A Marcha Mundial das Mulheres é um movimento feminista e anticapitalista global que tem a sua dinámica própria, viva por várias décadas, também na Galiza. Por razons lingüísticas evidentes, o contacto com o que acontece no Brasil é estreito, e nestas semanas de Natal, a MMM-Galiza fazia-se eco nas suas redes da crescente violência ultradireitista no Brasil, que já se cobra vítimas mortais. Várias delas, mulheres significadas polo seu compromisso feminista e ecologista.
Os ataques com armas em escolas tenhem acontecido em várias ocasions no Brasil nos tempos recentes, mas a controvérsia que arrastam, além de psicológica e educativa, é política. O governo direitista de Janir Bolsonaro fixera umha das suas bandeiras da defesa do uso de armas, assinando mais de 30 actos normativos para facilitar o acesso da populaçom às mesmas; porém, o bloqueio posto polo poder legislativo ou o poder judicial, junto com a derrota de Bolsonaro a maos de Luis Inácio Lula, tem detido o processo, acordando as iras da extrema direita.
Violência recente
Se bem alguns dos ataques pareciam enquadrar-se numha violência nom política e movida por um ódio difuso, os últimos casos que chegam do outro lado do Atlántico apontam em direcçom contrária. No passado novembro, era um Centro Paulo Freire, ligado ao Movimento dos Sem Terra, o que era tiroteado e pintado com símbolos fascistas. A MMM do Brasil apontou no seu comunicado de denúncia que o Centro Paulo Freire é um espaço do movimento popular, «aberto sempre ao feminismo», e sede de importantes inciativas formativas, no académico e no político.
Crime de Flávia Amboss
Para o movimento popular, a preocupaçom está a virar em comoçom quando os ataques suponhem vítimas mortais, e ainda quando estas vítimas mortais som pessoas envolvidas nas luitas. No passado novembro, um tiroteio dum adolescente bolsonarista deixava quatro falecidas numha escola em Aracruz, em Espírito Santo, além de várias crianças feridas.
Umha das pessoas assassinadas era Flávia Amboss, umha mestra de 38 anos envolvida em luitas ambientalistas e muito conhecida no ámbito dos movimentos sociais. Após a comoçom inicial, companheiras da professora, quer na academia, quer nas luitas populares, vindicárom a sua figura.
Flávia figera o seu doutorado em Antropologia e defendera a sua tese na Universidade de Minas Gerais no passado mês de abril. Precisamente foi o campus Pampulha, nesta universidade, a que acolheu umha homenagem em dezembro.
Flávia Amboss especializara-sem em temáticas ambientais e centrara o seu interesse nas populaçons vítimas de infraestruturas agressivas, nomeadamente as barragens. Na lógica do chamado «extrativismo», tam bem conhecido na Galiza, novos projetos de aproveitamento energético deixam de parte os interesses e a possibilidade de se autogerir a riqueza das populaçons locais.
Flávia pesquisara, concretamente, os efeitos que tivera o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, nas comunidades ribeirinhas do Espírito Santo, muito afectadas pola poluiçom do Rio Doce.
Andrea Zhouri, umha das reponsáveis da homenagem à mestra assassinada, enquadrou o ataque à escola numha lógica de crescente recurso à violência por parte dos sectores ultras da sociedade brasileira:
«Foi um espaço para nos abraçarmos e chorarmos essa perda, mas também um ato para dizer para a sociedade brasileira que isso nom é admissível, que há um perigo nos rondando, umha ameaça, e essa ameaça tem que ser nomeada como actos terroristas, praticados por extremistas de direita, que som supremacistas, racistas e misóginos, encorajados por um clima generalizado de ódio».