Estamos em pleno inverno e o que toca, suponho, é mirar cara adentro. Se estivermos num módulo dum cárcere qualquer, e nos juntaram com abundante número de condenados por violência machista, tocaria mirar para afora: lançar consignas pedagógicas desde as janelas para o pátio; desenhos ridiculizando a hombría desses companheiros de presídio, e demais. Ainda assim, tocaria primeiro mirar profundamente cara adentro.
Umha das tarefas que nos corresponde aos homens neste século é formar-nos e calar a boca, ao menos sobre certos temas. Mirar cara adentro, cara a nossa educaçom, cara o género, cara as nossas atitudes relacionais, cara o passado. Mirar cara abaixo e cara arriba, e também cara o futuro. Lógico. Tam lógico como conservar um mínimo de rutina saudável: comer à nossa hora, ou fazer exercício.
O inverno véu com cambio climático incorporado e logo dum outono que os meios auguravam quente no sócio-político, com grande convulsom e demanda de cámbios na raiz e nas polas do capitalismo e finalmente, realmente, nom o foi. Responsabilidade das que habitamos nele, por suposto. Muita pantalha e muito computador, muitas horas preparando posts, entradas na web e poucos cuidados com as nossas velhas e com o nosso entorno. Muita pantalha e pouca organizaçom, ou nom tanta como devêramos. Que vivemos num país avelhentado, e que no futuro o será mais que nunca, e que os cuidados é outra das prioridades a abordar coletivamente, está claro. Que todo está por melhorar e que nom se deve cair no fetiche do organizativo está claro, que desde a cotidianidade e a combinaçom debate/acçom é o que fai avançar, também. Som os pubs, com a sua música a todo volume, ou a rede, com a sua deshumanizaçom e controlo estatal, o lugar para relacionar-se? Muita batalha, na fiesta e na rede, e pouca na rua.
Claramente, o tempo de escoitar, autocrítica minha a primeira, é o que habitamos. Num contexto no que o suicídio se eleva como quase primeira causa de morte entre adolescentes e outras, como já é mais que sabido. Porque mensagens unidirecionais, como esta, aparte da literatura pola literatura, sobram. Tempo de fussom com a coletividade desde o diálogo entre as de abaixo.
Dizia Paulo Freire: “O diálogo implica umha mentalidade que nom floresce em áreas fechadas, autárquicas. Estas, ao contrário, constituem um clima ideal para o anti-diálogo. Para a verticalidade das imposiçons”.