Filomeno e Fulanito falavam essa noite tras umha manifestaçom juvenil na que a polícia tinha atuado com brutalidade contra as ativistas. Pensavam que, se bem nom havia nada preparado de antemao, era necessário chamar a atençom sobre o acontecido, e impulsionar a luita na rua frente a passividade que sentiam se lhes impunha. Atuar desde o quotidiano parecia o mais inteligente.

Aquele carro da TVG foi um carro volcado por um número indeterminado de pessoas. A consigna impotente frente a manipulaçom mediática materializava-se num ato que pretendia ser, paradoxicamente, mediático. Mas nom somente procurava isso, porque na mente dalgumha daquela gente pululava a ideia de fomentar a desobediência e a resistência generalizada mediante todo tipo de açons contra o poder.

Quando centos de pessoas permanecem na rua, por questons de lazer ou de mobilizaçom, o controlo do permitido pom-se em questom. Se o lazer é controlado polas drogas de diverso tipo e negócios vários, as mobilizaçons som controladas por partidos e umha presença policial maior, seja uniformada ou nom. Com todas as contradiçons e paradoxos que houver, também provavelmente entre aquelas pessoas que causavam distúrbios mediante açons coletivas quase incontroláveis participasse algum elemento infiltrado como seguramente participassem, participem e participarám em atos de todo tipo de qualquer grupo e qualquer ato opositor ao regime (parlamentário incluído).

Nessa ocasom foram Filomeno e Fulanito quem tomaram a iniciativa de atacar a propriedade da televisom. Ajudaram-se doutras pessoas que, espontaneamente se uniram, e que nom militavam em movimento social algum, mas que simpatizavam com a causa independentista fortemente. Tratava-se dumha noite festiva e a praça estava ateigada por jovens que bebiam e dançavam.

As mochilas com material de diverso tipo rulavam como rulava a literatura revolucionária. Ninguém falava fai quinze anos de conceitos que hoje se usam entre a esquerda, mas as pessoas mais reflexivas uniam teoria e açom tratrando de analisar a realidade na que viviam à vez que amavam, trabalhavam, estudavam ou cuidavam em maior ou menor medida. Debater era, como hoje, umha constante, e também o era conviver com diversas contradiçons e distintas conceiçons afeçons do que é viver oprimida, sabendo que o Reino de Espanha implicará sempre umha ruina da que será necessário arredar-se coletivamente.