Salvando as distancias abissais, reconheço que um dos meus gozos é caminhar soedosa polas ruas da quadrícula como fazia Martinho Dumbria -transunto de Pedrayo e um dos pseudónimos do nosso Carvalho Calero- polas ruas compostelás. Porque ler na vida ou nos livros também precisa da soedade e do silêncio, de nos identificar coa pedra e coa natureza. Porque há umha cultura de cacarejo de curral, erudita ou nom, e de fato entretimento e há umha cultura reflexiva pegada ao calado cerne e á lameira. Os amigos dos livros sabemos que som instrumentos de ler a realidade ainda que para os leitores arelantes mudem em fetiche, esse objecto de desejo ainda mais raro hoje do que nos tempos daquela mocidade do Seminário de Estudos Galegos que queria repor os destroços dumhas geraçons aparvadas.

Disque a destruçom das bibliotecas ao longo da historia se deveu muito a que a cidadania vivia de costas a elas apenas visitadas por umha elite de sábios. Eis a biblioteca de Alexandria. Manolo Rivas fala em Os livros ardem mal, da queima de livros perigosos para o régime. Ao ler nessa assolagante narracçom ules o bosque do conhecimento a arder e sentes a mesma dor funda que quando arde umha fraga. Oxalá jamais vivamos tempos de livros proibidos nem de Montag, aquele bombeiro de Fahrenheit 451 que tinha por trabalho queimar livros, a distopia de Bradbury na que ler era o maior ato subversivo e a cidadania conscienciada se dera a escolmar um livro e aprendê-lo, palavra a palavra, para guardar o conhecimento e o gozo da humanidade. Se quadra arestora nem se precise queimar os livros para evitar a leitura dadas as travas com que ensarilha esta sociedade aos leitores.

Este novo ano, Ferrol-Montag mata a utopia do lazer no conhecimento como arma de futuro. A única biblioteca municipal fecha as portas polas tardes porque um governo cego e xordo ás demandas dos bibliotecários e da cidadania prefere sacrificar árvores em botar barquinhos de papel ao mar para reclamar o Património mundial que cultivar as árvores do conhecimento.

Como no relato de Borges O livro de areia, o possuidor do livro, nom sabia ler e sentia que o livro era um objeto de pesadelo, umha cousa obscena que infamava e corrompia a realidade. A realidade da cultura-espectáculo, da cultura opiácea que caminha pola via da fugida ou do mero devaneio intranscendente.

Dizia umha bibliotecária que recortar em bibliotecas durante a recesom é como recortar hospitais durante umha epidemia. E John Steinbeck, nobel de literatura, dizia que polo grossor da poeira nos livros dumha biblioteca pública se podia medir a cultura dum povo. E indo mais longe, a autora de As ondas, essa abraiante obra, dizia que saqueava as bibliotecas públicas e atopava-as cheias de tesouros afundidos. Esses tesouros som as ideias que, a dizer de Sara J. Maas, é talvez a máis perigosa e poderosa de todas as armas. Por isso sempre se inviste mais em Defensa que em Cultura.

Triste é que se feche umha livraria pero muito máis perturbador é que se feche umha biblioteca pública porque, como dixo Caitlin Moran, a escritora e jornalista, é o único espaço público protegido onde nom és um consumidor senom um cidadao.