As sanções do Ocidente eram uma «guerra económica e financeira total» contra a Rússia visando «colapsar a sua economia», como disse o ministro francês da Economia, Le Maire (Reuters, 1.3.22). Mas estão a transformar-se no suicídio assistido das economias da União Europeia, a que alguns já chamam UEtanásia.
A revista alemã Spiegel (14.9.22) diz que «mais de 90% das empresas vêem o aumento dos preços da energia e matérias primas como um desafio forte ou mesmo existencial. […] A questão não reside em saber se virá uma crise. A questão está em saber quão má será e quanto tempo durará». Mas se as sanções da UE são um desastre para as suas economias, há quem ganhe. O Wall Street Journal (21.9.22) escreve: «Há um grande vencedor da crise energética na Europa: a economia dos EUA. […] Golpeadas pelo disparo dos preços do gás, empresas da Europa […] estão a transferir as suas operações para os EUA, atraídas por preços energéticos mais estáveis e um apoio governamental musculado. Enquanto […] alguns economistas advertem para o que pode ser uma nova era de desindustrialização [na Europa…] o terreno de jogo está cada vez mais enviesado em favor dos EUA».
Bem pode queixar-se o ministro da Economia alemão dos preços de gás «astronómicos» cobrados pelos «países amigos da Alemanha» com os EUA à cabeça, ou Le Maire queixar-se de os EUA venderem o seu GNL a «quatro vezes o preço que cobram» a empresas dos EUA e dizer que «não é aceitável que permitamos que o conflito na Ucrânia se salde por uma dominação económica americana e um enfraquecimento europeu» (bfmtv.com, 11.10.22). A verdade é que os dirigentes da UE e a sua incondicional subordinação aos EUA são responsáveis pelo desastre em curso.
Os gasodutos Nord Stream (NS) permitiam o fornecimento de energia barata à UE. Foram desde sempre objecto duma intensa hostilidade dos EUA. A sua sabotagem visa impedir que a Alemanha e UE tenham autonomia. O MNE Blinken afirmou (state.gov, 1.10.22) que a sabotagem do gasoduto, encomendado e pago pela Alemanha, é «uma tremenda oportunidade. Uma tremenda oportunidade para de uma vez por todas remover a dependência da energia russa». Se fosse franco, acrescentaria: «e impôr a dependência da energia dos EUA». A subserviência da UE fica patente no silêncio que se sobrepõe à exigência do apuramento da verdade sobre um acto de guerra contra a Alemanha e a UE. Nem se fala do desastre ecológico. Calam-se porque sabem a verdade. Verdade expressa no tweet do ex-MNE polaco Sikorski dizendo «Obrigado, EUA».
Se alguém se espanta com este tratamento entre aliados, ou a traição aos interesses nacionais dos dirigentes da UE, tem apenas de recordar como a UE, sob o comando do português Durão Barroso, tratou Portugal e Grécia na crise do euro de 2011. Os povos sugados até ao tutano, em prol da banca onde Durão tem hoje lugar de destaque. É assim também na relação entre EUA e UE. Sob o capitalismo não há solidariedade. Há apenas relações de poder assentes na força. Biden, na introdução à sua nova Estratégia de Segurança Nacional (12.10.22), exalta a «liderança» dos EUA e «o regresso rápido de empregos de manufactura aos Estados Unidos». Remata : «Por todo o mundo, as nações estão de novo a constatar que nunca é uma boa aposta apostar contra os Estados Unidos da América». Faz lembrar aqueles filmes onde a mafia esmagava as vítimas para os convencer que precisam de protecção.