A urgência dumha ‘transiçom energética’ para a energia verde está a ser o grande argumento justificador para a invasom eólica dos montes galegos. Mas é certa essa transiçom? Obedece realmente a proliferaçom eólica a um plano que visa abandonar os combustíveis fósseis e abrir outro horizonte ambiental? Traduzimos interessante texto que pom em causa um dos mitos mais consolidados do capitalismo verde.

Em boca das COP

Em novembro de 2022, enquanto o planeta arde e se impom umha urgência absoluta, a COP27 conclui de novo com a negativa dos Estados a arremeter contra as energias fóseis. A seguinte COP vai ter lugar em Dubai, o que supom que o é pouco provável que faga algumha cousa mais que nas reunions precedentes. No conjunto do texto final adoptado em Sharm el Sheij, a palavra transiçom aparece nada menos que onze vezes.

Foi em 2021 em Glasgow quando se citárom pola vez primera (timidamente) as energias fósseis no acordo oficial. Um ano depois, a COP27 contenta-se com repetir as mesmas fórmulas baleiras. (…)

Na parte III, consagrada à energia, o texto da conferência diz “as transiçons limpas e justas às energias renováveis estám rumadas a reforçar umha panóplia energética limpa, incluídas as energias renováveis e a baixa taxa de emissom, (…) no quadro da diversificaçom das fontes e dos sistemas energéticos.”

Entende-se que a diversificaçom nom supom nem supressom nem substituiçom dos combustíveis fósseis, que nem sequer se mentam.

Desenvolver as energias renováveis? Si, se isso rende, mas sobretodo complementando-as com

as fósseis, que nom é cousa de abandonar. Apreciará-se mesmo a noçom de “panóplia energética limpa”, que inclui tecnologias perigosas, como a captura-sequestro de carbono, que tanto defende a indústria fossilista, que noga com a possibilidade de capturar o CO2 à saída da cheminé da fábrica. A indústria estivo presente com 636 lobistas, ainda mais numerosos nesta COP que na anterior, e tambçem que as delegaçons nacionais dos dez países mais atingidos polas alteraçons climáticas, segundo a ONG Global Witness.

E na realidade?

Os últimos anos ensinárom-nos muitas cousas. Em 2020, a pandemia reduziu drasticamente a actividade económica e a procura de energia, e o confinamento provocou umha queda importante do consumo de combustíveis fósseis, nomeadamente no transporte. Isto ficou reflectido na diminuiçom das emissons de efeito estufa, cifrada num 7% em promédio (12% nos USA e 11% na Uniom Europeia).Umha descida ainda mais notável, quanto que estas emissons estiveram medrando seguido desde 20005 a 2018.

Em 2021, o relançamento da actividade económica mundial comportou um aumento do 4% da procura mundial de energia. A pesar do medre importante das energias renováveis, a maior parte do aumento da procura cobriu-se com combustíveis fósseis. Assi, para a produçom de electricidade, o uso das renováveis medroum um 5%, o de carvom um 9%. Este aumento explosivo traduziu-se mecanicamente numha suba récord das emissons do 6%.

O medre da procura, combinado com umha crise da oferta e dos efeitos da invasom da Ucraína pola Rússia de Putin tem provocado umha crise energética mundial que se traduz numha alça de preços sem precedentes e…dos lucros igualmente importantes das empresas fósseis. A partir de setembro de 2021, os preços acadárom níveis superiores mesmo aos de 1973, em plena crise petroleira; o do gás multiplicou-se por dez na Europa e em Ásia, e por três nos USA. Estes incrementos nom comportárom umha queda da sua utilizaçom, senom todo o contrário.

Ante a alça de preços das energias fósseis, longe de tratar de prescindir delas, muitos governos optárom por políticas que nom fixérom mais do que reforçar a sua importáncia. Assistimos, segundo o caso, ao aumento da produçom interna (carvom na China), a um rebote da exploraçom de jazigos que com o aumento de preços volvem a ser rendíveis (fracturaçom hidráulica para obter gás nos USA…) e a diversificaçom das importaçons a favor de produtos como o gás natural liquado (GNL). Este último é um potente emissor de gases de efeito estufa, pois é preciso liquá-lo por compresom, para carregá-lo em metaneiros e logo regasificá-lo para poder utilizá-lo, dous processos que consomem energia fóssil.

A listagem de projectos climaticidas relançados ao abeiro da crise é longa demais para detalharmo-la aqui. Sobretodo, como mostra umha análise que saiu a lume o 29 de agosto de 2022 pola OCDE e a Agência Internacional da Energia (AIE), o apoio público global emprestado aos combustíveis fósseis em 51 países quase duplicou, passando de 362400 milhons de dólares em 2020 a 697200 milhons em 2021. E isso que apenas se trata de apoio directo.

A transiçom energética nom está em andamento

Eis o que afirma e demonstra o informe de 2022 sobre a situaçom mundial das energias renováveis do REN21. Com efeito, antes da pandemia, em dez anos a capacidade de produçom de energias renováveis aumentou efectivamente, mas o consumo global de energia e a utilizaçom de combustíveis fósseis medrárom mais rapidamente. Deste jeito, a parte dos combustíveis fósseis mantivo-se praticamente estável desde 2009 (do 80,7% em 2009 passou a ser do 79,6% em 2019). As energias renováveis cobrírom um pouco mais do 11,7% da procura final de energia em 2019, frente ao 8,7% dez anos antes. E porém, os custos de produçom das renováveis descêrom espectacularmente. Assim, o custo da solar fotovoltaica caiu um 89% entre 2010 e 2021.

Financiamento e subvençons descomunais para as fósseis

De 2016 a 2021, os 60 bancos mais grandes do mundo concedêrom 723000 e 830000 milhons de dólares cada ano aos criminais climáticos, para acadarem o importe acumulado de 4,6 bilhons de dólares. Em 2021, o financiamento que destinárom ao sector particularmente destrutor das areias bituminosas medrou um 51%. Entre as empresas beneficiárias figuram TotalEnergies, Exxon Mobil, BP, Petrobras ou Saudi Aramco, e entre os bancos de investimento, J.P. Morgan ocupa o primeiro posto e BNP Paribas o dézimo, mas este é o primeiro entre os investidores de plataformas marítimas de extracçom de petróleo e gás.

E os Estados nom ficam por trás.  “Os combustíveis fósseis recebem 11 milhons de dólares em subvençons por minuto”, anuncia o FMI. Segundo este organismo, “a escala mundial, em 2020 as subvençons aos combustíveis fóssies ascendêrom a 5,9 bilhons de dólares, que representam o 6,8% do PIB, e deveram acadar o 7,4% do PIB em 2025.” É dizer, todos os anos destina-se mais dinheiro ao sector fóssil que o total de meios investidos em sanidade no mundo inteiro. (…)

De onde procede a expressom transiçom energética?

Esta expressom de geometria variável pretende, ora descrever o passado, ora preparar o futuro. Para Jean-Baptiste Fressoz, quem estudou a sua genealogia nos USA desde a segunda guerra mundial, serve para projectar um passado energético imaginário a fim de anunciar um futuro que poderia sê-lo também.

Ele constata que, contrariamente ao que se repite reiteradamente, a história energética nom está formada por transiçons energéticas, mas por adiçons, Falar de fases que suporiam umha sucessom que vai de antes da revoluçom industrial com a madeira, seguida do século XIX com o carvom e depois ao século XX com o petróleo, contradize-se com a realidade histórica.

Assim, a revoluçom industrial viu como medrou vertiginosamente o consuno de madeira em pleno século XIX nos países industrializados. A inícios do século XX, Grande Bretanha consumiu mais madeira apenas para extrazer carvom das suas minas (tablons, puntais, postes) que o que queimava no século anterior. O petróleo nom substitui a hulha, mas incremente a sua extracçom para produzir os seus buques petroleiros, oleodutos e refinarias. O automóbel precisa infraestruturas e siderúrgias que consomem grandes cantidades…

A ideia de transiçom nom se baseia portanto numha “observaçom do passado” que viu aumentar o consumo de carvom, petróleo e hidroelectricidade conjuntamente e somando-se, senom que provém, da “antecipaçom do futuro”; “nom procede da historiografia, senom do entorno da prospectiva energética”. A sua emergência é relativamente recente e associa-se intimamente à energia nuclear.

Em 1953, um informe encarregaado pola Comissom da Energia Atómica (AEC polas suas siglas em inglês, intitulado “Energy in the future”, parte de três previsons: a procura crescente de energia, o esgotamento do petróleo e do carvom no horizonte dum século e…o quecimento global, para concluir que as reservas fósseis terám sido esgotadas em 2050, e que é inexorável umha “transiçom à energia nuclear”. (…) Nom se trata de esta ser competitiva face as fósseis, senom de substituí-la quando dea sinais de se esgotar. A questom nuclear nom é entom económica, mas existencial Aginha se multiplicárom as alertas sobre o pico do petróleo, a crise energética (mesmo bem antes da crise do petróleo de 1973)…sempre associadas à promoçom dos supergeneradores. Nesse contexto nasceu, em 1967, a expressom transiçom energética, que colheita um sucesso imenso até os nossos dias, atingindo proposiçons diversas e variadas, isto é, contraditórias. (…)

Mudar de energia…e mudar de sociedade

O produtivismo capitalista, baseado no extractivismo fóssil, levou a humanidade a um beco sem saída dramático, quer ecológico, quer social. Entre as múltiplas alteraçons ecológicas, a mudança climática é a mais global e perigosa. Ameaça com fazer da Terra um lugar inabitável para milhares de milhons de pessoas, as mais pobres e as menos responsáveis polo desastre. Para determos a catástrofe que se alvisca é imperativo reduzirmos à metade as emissons mundiais de CO2 e de metano antes de 2030, e anulá-las antes de 2050.

O fim das fósseis nom é negociável. É imperativo passarmos dum sistema energético baseado num 80% no fossilismo a um novo sistema baseado nas renováveis. Trata-se, é claro, dum sistema novo, e nom de substituir as primeiras polas segundas num sistema que se mantiver idêntico. O sistema actual construiu-se para as fósseis. Recuperar a mesma produçom centralizada, o mesmo modo de distribuiçom…seria ineficidente, ecologicamente destrutivo e socialmente desastroso. (…)

Abandonar as fósseis implica que por volta do 80% das reservas conhecidas de carvom, petróleo e gás terám que ficar no subsolo, ao mesmo tempo que grande parte das instalaçons associadas ao sistema energético fóssil deverám desmontar-se. (…) Ora bem, reservas e infraestruturas (umha quinta parte do PIB mundial) representam todo um capital para as companhias e os Estados capitalistas que as possuem. A enorme destruçom inevitável de capital nom tem muito a ver com umha transiçom suave: supom enfrentar-se aos sectores mais poderosos e estruturadores do sistema capitalista!

Se o vento e o sol som inesgotáveis, os materiais precisos para os poder aproveitar nom o som. Portanto, é imprescindível reduzir o consumo final de energia, quer dizer, a produçom material e os transportes. Este decrescimento é um imperativo físico objectivo: neste contexto, há certas produçons que devem medrar para responder às gigantescas necessidades nom satisfeitas da parte mais pobre da humanidade.

Respostar a estes dous imperativos supom umha ruptura radical com o sistema capitalista e a sua lógica produtivista: trata-se de deixar de produzir mercadorias para se lucrar e em troca produzir valores de uso para satisfazer as necessidades (…) Trata-se dumha verdadeira mudança de civilizaçom, dumha revoluçom ecosocialista.

*Fragmento do texto de https://lanticapitaliste.org/actualite/ecologie/limpossible-transition-energetique. Traduçom do Galiza Livre a partir da versom espanhola de Viento Sur.