El cuerpo social asesino y violador proyecta las características que lo definen a unos sub-otros, para así poder justificar como respuesta el mismo comportamiento contra ellos. Las mismas ideas que inspiran actos inhumanos en la guerra, particularmente, la esclavitud, el asesinato y la violación, son legitimadas en la modernidad, a través de la idea de raza, y dichos actos son gradualmente vistos como normales, en gran medida gracias a la alegada obviedad y al carácter no problemático de la esclavitud negra y el racismo anti-negro. Negros, indígenas, y otros sujetos de color, son los que sufren de forma preferencial los actos viciosos del sistema. En resumen, este sistema de representaciones simbólicas, las condiciones materiales que en parte lo producen y continúan legitimándolo, y las dinámicas existenciales que forman parte de él -que son a su vez constitutivas y derivativas de tal contexto-, son parte de un proceso que naturaliza la no-ética de la guerra. La diferencia sub-ontológica es el resultado de esa naturalización. La misma es legitimada y formalizada por la idea de raza.

SOBRE LA COLONIALIDAD DEL SER. Nelson Maldonado

Um canadiano hippie assenta-se num bairro negro ianque. A vizinhança, embrutecida até o extremo, fai-lhe a vida impossível. Acossam-no, perseguem-no, ameaça-no para que venda a sua casa e poda umha construtora erguer um novo centro comercial. As mulheres negras aparecem negadas pola preponderância machista dos homens como nunca. A esposa branca do hippie, pola contra, converte-se numha missioneira feminista entre tanto selvagismo escuro. Os negros som violentos, irracionais e falsos como o demo. A venda de crack dos oitenta enorgulhece-os e o individualismo racha qualquer comunidade que noutrora pudessem partilhar, a sua única lei é a da selva. Apenas um mulato de classe média, que fala um inglês fetém, amostra cordialidade e cooperaçom co canadiano. Ao cabo, depois de várias situaçons terroríficas, acabam esganando o branco entre vários sub-humanos a tal que lobos famentos. Já ora que a justiça branca ianque pom todo no seu lugar e as bestas negras som encarceradas para que nom obrem mais barbaridades. É a única linguagem que entendem estes túzaros africanos. Abofé que as famílias negras dos assassinos som expulsas do bairro e a hippie branca fica para perpetuar a utopia progre iniciada polo seu homem. As atrizes e atores negros fam-no genial, falam um inglês preto perfeito e dam muito medo. Seguro que lhes haviam outorgar o Óscar como segundons. Porém, 48 horas após a estreia, sucedem-se os distúrbios de costa a costa de Estados Unidos pola racistada de semelhante filme. Normal, os negros nom possuem sensibilidade para a arte, nom entenderiam rem. Umha estória que poderia passar em qualquer lado.

Um vaqueiro avança polo deserto. Dous apaches vam-no esculcando polas beiras do caminho sem que se decate. Assobiam e o cam do branco corre para onda eles. Já se sabe, os selvagens entendem-se cos animais porque som iguais, infra-humanos. O cowboy de olhos azuis tentou por todos os meios que o governo ianque nom lhes roubasse as terras aos peles vermelhas. Queria a convivência pacífica entre colonos e indígenas, levar-lhes o progresso. Mas nom se pode, som bestas bravas como estamos a piques de comprovar. Alheios às suas boas intençons, os índios aproveitam que busca a sua mascota para o capturar e torturar entre ouveios e brados de gozo. Nom queda outra, um grupo de voluntários brancos arrasa o assentamento ameríndio e extermina até o último apache em justiça merecida após o terrível assassinato do vaqueiro bom. Os indígenas do filme falam um atapasca perfeito, quase impossível após séculos de colonizaçom, mereceriam o Óscar como segundons. Contodo, 48 horas após a estreia, sucedem-se as ocupaçons de cinemas e a solidariedade anti-racista por todo o planeta. Está claro que os selvagens nom possuem sensibilidade para a verdadeira arte, branca. Mas o que narra a obra maestra poderia passar em qualquer lado. De feito, está baseado numha estória real, o massacre do Campo Grant.

Um podemita madrilenho monta umha casa de ajuda contra a droga e as doenças sexuais ao carom dum povoado cigano. A sua entrega altruísta leva-o a confrontar-se cos patriarcas polos direitos da mulheres e os homosexuais na comunidade. A venda de droga é o único que lhes importa aos chefes dos clans e a sua presença ali cria enfrentamentos e racha o seu poder omnipresente. Ameaçam-no, perseguem-no em situaçons arrepiantes. Som selvagens, individualistas, animais. A única lei para eles é a do mais forte. A sua mulher, branca como o leite de Central Lechera Asturiana, tenta estender o feminismo entre as coitadas das ciganas, mas nom dá, som duras de mente. Ao cabo passa o que tinha que passar, falsos como som, furam-no entre vários a navalhadas num recanto, quando volvia de repartir condons. A polícia nacional detém os sanguinários e a justiça imaculada espanhola manda derrubar o povoado cigano, como cumpre. A mulher da vítima, alba como as neves de Sierra Morena, fica a continuar a obra desinteressada do mártir assassinado polos inferiores. O caló dos atores ciganos segundons bem mereceira um Goya. Assim e todo, todas as esquerdas do Estado espanhol protestam contra semelhante racistada fílmica e arruinam a recompensa para tam grande criaçom de autor. Disque justifica o fascismo espanhol, nom entendem rem. É algo que poderia acontecer em qualquer lado.

Resulta interessante fitar o crime de Santoalha através do contraste do documentário do mesmo nome com As bestas. Ambos os dous adotam a olhada da vítima, o estrangeiro assassinado. Porém, a autenticidade dos testemunhos do primeiro esboroa a interpretaçom do segundo. O filho maior na realidade aparenta um homem discreto e tranquilo. Mesmo lhe ajuda ao começo à nova vizinhança co trator e assessorando-os sobre como cultivar e criar gado. Duvida das ideias peregrinas dos holandeses sobre construir umha nova arca de Noé sem mais jeito, é certo. Mas bota-lhes umha mao mesmo que o ache umha tolémia de hippies. Nem sequer vive na aldeia, vai a ela a cada pouco para atender o gado e leva a sua criança para ver a terra dos devanceiros, é um homem de família. Enorgulhece-se do seu lugar, quer perpetuá-lo, nom fugir dele. O personagem de Zahera que o representa manifesta-se como um psicópata perigoso, amargado e que se desvive por fugir da aldeia. Por suposto, nom tem descendência nem mulher. No passado andou na droga, como seica toda a paróquia. Sim, no interior galego, manda nabo! Na realidade, o filho menor é um discapacitado mental que adora a sua nai. Ele realiza as tarefas do agro e cuida e é cuidado polos velhos. Sim, som dous os idosos. O holandês acossa-o coa sua cámara decote para demonstrar a sua maldade. Mesmo o grava sulfatando-lhe os tomates para que nom lhe peguem o míldio aos da sua família coa intençom de o acusar de envenená-los. Nas Bestas, o envenenamento dos tomates perpetra-se mediante duas batarias no depósito da água que inserírom os dous filhos selvagens, descontrolados, inteligentes e maliciosos. No documentário, Martin, o holandês, aparece como umha pessoa impossitiva e mesmo agressiva. Coloca um letreiro identificando Santoalha, para ele Santa Eulalia, co reino de Marrocos, coa intençom de associar-nos ao mundo árabe a tal que baldom e desprestígio. Emprega pedras das casas da aldeia que nom lhe pertencem para erguer valados seus. Deixa porcos e cabuxas ceivas que estragam os cultivos da família aborigem, som livres. Grava o anciám de oitenta anos (inexistente nas Bestas) diretamente na porta da sua casa com umha cámara e fai-se a vítima quando o coitado se defende co bastom. Expressa-se como macho alfa a peito aberto e sentando cátedra contra os nativos. Denuncia nos julgados a família que leva vivendo décadas da madeira do monte comunal para tirar ele proveito, daquele lugar em que um dia despertou peneque e quijo fazer seu após um periplo turístico de dous anos. A sua masculinidade afoga no documentário a companheira até pontos escandalosos. Porém, no filme, é representado como um minhajóia cândido e pacífico que nos trai a consciência combativa contra as eólicas frente a um povo galego entregado ao capital para fugir do rural. Sim, a nós, que temos o país ateigado de plataformas contra esse crime do capitalismo espanhol na nossa terra. No verdadeiro caso de Petim, a parelha de estrangeiros nom tinha filhos, mas nas Bestas contam com umha descendente para lavar o snobismo norte-europeu e formalizá-los aos olhos da classe média progre continental. E velaí que chega o falso feminismo branco e burguês do filme de Sorogoyen face à realidade. A malpocada da filha inventada sofre o assédio dos nativos e a sua progenitora tenta com sucesso a sororidade coa nai dos assassinos selvagens. Contodo, na verdade, a nativa tivo que marchar do lugar e ficou a estrangeira como senhora de toda a aldeia. Ao final do documentário de Santoalla, a holandesa dá penetrado na capela da santa, até daquela território sagrado para a indígena Jovita, ao seu cuidado. Um triunfo total dos ocupantes, deslocaram definitivamente os autóctones.

Martin Verfoden morreu dos disparos do filho discapacitado mental após umha rifa, quando o primeiro chegava no todoterreio a toda velocidade e o segundo voltava da caça. O seu irmao quijo salvar o doente mental agochando o cadáver no bosque e queimando o veículo com ele dentro. A família galega ocultou o crime para salvar da cadeia o rapaz aleixado. Pola contra, Sorogoyen começa a sua logametragem com umha rapa das bestas sem curro que identifica coa sua versom final do assassinato, esganando o estrangeiro entre os dous irmaos, como os aluitadores deitam umha égua. Quer dizer, procura-se umha naturalizaçom do nosso selvagismo. O mesmo povo que lhes fai isso aos cavalos, sem contexto, é quem de matar assim um branco civilizado. Nom tem outro sentido, em Petim nom há rapa. Que o galego bom seja o mais espanholizado na historieta do cineasta madrilenho também indica qual é a óptica. As conversas sobre a guerra contra Napoleom como xenofóbia anti-francesa teriam sentido nas cafetarias de Madrid, assolagadas da narrativa pseudo-historicista do espanholismo atual, mas nom aqui. Que o terrível personagem de Luís Zahera queira ser taxista também se compreende no imaginário do Manzanares, nom na Galiza. Mas o nosso pinheirismo, apoiado pola imprensa do regime, louvou até o arroubo semelhante obra maestra do diretor espanhol. Ao cabo, é umha estória que poderia passar em qualquer lado, está baseada num crime auténtico e o galego que empregam os nativos é perfeito. Sem vergonha, mesmo tentou confundir o nosso soberanismo, crítico co supremacismo do cineasta madrilenho, com um chauvinismo infantil que idealizasse o país e quigesse ocultar as nossas misérias. Sim, o mesmo soberanismo que noutras ocasions qualificam de negativo e pessimista por exibir, desde há quase dous séculos, as desgraças que padecemos. Cousinhas dos negros da casa do amo frente a nós, negros do campo, como identificaria Malcolm X decontado.

Deveço por ver um filme em que se retrate umha classe média compostelá espanholizada, classista, racista, machista, frívola e paduana através do terrível assassinato de Asunta Basterra, ponho por caso. Que se naturalice nele o pailanismo e o alheamento criminal desta pseudo-elite colonial frente a umhas criadas empáticas aldeás galegas, latinas, magrebinas ou senegalesas. Sobre todo para ler o que opinaria a minha compa de promoçom na faculdade Inma López Silva, que escreveu esta maravilha em La Voz de Galicia, periodico subvencionado pola Secretaria Xeral de Política Lingüística, a diferença deste meio ou de Nós Diario. Abofé que nom havia manifestar a mesma sanha de classe co seu próprio grupo social. E é que, ao cabo, sempre as bestas som quem nos domina ou quer dominar, quem naturaliza e legitima a nossa subalternizaçom.