Na passada terça feira, o governo espanhol confirmou através de real decreto o papel que adjudica à nossa Terra no seu plano energético estatal: produçom massiva e indiscriminada de energia, indiferente aos efeitos sociais e económicos na populaçom do país. Fijo-o através do chamado Plano de ordenaçom do espaço marítimo, que pola primeira vez na história abre as portas a parques eólicos na costa.
Dado o estratégico do plano em andamento, onde se fusionam interesses geoestratégicos dos Estados e grandes projetos expansivos das transnacionais de energia, o Estado espanhol resistiu-se a ceder às autonomias a competência neste sector. Deste modo, será apenas em Espanha onde se desenhem e executem os projectos que, de se consumarem, mudarám a fisionomia da Galiza litoral. Os governos autonómicos apenas poderám gerir projetos menores, aqueles que nom superem os 50 MW de capacidade.
Os gigantes de sempre
Se o plano é novo, o seu transfundo tem umha antiguidade de décadas: riqueza natural galega, e comunitária, gerida e exprimida por gigantes empresariais privados que, além disso, nem tenhem sede fiscal na Galiza. Assim o recordava numha reportagem o jornal Nós Diario, que vincava em que se estám a tramitar 4.695 MW de eólica marinha nas nossas costas: produzirám-se em nove parques diferentes, e representarám a novena parte da produçom total do Estado.
Por trás dos planos, velhos conhecidos da populaçom galega: Iberdrola, que pretende danar o espaço natural entre a Marinha e Ortegal; o grupo Cobra, propriedade da multinacional francesa Vinci, e participada polo magnate Florentino Pérez; também as espanholas Bluefloat e Sener pretendem erguer um parque em Ortegal. A ocupaçom da costa querem culminá-la companhias como Abei Energy, Capital Energy e Ferrovial. No total, as águas galegas acolherám mais do 42% dos MW agora em tramitaçom. Algum deles ocupará a extensom equivalente a vinte campos de futebol, e um outro tracejará umha linha ininterrupta de moinhos desde a cidade de Ferrol e direcçom norte.
De se materializarem os planos, as nossas costas, um espaço natural único e fonte de sustento para milhares de famílias dependentes do sector marinheiro, iam ser ocupadas por 393 aerogeradores, que por si só iam produzir mais do que os instalados na eólica terrestre.
Oposiçom massiva
Se os parques que ocupam os montes galegos estám a acordar a oposiçom da vizinhança, comunidades de montes, ecologismo, e movimentos como o nacionalismo ou o independentismo, a eólica marinha está a acordar um rechaço social ainda maior. De facto, e com sentido do oportunismo, o presidente autonómico Alfonso Rueda quijo tirar certo partido deste clamor manifestando que “o Ministério para a Transiçom Ecológica nom contou com a Junta para o seu desenho”. Deste modo, o PP, grande valedor do bloco empresarial que historicamente abriu às portas aos conglomerados energéticos, quer fazer umha chiscadela de olhos a outro sector mais pequeno, mas que vai padecer duramente as consequências deste novo extractivismo: a pesca.
Rechaço da Galiza a Euskal Herria
Desta volta, a resistência aos planos energéticos nom se vai topar apenas com movimentos sociais e forças políticas transformadoras. O conjunto das confrarias galegas, e de todo o Cantábrico, desde as Rias Baixas a Iparralde, venhem de alçar a sua voz: representam a um total de 4.584 barcos pesqueiros, a faenarem em 200 caladoiros; no caso da Galiza, em localidades como Ribeira, no Barbança, da pesca depende o 32% do PIB, o que dá ideia da magnitude da ameaça que suponhem os parques. Alguns deles iam situar-se a apenas doze quilómetros da linha de costa; na imprensa espanhola de grande tiragem, Torcuato Teixeira, assessor jurídico da chamada ‘Federaçom Nacional de Confrarias de Pesca”, afirmou: “vemos um afá e quase umha pulsom por inçar a costa galega de polígonos industriais de eólicas marinhas, independentemente da sua repercussom no ecossistema e nos recursos pesqueiros.”
Argumentos governamentais
Nenhum dos sectores envolvidos na controvérsia ficou convencido com as palavras de Teresa Ribera, responsável polo Ministério: em declaraçons públicas, a política recorreu à frase comodim que declara que “se garante a protecçom dos ecossistemas, hábitats e espécies sensíveis e vulneráveis, incluídos os protegidos por normativa autonómica, nacional ou supra-nacional.” Segundo este fio argumental, as zonas escolhidas para industrializar o mar “nom comprometem a produçom de alimentos”, mas ninguém, no mundo do sector pesqueiro, acredita nesta possível conciliaçom de interesses. Por isso Torcuato Teixeira manifestou que o sector estará atento a cada um dos projectos, com a esperança de os modificar através de alegaçons. Seja como for, diz o jurista, “a pesca continua sem ter um reconhecimento como sector prioritário e de interesse geral.” De acordo com fontes das confrarias, desconhece-se ainda hoje os efeitos que tenhem os parques nos processos migratórios de certas espécies de peixes.
Colonialismo
Mas se há um conceito que a controvérsia energética esteja a trazer de novo à tona da actualidade política é o de colonialismo: teorizado polo nacionalismo há quarenta anos, e provisoriamente arrombado nos sectores maioritários, o termo volta com força para definir este processo de extracçom massiva de energia, sem benefícios no País de origem.
Foi o deputado do BNG Néstor Rego quem fijo soar o termo em Espanha, quando na sala de imprensa do Congresso de Madrid declarou “se Madrid quer energia, que coloque os moinhos na Castellana”, para complementar a frase dizendo que a Galiza “está farta de ser umha colónia”. A crítica reforça a oposiçom nacionalista à proliferaçom indiscriminada de eólicos nos nossos montes.
Para Rego, “o plano de eólica marinha desenhado polo governo é umha barbaridade”, e explicou o seu desenvolvimento polo feito de “os buques pesqueiros nom cotiçarem em bolsa, as grandes empresas energéticas si.”