e aventureirismo: segundo Malm, era sobre todo um martelo sem um bigorna. Mas num estado permanente de emergência climática, o cálculo tático de Malm troca. O precário equilíbrio entre o vanguardismo e a mobilizaçom massiva dá lugar à «lei dumha tendência à receptividade» a que a violência «medre num mundo que se quenta». (Poderia-se perguntar se esta «lei» também aplica aos partidários do fascismo fóssil, e que riscos poderia isto suponher para as saboteadoras). Sugere que esta nova receptividade à violência poderia atrair a novas participantes, manifestantes que ainda nom estám, a quem o permanente pacifismo do movimento as repele, mais que inspirar seguridade.
Se bem é indubitavelmente certo que algumhas se «sentiriam atraídas» pola sabotagem, Malm semelha ter revertido aqui a causalidade. Os movimentos massivos nom brotam dos costados de lobas solitárias; mais bem, é em momentos de mobilizaçom massiva quando pode nascer a violência espontânea (ou planejada). É dizer, durante o enorme levantamento ocasionado polo assassinato policial de George Floyd, o incêndio dumha comissaria em Mineápolis recebeu umha aprovaçom generalizada: o 54 % da povoaçom estadunidense pensou que o ato estava justificado. Mover a opiniom pública sobre um evento tam incendiário como prender lume à própria infraestrutura da «lei e a ordem» foi umha tarefa hercúlea. É impossível imaginar um giro tam dramático, embora fugaz, na janela de Overton sem que houver milhons de pessoas nas ruas –entre 15 e 26 milhons para ser exatos–, num levantamento de meses, o maior e mais extendido movimento de protesto na história estadunidense. Noutras palavras, a teoria do flanco radical funciona em ambos sentidos: o radicalismo pode legitimar posturas que som moderadas em comparaçom, mas o protesto multitudinário que é considerado relativamente pacífico é necessário para que a violência tiver este efeito.
A dizer verdade, Malm provavelmente estaria de acordo. Mas ao estabelecer a violência como umha soluçom ao atual impasse do movimento climático, coqueteia coa propaganda polo feito, a ideia de que os atos políticos violentos espertam por si mesmos as massas durmintes. Malm observa que a ausência de «um só distúrbio ou onda de destruiçom de propriedades», normalmente tomada como um sinal do êxito do pacifismo, bem poderia ser também proba do «fracasso do movimento à hora de lograr profundidade social, articular os antagonismos que atravessam esta crise e, nom menos importante, fazer-se cum ativo táctico». É a violência um resultado ou umha causa da profundidade social? E, exatamente, como se articulam os «antagonismos»? A mesma história de luita social violenta intermitente que Malm relata provê algumha guia: conceitos abstratos como a concentraçom atmosférica de dióxido de carbono ou os trabalhos globais do capitalismo fóssil nom compelem pola sua conta grandes quantidades de gente a implicarem-se numha acçom coletiva potencialmente fatal. Som os efeitos palpáveis quotidianos de esses fenómenos planetários –a perda de terra e fontes de sustento, a destruiçom dos hábitats e as vias navegáveis, a intimidaçom e a brutalidade– o que incitou à gente a unir forças e incluso arriscar as suas vidas em batalhas muito assimétricas com empresas multinacionais protegidas polo braço repressor do Estado.
Assim pois, o nosso reto nom é persuadir as comunidades que estám em primeira linha para que resistam em base as emissons globais em lugar de em base a contaminaçom local, nem animar a utilizar a violência a quem no Norte Global já estam implicadas em “Fridays for Future”, “Ende Gelände” e “Extinction Rebellion”. Mais bem, semelha que o reto consiste em reclutar a muita mais gente da que já está mobilizada por qualquer de estes grupos, independentemente das decisons táticas que tomem na calor da batalha. Malm compreende a importância de organizar as desorganizadas: «Um movimento climático que nom quer comer os ricos, com toda a fome de quem luitam por ponher a comida sobre a mesa, nunca da no branco». Mas o seu acento continua em incitar à «raiva social» em lugar de cultivar umha base social.
No capítulo final, Malm reflexiona sobre a base moral da sabotagem de oleodutos e conecta com umha sorte de fé secular reminiscente do recente tratado de Martin Haglund, “Esta vida”. Primeiro aniquila o fatalismo climático: a «reificaçom da desesperança», argumenta, é em si mesma «umha contradiçom performativa» que pretende meramente descrever, desde a comodidade dum sofa, a certidume da apocalipse enquanto se dissuade ativamente à gente de tomar acçom. Isto é tambem empiricamente falso, porque «cada gigatom» de emisons de carbono «importa». A Malm, pola contra, interessa-lhe um tipo distinto de fatalismo. Inspirando-se no levantamento do gueto de Varsóvia, apela à «nobreça» do martírio: «A morte era certa e ainda assim continuárom a luitar. Nunca mais pode ser tarde de mais para este gesto».
Para Malm, o imperativo moral de atuar contra todo prognóstico nasce dum dever tanto com o passado como com o futuro. Cada nova geraçom olha cara quem a precedérom, insiste, preguntando-se se as suas antepassadas «figérom cola voluntariamente para o forno, ou se algumhas pessoas luitárom como judeus que sabiam que iam a ser assassinadas». Mas enquanto as temperaturas extremas de hoje em dia som só um «aperitivo» do que esta por vir, cada geraçom também olha cara adiante, sabendo que também será julgada polas suas descendentes. A consciência histórica é também umha consciência histórica; é aqui onde a estratégia e a moral se atopam.
Todos os movimentos tenhem mártires, já for no sentido literal de quem se expom ao perigo pola causa ou, mais figuradamente, quem nom vivirám para ver os frutos dos seus esforços. Mas para que as ativistas tenham opçons de sacar-nos da senda cara o perigoso aquecimento, necessitamos ver no transcurso das nossas vidas –nom tras geraçons de luita– um câmbio dramático no sistema energético que impulsa a economia global. Umha transformaçom tam rápida e de tal magnitude requer absolutamente um salto de fé secular: a crença tenaz em que as cousas poderiam e devem ser de outra forma. E isto bem pode requerer um compromisso fortalecido pola sabotagem e os muitos e graves riscos que isso supom.
Por todas estas razons, quando o movimento climático de milhons de pessoas estiver reagrupado e preparado para continuar a sua trajetória de crescimento e militáncia, “Como dinamitar um oleoduto” devera ser leitura obrigatória para os seus quadros. A sua potente prosa, a sua emocionante oda à coragem e a disciplina, e a fidelidade ao legado da violência popular em pos da emancipaçom convertem-no numha crítica convincente da piedade do pacifismo atual. Mas a pesar de estas virtudes, o livro nom oferece respostas aos constantes desafios de criar coletividades, unidas tanto pola legítima raiva e a esperança, como por umha estratégia e visom compartidas, e que sostenham as suas acçons nas tormentosas décadas que venhem. Quem som as enterradoras do capitalismo fóssil, e quais som as suas fontes de impulso? Quais som as suas preocupaçons e ansiedades quotidianas, e como se relacionam coa crise climática? Que as impede unir-se agora, e que facilitaria a sua mobilizaçom no futuro? E como se lhes poderia convencer de que, a pesar das apariências e a sua experiência, é certo que esta na sua mao cambiar o mundo?
Este artigo foi publicado originalmente com o título «A planet in flames – Should the climate movement embrace sabotage?» na revista The Nation. Traduçom para o galego do Galiza Livre a partir da versom espanhola de El Diluvio.