Alfredo Cospito é um militante anarquista de longa trajectória preso desde 2012, acusado de acçons directas contra responsáveis da indústria nuclear e de corpos policiais. Condenado a cadeia perpétua sem possibilidade de revisom, padece ainda a versom mais restritiva do sistema penitenciário italiano, um isolamento chamado 41 bis. Decidido a umha greve de fome para sair deste regime, os seus três meses sem comer estám a acender um sério debate na Itália sobre os direitos humanos na prisom.
Com mais de cem dias de greve de fome e umha perda de peso de 50 kilos, Cospito foi recentemente transferido desde um centro penitenciário sardo, onde cumpria condena, à cadeia de Opera, em Milám, pois o governo italiano teme um fatal desenlace. Cospito, de 55 anos, formado como militante no chamado ‘anarquismo insurreccional ou informal’ (sem organizaçons nem estruturas permanentes) manifestou que «a única arma que tem é o seu corpo», e está determinado a manter o seu protesto até as derradeiras consequências. A sua perda de peso e o deterioramento do estado de saúde, segundo meios italianos, levou-no a correr sério perigo de morte mesmo polas baixas temperaturas da prisom (dado que os módulos de isolamento adoitam ser especialmente sombrios e escuros), polo que tem que viver enfundado em várias capas de camisolas, jerseis e calças.
As origens da puniçom
O regime 41 bis foi desenhado polo Estado italiano na década de 80, no contexto de confronto com a Máfia, e ainda com a pervivência de algumhas organizaçons armadas revolucionárias dos anos 70. O objectivo declarado era cortar toda relaçom do preso ou a presa com o exterior, impedindo qualquer dinámica organizativa, e de passagem tentando minar a sua moral e desgastar psicologicamente até o limite. No caso de Cospito, e em consonáncia com a sua linha política, ele desmente qualquer relaçom com organizaçom e estruturas do exterior, aliás de manifestar que «as reflexons políticas que fai som públicas e exprimem-se na imprensa anarquista». Se bem a greve de fome pretende um alívio nas já de por si duras condiçons de vida do preso, Cospito recorda que a leva adiante também polos mais de 700 presos e presas que aturam este regime.
Repercusons políticas
O que semelhava um problema minoritário, e restrito apenas ao mundo das prisons e aos círculos da política radical, está a acadar notoriedade na Itália, até o ponto de suscitar controvérsias no mundo judicial. O debate amplificou-se nos passados dias, quando vozes da magistratura, como a do ex fiscal Gherardo Colombo, assinou a petiçom da retirada do 41 bis a Cospito, por considerá-lo «anticonstitucional». Na passada terça feira, o caso chegou ao ámbito parlamentar, e um membro dos direitistas Irmaos da Itália perguntou à bancada da esquerda se «estava de parte do Estado ou da máfia e dos terroristas». Era a resposta ao interesse da esquerda moderada pola situaçom do preso anarquista.
Seja como for, o governo já se pronunciou rotundamente «contra qualquer concessom». O ministro de justiça, Carlo Nordio, ratificou-se no lugar comum de que «nom se negocia com a violência», e o responsável polos assuntos exteriores, Antonio Tajani, condenou nestes dias «a violência contra o Estado e as autoridades.»
Movimento solidário
As mobilizaçons solidárias com Cospito começárom já no passado outono, com acçons como a ocupaçom da sede de Amnistia Internacional em Roma, ou, mais recentemente, com concentraçons diante de consulados italianos, como o de Bruxelas, ou nas ruas de várias cidades italianas, nomeadamente Turim. Os gestos solidários chegárom até a Alemanha, onde recentemente era atacado com artefactos incendiários um camiom da empresa Strabag.
No mundo penitenciário, presos e presas da Grécia, Itália, França ou Inglaterra acompanham a Cospito nas suas reivindicaçons, realizando jejuns parciais ou totais para somar-se ao seu berro polo fim do isolamento.