Ante os sinais de alarme que se acendem em cada vez mais ámbitos pola profundidade da crise ambiental e social em todo o Planeta, irrompem vozes que questionam as análises mais cruas, e ponhem em causa que nos acheguemos a um período histórico de fim de linha. Recentemente, com motivo dos 50 anos da sua publicaçom, o informe ‘Os limites do crescimento’ foi posto em causa. Achegamos aos nossos leitores e leitoras um interessante fio sobre esta controvérsia.

1. Dize-se muito do informe de ‘Os limites do crescimento’ que ‘se enganárom nas suas prediçons’. Por exemplo, Savater recentemente num artigo negacionista em ‘El País’. Tem algum fundamento esta crítica?

2. Comecemos por recordar que a obra que nos ocupa é um informe publicado em 1972 por encargo do Clube de Roma, a partir dum trabalho do grupo de Dinámica de Sistemas do MIT, liderado por Donella e Dennis Meadows.

3. O objectivo era utilizar umha nova disciplina, a Dinámica de Sistemas, para modelar distintos cenários globais (desde o ano 1900 ao 2100), a partir de variáveis demográficas, de produçom alimentária e industrial, de utilizaçom de recursos e geraçom de refugalho.

4. Os autores explicitamente assinalavam no informe que o seu objectivo nom era predizer o futuro, mas desenvolver umha ferramenta para entender a relaçom entre estas variáveis (populaçom, serviços, recursos…) e compreender os mecanismos que limitavam o crescimento.

5. Isto é bem doado de ser comprovado: os autores utilizárom o modelo World3 para criarem cenários a partir de várias condiçons e supostos iniciais. Em total, os autores publicárom até SETE CENÁRIOS, e o mais conhecido deles é o chamado ‘cenário estándar’.

6. Alguns destes cenários alternativos eram claramente impossíveis no mundo real, como aqueles que partiam de ‘recursos infinitos’, ou assumiam um ‘controlo de natalidade perfeito’. Porque o objectivo nom era predizer o futuro, mas entender os limites planetários ao crescimento.

7. Por certo que em todos os cenários com ‘recursos finitos’ chegava-se a umha situaçom de colapso se nom se tomavam medidas adicionais de limitaçom do crescimento económico, e/ou de controlo da natalidade. E que, na realidade, as reservas conhecidas de qualquer recurso nom importam tanto se a sua utilizaçom medra exponencialmente, já que o único que fam é mover as datas uns poucos anos. Isso é cortesia do (tam difícil de entender polo cérebro humano) crescimento composto.

8. Outro grande objectivo (capítulo 5) era entender que condiçons cumpriam para conseguir um cenário de equilíbrio em que SE EVITASSE um colapso populacional, e a um tempo se conseguisse um mínimo de material e bem estar global. Estudárom até 5 cenários diferentes adicionais.

9. E do mesmo jeito que estudárom vários cenários com o modelo World3, também plantejárom cenários alternativos ao estudarem a utilizaçom dos recursos. Por exemplo, para a exploraçom de Cromo, considerárom um cenário ‘estándar’ e outro com o ‘duplo de reservas conhecidas’.

10. E é que os autores em todo momento eram muito cientes dos limites dos seus próprios modelos e dados de partida, como reconhecem na página 94.

11. Ainda mais, os autores rejeitavam um determinismo materialista ‘forte’. Na página 87, afirmam que ‘nom é possível predizer com exactitude que limite se vai acadar primeiro nem quais serám as suas consequências, já que há muitas respostas concebíveis e imprevisíveis da humanidade a tal situaçom’.

12. Mais adiante, também reconheciam que os dados iniciais de reservas de recursos materiais ou de geraçom de refugalho eram estimaçons (as melhores disponíveis), e também que existiam incertidumes em algumhas das relaçons causais nas que se baseava o modelo.

13. Outro exemplo: reconheciam desconhecer o efeito real do incremento da poluiçom global na esperança de vida. É por isso que empregavam umha estratégia de ‘best guess’ para quantificarem o seu impacto. (Ver página 119)

14. E é que os autores advertiam (na página 121) que a utilidade do informe era devida mais ao reconhecimento de TENDÊNCIAS E RELAÇONS CAUSAIS que aos próprios números do modelo, que por definiçom eram meras estimaçons e ademais tinham muito pouco efeito nos resultados.

15. Eram os autores do informe contrários ao desenvolvimento tecnológico? Nom, de feito tivérom em conta as possíveis melhoras tecnológicas. Isso si, os resultados demonstrárom que por si só ditas melhoras nom iam ser abondo para evitarem umha situaçom de colapso. (Página 177)

16. Por outra parte, a pesar de serem riscados de agoireiros malthusianos e catastrofistas, a mensagem do Informe era optimista e de esperança, como podemos ver na página 175 e seguintes.

17. Enganárom-se logo as prediçons de ‘Os limites do crescimento’? Nom, nom se enganárom, desde que nom havia tais prediçons. Já, mas desviou-se a realidade desses cenários? Pois também nom.

18. Cada umha das revisons do informe postas ao dia com dados actualizados, bem polos próprios autores (em 2002), bem por outros grupos, foi confirmando as tendências do cenário estándar. Paradigmático é o caso das gráficas obtidas por Graham Turner em 2014.

19. O jornal ‘The Guardian’, em 2014, intitulava: ‘Os limites do crescimento’ tinha razom. Um novo estudo demonsta que nos achegamos ao colapso’.

20. E mais recentemente, a revisom de 2021 de Gaya Herrington também confirmou a validez das tendências observadas no modelo estándar ou ‘Business As Usual’.

21. Obviamente, os cenários chegavam até 2100, assim que até entom nom poderemos saber se as advertências do informe Meadows tinham algum fundamento (e é de esperar que o modelo NOM funcione tam bem passados certos pontos de inflexom), MAS…

23…dizer a estas alturas que ‘Os limites do crescimento’ se enganárom, apenas pode ser devido a ignoráncia ou má fe (ou a ambas).

* Tomado da conta @limites1972. Traduçom do Galiza Livre.