A desobediência civil começou da mao de H.D. Thoreau em 1829, dando título a umha palestra escrita por ele. No verao de 1846 negou-se a pagar os seus impostos, polo que foi detido e encarcerado. O escritor explicou que nom queria colaborar com um Estado que matinha o regime de escravitude e levava a cabo guerras como as que perpetrava na altura contra México.
Mais tarde, outras pessoas seguírom o seu caminho para protestarem contra o que consideravam injusto. Foi o caso de Rosa Parks que, graças à sua afouteza, e depois de sentar num lugar vetado a ela e a todas as pessoas afroamericanas, abriu o caminho dos direitos civis para a sua comunidade. E assim outras tantas realizárom acçons pacíficas de desobediência para porem o foco em aspectos quotidianos que cumpriria modificar para melhorar a vida da gente, normalmente da mais vulnerável.
Agora fam o mesmo as activistas polo clima. Estám-nos a dizer, ‘ouvide, temos um problema muito grande e nom há tempo, cumpre reagir já’. E enquanto tentam avisar-nos do grave perigo que corremos, há quem resposte com o insulto, a rejeiçom, o enfado, e até a detençom. Há gente zangada porque considera que nom é o jeito –qual é o jeito? –, que nom deveriam sair por aí provocando e danando a arte, ainda que nom estragaram nada.
O problema nom é a obra ou o património em si, qualquer tipo de acçom que reivindique costuma sê-lo. Se fossem pessoas a protestarem na Porta do Sol, como aquele 15M, também iria ser um contratempo, porque os comerciantes iriam queixar-se, como já aconteceu. Protestar incomoda porque modifica a ordem estabelecida das cousas, fai abanar o statu quo e as estruturas do sistema no que vivemos.
O problema é o protesto, criminaliza-se quem tem valor e luita polos direitos e o futuro de todas as pessoas. Persegue-se quem protesta porque tantos anos de ditadura, repressom e silêncio deixárom pegada no nosso ADN histórico.
É conveniente conhecermos que as greves que nos trouxérom direitos fôrom duras, muitas delas violentas. Os avanços ao longo da história realizárom-se com momentos tensos e violentos, mas agora todos nos aproveitamos deles sem nos fazermos as perguntas oportunas. A realidade é que há muito poucas acçons de desobediência civil que gozem do aplauso sonoro da cidadania. Porque som molestas, porque o ideal seria que nom ocorressem, mas se acontece é porque precisamos berrar bem alto que este nom é o caminho que devemos seguir, que estamos enganados, e que cumpre tomar medidas urgentes.
Ocorria que o budista Wynn Bruce imolava-se face o prédio do Tribunal Supremo de Estados Unidos para chamar a atençom com ‘um acto de compaixom sobre a crise climática’, relatou umha das suas amigas depois do seu passamento. Nem houvo polémica, nem acaparou nenhuma última hora de nenhum meio. Cabe perguntar-se sem prejuízos e com espírito crítico se vale mais um quadro nom danado que a vida dumha pessoa à que quase nom se emprestou atençom. Precisamente por isso, porque nesta sociedade capitalista semelha importar-nos mais o material do que o humano, por nom falarmos do mundo animal e vegetal, há activistas que optárom por levar a cabo este tipo de acçons controvertidas, mas das que os meios si se fam eco.
Há gente que diz, desde a sua completa inacçom, que estas moças devessem protestar contra petroleiras, bancos, aeroportos. Pois bem, também o fixérom. Há quem diga que estas activistas estragárom obras de arte, algo que é completamente falso, apenas utilizárom um espaço mediático para protestarem. Algumhas pessoas sabem-no, e mesmo assim, seguem a disparar contra quem se mexe e tenciona mudar as cousas.
Em paralelo, produziu-se a detençom de dous jornalistas, umha delas colaboradora de ‘El Salto’, por cobrirem a acçom pacífica. Como diz o editorial do meio, ‘resulta inadmissível por atacar a liberdade de informaçom que recebe a cidadania, e a pluralidade das mensagens que transferem os meios de comunicaçom. Se nom existe o exercício do direito à liberdade de informaçom, simplesmente nom existe a democracia. Se nom podemos inteirar-nos do que acontece, gostarmos ou nom, criticável ou nom, nom podemos ser cidadania bem informada, e portanto livre.’
Parece que nos manca mais este tipo de acçons que as consequências da mudança climática. Os actos de desobediência civil nunca gozárom da aprovaçom da cidadania na sua maior parte, mas se nom fosse por eles nom teríamos avançado em direitos e liberdades. É mais provável que em Irám muitas pessoas nom sejam partidárias do curte do cabelo das mulheres ou de tirar o hiyab como sinal de protesto, mas som actos precisos para conquistar a liberdade que merecem. Também som os que estas afoutas activistas nos estám querendo dizer a berros, só que muito poucas pessoas se atrevem a escuitar sem prejuízos.
Há quem diga, e nom lhe falta razom, que este tipo de acçons generam rechaço na maioria da populaçom, mas cumpre perguntarmo-nos porque. Por que nos preocupa mais que se deite um sumo de tomate a um vidro sem danar um quadro, antes do que o falecimento de milhares de pessoas nas vagas de calor, ou os milheiros de hectares calcinadas neste verao. Umha vez que comprometemos os 1,5º C de aumento de temperatura, e imos caminho dos 4º C de aumento a finais deste século, cabe perguntar-se se realmente estamos a destinar o nosso enfado cara o lugar indicado.
Quando a espécie humana se extinguir, algo do que alertam os científicos que vai ocorrer se seguimos a ignorar a urgência climática, já nom haverá mais quadros que observar nem museus que visitar, porque já nom vai ficar nada, e nom será precisamente porque as activistas que se colavam a uns quadros nom o advertiram. É precisamente esse choque mental de ver umha formosa obra a carom de pessoas que mostram o horror o que nos provoca umha incomodidade, mas podemos aproveitar essa angústia para realizar-nos as perguntas pertinentes e tomar partido. Vai-nos a vida nisso.
*Publicado originalmente em El Salto. Traduçom de Galiza Livre.