Com o galho da manifestaçom que este seis de novembro percorreu as ruas da capital, e na qual se exigia o «resgate» da televisom publica, gostaria de deitar umhas reflexons sobre a CRTVG e sobre a relaçom com os grandes meios de comunicaçom.
O lema da manifestaçom, «CRTVG ao serviço do povo», pretendia denunciar o sequestro do ente por parte da Junta e pôr o foco sobre umha obviedade: que um canal público, sustentado com impostos, deve servir a quem paga esses impostos, e nom a quem os administra. Mas, esse lema vai ser, por muitos avanços que se atinjam, coma pedir o ouro e o mouro. A situaçom que atravessa assenta-se, ante todo, na própria conceiçom e no próprio papel que cumprem os meios de comunicaçom de massas como agentes de propaganda do poder. Já que atuam sob o controlo dumhas dinâmicas, nas que o conceito da liberdade de imprensa é entendido desde umha ótica de dominaçom e coaçom social. Coma um médio para impor medo e repressom e criar umha realidade paralela e ajeitada aos seus interesses. Focada em manter os debates dentro dos lindes das relaçons de dominaçom existentes.
Polo que, baixo o governo das desigualdades capital-povo, a CRTVG (ou qualquer outro canal privado ou estatal) dificilmente estará ao serviço da gente. O único que poderia melhorar, sendo-nos certos, é o máscara da pluralidade e da neutralidade, baixo o que agochar o caráter antipopular que rege a linha editorial e os contidos das grandes empresas de comunicaçom. Porque, em ultima instância, estas sempre respondem a umha liberdade de impressa de altos voos. Caracterizada, como já denunciou Lênin,coma a «liberdade de compra que os capitalistas tenhem sobre a imprensa, quer dizer, a liberdade de servisse da sua riqueza para fabricarem e falsificarem à opiniom publica ao seu antolho».
Embora, mais aló das relaçons de poder que se dam dentro da caixa tonta, temos que ter em conta que o fluxo de toda comunicaçom é bidirecional. Polo tanto o emissor, os meios de comunicaçom encarregados de transmitir a informaçom gerada segundo os interesses dos seus patrocinadores, precisam dum receptor passivo que, além de receber e consumir os seus contidos, também os tolere e os interiorize, pechando desta maneira o ciclo da comunicaçom. O qual nos interpela, tanto coma indivíduos, tanto coma sociedade, ao criar umha relaçom a três bandas, poder-meios-povo, sob a que se assenta a força deste quarto poder. Porque a comunicaçom, e polo tanto o processo de alienaçom que levam a cabo os grandes negócios da informaçom, continua a ser efetivo porque a retroalimentaçom que recebem de parte da sociedade continua a ser positiva e tolerante com os seus hábitos.
Neste sentido, Guy Debord aponta que «o funcionamento dos meios de comunicaçom de massas expressa perfeitamente a estrutura de toda a nossa sociedade, da que estes formam parte». Assim, ao achegarmo-nos à historia dos médios televisivos nas nossas sociedades, observamos como a sua evoluçom vai em consonância com os câmbios econômicos que vam configurando a produçom e a vida dentro do sistema. Aliás, também nos conta as concessons feitas polas classes populares e as dinâmicas de poder que fomos interiorizando à medida que estas fôrom penetrando nos nossos espaços pessoais.
Ao princípio, as televisions fôrom introduzindo-se nas comunidades através das classes altas. As quais a convertérom num objeto fetiche, com o que presumir da sua capacidade aquisitiva, outorgando-lhes a oportunidade de estender os privilégios que ostentavam no exterior à intimidade dos seus quartos, onde se davam cita com outros vizinhos. Para desfrutar daquele invento que lhes fazia chegar as primeiras propagandas telemáticas do capitalismo, da mão dos valores franquistas que a dirigiam. A esta difusiom logo se somárom as tabernas, que encontrárom nela um mecanismo para aumentar ingressos e ganhar sona. Desta forma, a incidência da mentalidade e dos valores do capitalismo fôrom espalhando-se e permeando na psique coletiva, mais aló dos centros produtores.
A seguinte fase desta conquista vem coa bonança econômica. Com os primeiros passos das classes meias que, seguindo o exemplo das classes dinheiradas, empezam a adquirir as suas próprias televisons. Assim o capitalismo, imitando a régua de cada um na sua casa e deus na de todos, vai entrando, paseninho, em todos os fogares. Para, umha vez dentro do âmago familiar, ir-se espalhando e colonizando coa sua luz e as suas premissas as demais estancias do lar. De tal forma que, seguindo o rimo dum incipiente consumismo, e junto ao barateamento dos custos da produçom, esta alienaçom individualiza-se e passa do quarto de estar aos dormitórios.
Neste caminho, de conquista e domínio da intimidade, os televisores fôrom quem de chegar a configurar e impregnar coa sua autoridade a distribuçom interior dos quartos dos nossos fogares. À par, iam gerando umha sensaçom de opulência na gente, que agora podia mercar a tecnologia que até entom só estava ao alcanço dos mais ricos do lugar. Mas também umha maior sensaçom de liberdade, graças ao aumento das opçons televisivas e ao auge de novos produtos de consumo, permitindo-lhes criar pequenos oásis de liberdade nos que, primeiro a família e logo o individuo, esquivárom as autoridades inerentes aos espaços sociais da comunidade e da família.
Secassim, estes párocos telemáticos, também deixárom um ronsel de mudanças sociais criadas a imagem e semelhança dos interesses empresarias que estam trás dos mandos. Destas mudanças cumpre salientar, devido à sua importância e implicaçons, a individualizaçom e a domesticaçom paulatina da sociedade (papel perfeiçoado polos telefones inteligentes), que hoje marcam a apatia que reina na relaçom da sociedade com sigo mesma e com o poder. Configurando umha sociedade de telespectadores que, voltando a Guy Debord, se limitam à «contemplaçom passiva de imagens elegidas por outros, que substituem o viver e determinam os acontecimentos em primeira pessoa».O tipo de sociedade passiva que precisa a democracia representativa, e que está no cerne da atitude coa que se afronta o presente.
Ora bem, o que nunca fixérom, a pesar de que em certos momentos gozáram de certos grados de liberdade, foi acurtar a distancia que existe entre o poder e o povo. Fôrom, pola contra, os encarregados de manter a salvo os segredos de palácio, já que nunca supugérom um mecanismo popular que fora quem de dissipar a espessa nevoa que existe entre o palácio e a praça. Para que as praças chegassem a saber mais o que fai o governo e porque o fai, do que se sabe da rejouba das classes altas ou de sucessos situados a milheiros de quilômetros dos seus rangos de açom. […]