Sentamos ao fundo do bar junto daquele home magro e de aspeito melancólico. Íamos na procura de entrevistas de gente do Courel para um trabalho do ámbito da filologia e, se bem os bares nom eram o melhor lugar, sim era a forma mais doada pola possibilidade de que a vizinhança nom nos atendera nas suas casas numha tarde já escurecida.

Chegáramos a umha das partes incendiadas o passado ano no Courel. Uns quilómetros mais ao Sul da aldeia de Uxio Novoneyra, as ladeiras tinham borralha como elemento principal, e a desolaçom entrou-nos polos olhos ante aquele paraíso natural destruído.

O bar estava escuro também. Na zona, um dos poucos lugares de socializaçom fora das casas na êpoca do inverno, socializaçom masculina principalmente. Havia que percorrer vários quilómetros em carro ou a pé para chegar a esse bar.

Claudio mirou-nos com curiosidade. Ele contou-nos que tinha sido um colaborador do movimento antifranquista na sua juventude. Simpatizante dos partidos de esquerda confessava-se decepcionado com a deriva emprendida pola maioria desses partidos ao alcançar cotas de poder.

Na sua juventude tinha emigrado a Barcelona, aforrado para mercar um táxi e, até a sua jubilizaçom, dizia ter trasladado em carro a milheiros de pessoas, entre elas ao próprio Felipe González na sua pequena etapa de clandestinidade.

Aparentemente, nom aprendemos muito essa tarde, que nom soubéramos de antemao. Conseguimos recolher as informaçons gramaticais da zona com bastante dificuldade, e com muita boa acolhida, mas nom conseguimos compreender de todo o que nos queriam dizer algumhas das pessoas coas que falávamos, como esse home que nos contou meia vida em três quartos de hora.

A diferença entre Claudio e os que tinha arredor era que ele nom podia beber nem fumar, nem tomar café (o médico nom lhe deixava). Também que ele, coxo agora, necessitava umha continuidade na sua anterior rutina de diálogo diário com pessoas diversas e umha sensaçom de certo movimento contínuo que é a que temos nas cidades. Porque a sua residência agora era esse rural atualmente castrado e sem gente, de sombras, borralha e certa obriga monacal, com todo o bom que poida ter, e no que, em momentos de tragédia e situaçons de supervivência fazia unir e atuar às suas gentes. Naqueles momentos no que a TV estava a transmitir desde a casa consistorial os incêndios, e nom enfocando as câmaras às lapas, ele fora o primeiro tomar a iniciativa e protestar.

Foi depois, na volta para a nossa residência habitual, longe daquele home, que cavilamos naquela frase de Rudyard Kipling: “a palavra constitui a droga mais potente que inventou a humanidade”, e também em se a esperança serve para algo.