Nesta semana que andamos, entre o 17 e o 25 de setembro, a Fundaçom ‘Fragas do Mandeo’ organiza a IX Semana de Custódia do Território nas Marinhas; após um parom de anos motivado pola pandemia, que condicionou também a esta entidade, como ao conjunto do movimento social, volvem jornadas de acçom e formaçom que situam no centro um conceito nom demasiado conhecido: ‘custódia do território’. De que se trata? Qual é o seu potencial? Como nos ajuda a navegar em tempos de crise climática e social? Tentaremos conhecer um bocado melhor esta interessante dinámica colectiva, que também floresce na Galiza.
A vila de Betanços acolherá esta semana umha eco-regata que inclui recolha de lixo no rio Mandeo, umha limpeza do curso fluvial que se enquadra no ‘Projecto Rios’, e umha palestra sobre a importáncia do bosque e das turbeiras. Com a legenda ‘A natureza marinhá diante dum futuro incerto’, a Fundaçom Fragas do Mandeo quer pôr o seu grauzinho de areia nestes tempos convulsos, com as preocupaçons ambientais situadas em primeira linha. A ideia da custódia do território move a sua acçom.
Custódia do território: as origens
A finais do século XIX, um paisagista norteamericano, Charles Eliot, formula pola vez primeira na história de ocidente a ideia da custódia do território. A intençom é fomentar dinámicas conservacionistas em regime de cooperaçom social por parte dos proprietários, e em certa medida, ‘deixar que a natureza faga o seu trabalho.’ Os tempos do primeiro industrialismo estavam a arrasar porçons importantes de terra americana, e abrolhavam as mais incipientes preocupaçons ecológicas.
Anos mais tarde, um importante pensador e activista, Aldo Leopold, avançou na mesa estratégia. Filósofo, naturalista, cientista e ecologista, professor na universidade de Wisconsin, e apaixonado polo mundo florestal, Leopold acunhou a expressom ‘ética da terra’; esta entendia a acçom moral como aquela que nom perturba o futuro da biosfera; complementada com a sentença que titula o capítulo de um dos seus livros, ‘Pensar como umha montanha’, o pensador fazia um chamado a reinserir-nos na rede de relaçons múltiplas que constitui a natureza. A ferramenta para tal cousa seria ampliar o espaço de territórios custodiados por pessoas, entidades associativas ou estatais, e ensaiar neles formas de regeneraçom em que o económico nom alterasse o curso natural.
A Galiza, vanguardista na custódia
Como em todo o que diz respeito às luitas iniciativas ambientalistas, a Galiza foi sempre um fértil território de experimentaçom em defesa da Terra. A Associaçom Cultural e Ecológica Ridimoas, na comarca do Ribeiro, inaugurou esta modalidade de intervençom á quase 35 anos, convertendo-se num referente internacional.
O projecto Ridimoas, o primeiro dumha lista mais ampla, assumiu desde o início a filosofia da custódia: esta entende-se como umha série de estratégias que se encaminham a preservar valores naturais, culturais e paisagísticos a partir do adquisiçom de terrenos, ou bem do acordo voluntário entre proprietários e entidades de custódia; a ideia de fundo que move esta proposta é imitar ao máximo os processos de restauraçom ecológica e mantimento do meio que a mesma natureza acomete sem intervençom humana.
As origens do projecto estám bem atrás, em plena Reforma política, e em tempos de eclossom dos movimentos populares. Em 1977, e nos alvores do ecologismo organizado, o professor Rodríguez Fernández ‘Oitabén’ fundava o colectivo ‘Aula Verde’, centrado na recuperaçom de fauna autóctone, e muito preocupado com a proliferaçom dos primeiros lumes florestais. Convencidos na entidade de que possuir território era a melhor forma de o defender, desenvolveu-se a ideia de custódia como chave de intervençom. Em 1988, com o dinheiro do prémio do Ano Europeu do Meio Ambiente, funda-se a associaçom que hoje conhecemos, comprando território entre Bande e Leiro, em plena rota dos arrieiros, e a médio caminho entre a Pena Corneira e a Serra do Faro. A recuperaçom do bosque autóctone e a fauna, as actividades restauradoras e didácticas, o contínuo enriquecimento da repovoaçom com espécies variadas, fixérom de Ridimoas um dos exemplos melhor conhecidos de custódia.
Uns anos depois, em 1992, a Sociedade Galega de História Natural seguia os seus passos, assinando um acordo de custódia da Lagoa de Sobrado com o convento, e realizando no lugar labores de conservaçom científica e divulgaçom ambiental. Para tal fim, a SGHN instalou um observatório ornitológico nas ribeiras, e repovoou parcelas com espécies autóctones. Em 2010, a gestom deste espaço passou à Fundaçom Fragas do Mandeo.
Iniciativas diversas
Como tantas vezes acontece, a acçom da sociedade civil impom novos enquadramentos legais, e assim, há quinze anos, aprova-se a Lei 42/2007 do Património Natural da Biodiversidade, que pola primeira vez incluía no Reino de Espanha a figura da custódia do território. Na Galiza, multiplicam-se as entidades rumadas a tal fim, e em 2015, após três anos de trabalho coordinado de maneira informal, nasce a Rede Galega de Custódia do Território: está formada pola Associaçom Galega de Custódia do Território, ADEGA, Fundaçom Fragas do Mandeo, Quercus Sonora, e a Associaçom pola Conservaçom do Ecossistema Florestal Galego, e Betula.
Os projectos som tam variados como as entidades envolvidas, mas todos tenhem em comum a procura dum regime mancomunado entre colectivos e proprietárias, procurando a utilidade social -além da económica- das parcelas geridas. A AGCT, por exemplo, trabalha na restauraçom de prados em cooperaçom com gadeiras, ou na activaçom de reservas de flora onde habitam espécies protegidas; Bétula-Associaçom para a Custódia do Bosque Atlántico, nascida em 2013, tem lançado iniciativas de deseucaliptizaçom das Fragas do Eume, onde gere parcelas.